O Temporal e o Espiritual na Sociedade

bento-e-presidente            Diác. José Victorino de Andrade, EP 

 

 

            Seria um erro pensarmos que a esfera temporal e a espiritual se redundam numa só, sobretudo pelos diferentes domínios que envolvem o Estado e a Religião, conforme afirmou o Papa Bento XVI, na sua viagem à França:

 

Parece-me evidente que hoje a laicidade por si mesma não está em contradição com a fé. Aliás, diria que é um fruto da fé, porque a fé cristã desde o início era uma religião universal, portanto, não identificável com um Estado, uma religião presente em todos os Estados e diferente dos Estados. Para os cristãos foi sempre claro que a religião e a fé não estão na esfera política, mas colocam-se noutra esfera da vida humana… A política, o Estado não é uma religião mas uma realidade profana com uma missão específica.[1]

 

            Várias vezes ele se referiu à sã laicidade, quer na visita feita aos EUA quer na visita à França; E chegou mesmo a advertir, ainda que: “onde a política quer ser redenção, ela promete demasiado. Onde pretende fazer a obra de Deus, não se torna divina, mas demoníaca”.[2] Não quer isto dizer que o Estado não tenha um papel na sacralização da sociedade e que esse papel pertença exclusivamente à Igreja. “Ambas as realidades devem estar abertas uma à outra”.[3]

            De acordo com José Ferrater Mora,

 

Aristóteles foi o primeiro a afirmar que a sociedade organizada num Estado tem de proporcionar a cada um dos membros o necessário para o seu bem-estar e felicidade como cidadãos. […] Foi, contudo, S. Tomás que o esclareceu amplamente (SUMA TEOLÓGICA), ao afirmar que a sociedade humana como tal tem fins próprios que são “fins naturais”, que há que atender e realizar. Os fins espirituais e o bem supremo não são incompatíveis com o bem comum da sociedade como tal; pertencem a outra ordem. Há que estabelecer como se relacionam as duas ordens mas sem destruir uma delas.[4]

 

            Ora, cabe ao Estado a assistência aos fins naturais da sociedade humana, enquanto os fins sobrenaturais parecem pertencer a outra ordem. Porém, elas relacionam-se, não se devem repelir, pois possuem ambos um fim sacral, conforme esboçou Corrêa de Oliveira:

 

O fim da sociedade e do Estado é a vida virtuosa em comum. Ora, as virtudes que o homem é chamado a praticar são as virtudes cristãs, e destas a primeira é o amor a Deus. A sociedade e o Estado têm, pois, um fim sacral. Por certo é à Igreja que pertencem os meios próprios para promover a salvação das almas. Mas a sociedade e o Estado têm meios instrumentais para o mesmo fim, isto é, meios que, movidos por um agente mais alto, produzem efeito superior a si mesmos.[5]

           

            A Igreja, reconhecendo todas as instituições que de alguma forma a auxiliam e se ordenam ao mesmo fim, procura a harmonia e aceita de braços estendidos a cooperação, para bem das almas, conforme afirmou João Paulo II:

 

Ao desempenhar a própria missão, de ordem espiritual, e sempre desejosa de manter o maior respeito pelas necessárias e legítimas instituições de ordem temporal, a Igreja nunca deixa de apreciar e alegrar-se com tudo aquilo que favorece a vivência da verdade integral do homem; não pode não congratular-se com os esforços que se envidam para tutelar e defender os direitos e liberdades fundamentais de cada pessoa humana; e rejubila e agradece ao Senhor da vida e da história, quando planificações e programas – de caráter político, econômico, social e cultural – são inspirados no respeito e amor da dignidade do homem, em demanda da “civilização do amor”.[6]

 

            E se este entendimento por vezes não existiu, não foi por desdém da Santa Sé em trabalhar por soluções conjuntas, mas porque estariam envolvidas questões que custariam ao Catolicismo uma transigência que jamais poderia aceitar, por serem contrárias à sua missão sobrenatural ou aos seus princípios mais básicos.

 

 

VICTORINO DE ANDRADE, José. A Igreja e o Verdadeiro Progresso: Sacralização e Pleno Desenvolvimento no mundo contemporâneo. 17 f. Trabalho (Mestrado em Teologia Moral) – UPB, 2009. p. 7 e 8.
 

[1] Entrevista concedida pelo Santo Padre aos jornalistas durante o voo para a França, 12 de Setembro de 2008. Presente em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2008/september/documents/ hf_ben-xvi_spe_20080912_francia-interview_po.html. Último acesso em 23/02/2009

[2] Ratzinger, Joseph. Fé, Verdade, Tolerância. Traduções UCEDITORA: Lisboa, 2007. P. 105-106

[3] Idem.

[4] FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia. Tradução de António José MASSANO; Manuel PALMEIRIM. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1978. p. 30-31.

[5] RCR, op. cit. 2. C

[6] Discurso do Papa João Paulo II aos Membros do Governo Português. 12 de Maio 1982

 

 

 

O Natal não é uma mera recordação histórica

uma grande alegria_dIrmã Clara Isabel Morazzani Arráiz, EP

A festa de Natal encerra um significado litúrgico extraordinário: embora o Santo Sacrifício seja oferecido todos os dias nos altares de tantas igrejas espalhadas pelo mundo, ele se reveste de uma unção e densidade simbólicas particulares na noite de 24 para 25 de dezembro.

Não se trata apenas da recordação de fatos históricos envoltos nas brumas do passado, mas de uma realidade mais profunda do que aquela que captamos através dos sentidos. A Liturgia do Natal traz um conjunto de graças vinculadas a esse mistério, as quais se derramam sobre nossos corações quando o celebramos com fervor sincero.

“O ano litúrgico – ensinava o Sumo Pontífice Pio XII – que a piedade da Igreja alimenta e acompanha, não é uma fria e inerte representação de fatos que pertencem ao passado, ou uma simples e nua evocação da realidade de outros tempos. É, antes, o próprio Cristo, que vive sempre na sua Igreja e que prossegue o caminho de imensa misericórdia por Ele iniciado, piedosamente, nesta vida mortal, quando passou fazendo o bem, com o fim de colocar as almas humanas em contato com os Seus mistérios e fazê-las viver por eles, mistérios que estão perenemente presentes e operantes, não de modo incerto e nebuloso, de que falam alguns escritores recentes, mas porque, como nos ensina a doutrina católica e segundo a sentença dos doutores da Igreja, são exemplos ilustres de perfeição cristã e fonte de graça divina pelos méritos e intercessão do Redentor”.1

Hoje não vemos, como os pastores, o Divino Menino deitado sobre as palhas, mas contemplamo-Lo, com os olhos da Fé, na Hóstia imaculada que o sacerdote apresenta para a adoração dos fiéis; não ouvimos as vozes dos anjos fazendo ecoar o “Glória!” pelas vastidões dos céus, mas chega até nós o apelo da Igreja, convidando seus filhos: “Venite gentes et adorate!”.

Se grande foi a Fé daqueles homens simples ao acreditarem que, naquele pequenino vindo à terra em tal despojamento, e aquecido tão-só pelo bafo dos animais, ocultava-Se o próprio Deus, a nossa Fé poderá alcançar grau mais elevado se considerarmos esse mesmo Deus escondido na Eucaristia. E poderemos, nós também, ser contados entre os homens que o Senhor chamou de bem-aventurados: “Felizes aqueles que crêem sem ter visto!” (Jo 20, 29).

Jesus, a Beleza suprema, vela-Se em vão aos olhos de quem tem Fé: apesar da infância à qual O reduziu seu amor, seu poder se manifesta nesse dia, e só Ele – quer sob a figura de frágil criança, quer sob as espécies eucarísticas – derrota os infernos e resgata a humanidade da vil escravidão do pecado.

Quantas graças de alegria e consolação concedidas por ocasião do Natal! A cada ano, em todas as épocas da Era Cristã, esta festa máxima abre uma “clareira” alegre e luminosa no curso normal, por vezes tão cheio de sofrimentos e angústias, da vida de todos os dias. Dominados pelas preocupações concretas ou pela ilusão deste mundo passageiro, os homens esquecem-se facilmente da eternidade que os espera e olham para esta terra como para seu fim último.

Todos se afanam em busca da felicidade; entretanto, só uma é a verdadeira, e o Divino Menino vem para apontar o único caminho que a ela conduz: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6). E nessa noite silenciosa, todos param diante da gruta de Belém, gozando, ainda que por alguns instantes, dessa alegria envolvente, trazida pelo Redentor. “Ali, os maus cessam seus furores, ali, repousam os exaustos de forças, ali, os prisioneiros estão tranqüilos, já não mais ouvem a voz do exator. Ali, juntos, os pequenos e os grandes se encontram, o escravo ali está livre do jugo do seu senhor” (Jó 3, 17-19).

1 Pio XII, Mediator Dei, n. 150.

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2008, n. 84, p. 20 a 23)

Virtud y Felicidad

Pe. Juan Francisco Ovalle Pinzón, EPsta-teresinha

            

 

            Por encima de las aspiraciones humanas existe un fin esencial, ontológico en el orden del ser humano e intrínseco a la vida, sea cual sea esta; este es el fin último objetivo del ser en el cual se encuentra la satisfacción a los deseos humanos y en el cual no queda ninguno de ellos por fuera, que en suma solo puede ser Dios. A pesar de existir este fin es el fin perfecto de los hombres, estos en muchas ocasiones procuran un fin diferente que a pesar de no ser perfecto, ni sobrenatural, ni último (objetivamente hablando) es considerado por muchos como el fin último de sus vidas y en este aspecto adquiere el título de fin último subjetivo, pues depende de la intención que tenga el sujeto agente a su respecto y del bien que la persona tome para su vida. Del fin que el hombre escoja para su vida dependerá su forma de existencia, debido a que el fin especifica los actos humanos[1] y les imprime moralidad, por lo menos subjetiva, a la existencia individual.

            Objetivamente hablando, el cumplimiento de la finalidad está intrínsecamente ligado a la práctica de las virtudes e inherente en la moralidad de los actos humanos, no apenas desde una perspectiva aristotélica, más aún, desde una que sea de mayor alcance en la perfección de la naturaleza del hombre. Pues la práctica de la virtud debe generar en el ser humano sensaciones de bienestar que se actualizan, por lo menos por recuerdos, a lo largo de la vida.

            A pesar de los beneficios que se presentan en el hombre virtuoso no son pocos los que volcándose únicamente hacia sí mismos, subjetivando el fin último, descartan y rechazan toda forma de virtud, estableciéndola como hostil en la procura de la felicidad. “Del conflicto entre la virtud y la felicidad surgen los distintos sistemas de la Filosofía moral”[2]  y por ende las diferentes concepciones de felicidad; estas concepciones, motivadas e influenciadas por un contexto determinado, han variado a lo largo de los siglos junto con el progreso de la sociedad humana.


[1] S.Th. I-II  c1  a3

[2] ENCICLOPEDIA UNIVERSAL Ilustrada Europa-América. Madrid: Espasa-Calpe, 1988.  p. 579.  Tomo XXIII. 

Os professores e o ensino: Aportes da Igreja

aulaDom J. B. Chautard. A ALMA DE TODO APOSTOLADO. São Paulo: Editora coleção, p. 90

 

O professor sem vida interior julga ter cumprido o dever, conservando‑se exclusivamente dentro das balizas de um programa de exame. Se tivesse vida interior, uma frase que lhe escapasse dos lábios e do coração, uma comoção que se lhe espelhasse no rosto, um gesto expressivo, que digo? só a maneira de fazer o sinal da cruz, de dizer uma oração antes ou depois de uma aula, embora fosse aula de matemática, poderiam exercer maior eficácia nos alunos que um sermão.

 

Sto. Agostinho De Magistro (Do Mestre) Cap. VIII

 Todo homem que aprecie as coisas pelo seu justo lado e valor, a um charlatão que dissesse: “Ensino para falar”, responderia: “Homem, e por que antes não falas para ensinar?” […] as palavras, pois, existem para que as usemos, e as usamos para ensinar. Logo, é melhor ensinar que falar, e, assim, é melhor o discurso que a palavra. Muito melhor que as palavras é, portanto, a doutrina.

 

 

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI 13 dezembro 2007

[…] deve ser dedicada especial atenção às jovens gerações, mostrando-lhes que elas são a primeira riqueza de um país; a sua educação integral é uma necessidade primordial. De facto, não é suficiente uma formação técnica e científica para fazer deles homens e mulheres responsáveis na sua família e em todos os níveis da sociedade. Para esta finalidade, é preciso privilegiar uma educação nos valores humanos e morais, que permita que cada jovem tenha confiança em si próprio, confie no futuro, tenha a preocupação pelos seus irmãos e irmãs em humanidade e queira assumir o seu lugar no crescimento da nação, com um sentido cada vez mais profundo do próximo.

Messa con i Membri della Commissione Teologica Internazionale – Benedetto XVI

SANTA MESSA CON I MEMBRI DELLA COMMISSIONE TEOLOGICA INTERNAZIONALE , 01.12.2009

santo-padre           

            Cari fratelli e sorelle,

             […]

            I fatti essenziali della vita di Gesù non appartengono solo al passato, ma sono presenti, in modi diversi, in tutte le generazioni. E così anche nel nostro tempo, negli ultimi duecento anni, osserviamo la stessa cosa. Ci sono grandi dotti, grandi specialisti, grandi teologi, maestri della fede, che ci hanno insegnato molte cose. Sono penetrati nei dettagli della Sacra Scrittura, della storia della salvezza, ma non hanno potuto vedere il mistero stesso, il vero nucleo: che Gesù era realmente Figlio di Dio, che il Dio trinitario entra nella nostra storia, in un determinato momento storico, in un uomo come noi. L’essenziale è rimasto nascosto! Si potrebbero facilmente citare grandi nomi della storia della teologia di questi duecento anni, dai quali abbiamo imparato molto, ma non è stato aperto agli occhi del loro cuore il mistero.

            Invece, ci sono anche nel nostro tempo i piccoli che hanno conosciuto tale mistero. Pensiamo a santa Bernardette Soubirous; a santa Teresa di Lisieux, con la sua nuova lettura della Bibbia “non scientifica”, ma che entra nel cuore della Sacra Scrittura; fino ai santi e beati del nostro tempo: santa Giuseppina Bakhita, la beata Teresa di Calcutta, san Damiano de Veuster. Potremmo elencarne tanti!

            Ma da tutto ciò nasce la questione: perché è così? È il cristianesimo la religione degli stolti, delle persone senza cultura, non formate? Si spegne la fede dove si risveglia la ragione? Come si spiega questo? Forse dobbiamo ancora una volta guardare alla storia. Rimane vero quanto Gesù ha detto, quanto si può osservare in tutti i secoli. E tuttavia c’è una “specie” di piccoli che sono anche dotti. Sotto la croce sta la Madonna, l’umile ancella di Dio e la grande donna illuminata da Dio. E sta anche Giovanni, pescatore del lago di Galilea, ma è quel Giovanni che sarà chiamato giustamente dalla Chiesa “il teologo”, perché realmente ha saputo vedere il mistero di Dio e annunciarlo: con l’occhio dell’aquila è entrato nella luce inaccessibile del mistero divino. Così, anche dopo la sua risurrezione, il Signore, sulla strada verso Damasco, tocca il cuore di Saulo, che è uno dei dotti che non vedono. Egli stesso, nella prima Lettera a Timoteo, si definisce “ignorante” in quel tempo, nonostante la sua scienza. Ma il Risorto lo tocca: diventa cieco e, al tempo stesso, diventa realmente vedente, comincia a vedere. Il grande dotto diviene un piccolo, e proprio per questo vede la stoltezza di Dio che è saggezza, sapienza più grande di tutte le saggezze umane.

            Potremmo continuare a leggere tutta la storia in questo modo. Solo un’osservazione ancora. Questi dotti sapienti, sofòi e sinetòi, nella prima lettura, appaiono in un altro modo. Qui sofia e sínesis sono doni dello Spirito Santo che riposano sul Messia, su Cristo. Che cosa significa? Emerge che c’è un duplice uso della ragione e un duplice modo di essere sapienti o piccoli. C’è un modo di usare la ragione che è autonomo, che si pone sopra Dio, in tutta la gamma delle scienze, cominciando da quelle naturali, dove un metodo adatto per la ricerca della materia viene universalizzato: in questo metodo Dio non entra, quindi Dio non c’è. E così, infine, anche in teologia: si pesca nelle acque della Sacra Scrittura con una rete che permette di prendere solo pesci di una certa misura e quanto va oltre questa misura non entra nella rete e quindi non può esistere. Così il grande mistero di Gesù, del Figlio fattosi uomo, si riduce a un Gesù storico: una figura tragica, un fantasma senza carne e ossa, un uomo che è rimasto nel sepolcro, si è corrotto ed è realmente un morto. Il metodo sa “captare” certi pesci, ma esclude il grande mistero, perché l’uomo si fa egli stesso la misura: ha questa superbia, che nello stesso tempo è una grande stoltezza perché assolutizza certi metodi non adatti alle realtà grandi; entra in questo spirito accademico che abbiamo visto negli scribi, i quali rispondono ai Re magi: non mi tocca; rimango chiuso nella mia esistenza, che non viene toccata. È la specializzazione che vede tutti i dettagli, ma non vede più la totalità.

            E c’è l’altro modo di usare la ragione, di essere sapienti, quello dell’uomo che riconosce chi è; riconosce la propria misura e la grandezza di Dio, aprendosi nell’umiltà alla novità dell’agire di Dio. Così, proprio accettando la propria piccolezza, facendosi piccolo come realmente è, arriva alla verità. In questo modo, anche la ragione può esprimere tutte le sue possibilità, non viene spenta, ma si allarga, diviene più grande. Si tratta di un’altra sofìa e sìnesis, che non esclude dal mistero, ma è proprio comunione con il Signore nel quale riposano sapienza e saggezza, e la loro verità.

            In questo momento vogliamo pregare perché il Signore ci dia la vera umiltà. Ci dia la grazia di essere piccoli per poter essere realmente saggi; ci illumini, ci faccia vedere il suo mistero della gioia dello Spirito Santo, ci aiuti a essere veri teologi, che possono annunciare il suo mistero perché toccati nella profondità del proprio cuore, della propria esistenza. Amen.

 

in: http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/24750.php?index=24750&po_date=01.12.2009&lang=po

BOLLETTINO: Sala Stampa della Santa Sede

CARTA AOS PRESBÍTEROS EM DEZEMBRO 2009 – D. Cláudio Hummes

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CARTA AOS PRESBÍTEROS EM DEZEMBRO 2009.

 

Caros Presbíteros,

            Na vida do Presbítero, a oração ocupa necessariamente um lugar central. Não é difícil de entender, porque a oração cultiva a intimidade do discípulo com seu Mestre, Jesus Cristo. Todos sabemos que, ao esvaecer-se a oração, debilita-se a fé e o ministério perde conteúdo e sentido. A consequência existencial para o Presbítero exprime-se em menor alegria e felicidade no ministério quotidiano. É como se o Presbítero, ao seguir os passos de Jesus, lado a lado com tantos outros, perdesse o passo no caminho, ficando sempre mais para trás e mais distante do Mestre, até perdê-Lo de vista no horizonte. A partir de então, caminha sem rumo e vacilante.

            São João Crisóstomo, numa homilia, ao comentar a Primeira Carta de Paulo a Timóteo, adverte sabiamente: “O diabo joga-se contra o pastor […]. Com efeito, se matar as ovelhas o rebanho diminui; ao invés, eliminando o pastor, destruirá o rebanho inteiro”. O comentário faz pensar em muitas situações hodiernas. Crisóstomo admoesta que a diminuição dos pastores faz e fará diminuir sempre mais o número dos fiéis e das comunidades. Sem pastores, nossas comunidades serão destruídas!

            Aqui, porém, desejo, antes de tudo, falar da necessária oração para que, como diria Crisóstomo, os pastores vençam o diabo e não pereçam. Em verdade, sem o alimento essencial da oração, o Presbítero adoece, o discípulo não encontra forças para seguir o Mestre, e assim morre por inanição. Em consequência, seu rebanho se dispersa e morre.

            Realmente, cada Presbítero é, por definição, portador de uma referência essencial à comunidade eclesial. Ele é um discípulo muito especial de Jesus, que o chamou e, pelo sacramento da Ordem, o configurou a Si como Cabeça e Pastor da Igreja. Cristo é o único Pastor, mas quis fazer participar a  Seu ministério os Doze e seus Sucessores, mediante os quais também os Presbíteros, ainda que em grau inferior, são feitos participantes deste sacramento, de tal forma que também eles participem, a seu modo próprio, do ministério de Cristo, Cabeça e Pastor. Isso comporta um laço essencial do Presbítero com a comunidade eclesial. Ele não pode omitir-se no que diz respeito a essa responsabilidade, dado que a comunidade sem pastor se desfaz. A exemplo de Moisés, deve permanecer de braços erguidos ao céu, em oração, para que o povo não pereça.

            Por esta razão, para continuar fiel a Cristo e à comunidade, o Presbítero precisa ser  homem de oração,  homem que vive na intimidade do Senhor. Necessita, além disso, ser confortado pela oração da Igreja e de cada cristão. As ovelhas devem rezar por seu pastor! Mas, quando este se dá conta que sua própria vida de oração enfraquece, é hora de dirigir-se ao Espírito Santo e implorá-Lo com ânimo de pobre. O Espírito reacenderá o fogo em seu coração. Reacenderá a paixão e o encanto para com o Senhor. Este está sempre ali e deseja fazer a ceia com quem Lhe abre a porta.

            É Ano Sacerdotal e, por isso, queremos orar, com perseverança e grande amor, pelos Presbíteros e com os Presbíteros. A propósito, a Congregação para o Clero, cada primeira Quinta Feira do mês, durante o Ano Sacerdotal, às 16 horas, celebra uma Hora eucarístico-mariana, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, para os Sacerdotes e com os Sacerdotes. Conosco vem rezar muita gente, com alegria.

            Caríssimos Presbíteros, aproxima-se o Natal de Jesus Cristo. Faço a todos vós os melhores e mais fraternos votos de Bom Natal e Feliz Ano de 2010. O Menino Deus, no presépio, convida-nos a renovar para com Ele aquela intimidade de amigos e discípulos, a fim de reenviar-nos como Seus anunciadores!

 

Cardeal Dom Cláudio Hummes

Arcebispo Emérito de São Paulo

Prefeito da Congregação para o Clero

 

in: www.clerus.org

 

 

Vida interior e vida ativa mutuamente se reclamam

Dom J. B. Chautard

A ALMA DE TODO

APOSTOLADO

Cap.IV 2ª parte

 

hermannComo o amor de Deus se revela pelos atos da vida interior, assim o amor do próximo se manifesta pelas operações da vida exterior. Portanto, não podendo o amor de Deus separar‑se do amor do próximo, resulta daí que essas duas formas de vida não podem também, de maneira alguma, subsistir uma sem a outra.[1] 20

De igual sorte, diz Suárez, não pode existir estado correta e normalmente ordenado para chegar à perfeição, sem que participe em certa medida da ação e da contemplação.[2]

O ilustre jesuíta limita‑se a comentar o ensinamento de São Tomás. Aqueles que são chamados às obras da vida ativa, diz o Doutor Angélico, erram se julgam que este dever os dispensa da vida contemplativa. Tal dever é um acréscimo desta vida e não lhe diminui a intensidade. Destarte, as duas vidas, longe de se excluir, reclamam‑se, supõem‑se, misturam‑se, completam‑se mutuamente; e, se de qualquer das duas se deve fazer um quinhão mais considerável, é por sem dúvida da vida contemplativa, a mais perfeita e a mais necessária.[3]

A ação, para ser fecunda, carece da contemplação; quando esta atinge certo grau de intensidade, difunde sobre a primeira algum tanto do seu excedente e, por meio dela, a alma vai haurir diretamente no coração de Deus as graças que a ação se encarrega de distribuir.

Por isso é que, fundindo‑se, na alma de um santo, a ação e a contemplação, em harmonia perfeita, ambas dão à vida dele unidade maravilhosa. Tal, por exemplo, São Bernardo, o homem mais contemplativo e ao mesmo tempo mais ativo do seu século, e de quem faz esta admirável pintura um dos seus contemporâneos: a contemplação e a ação harmonizavam‑se nele a ponto tal que este santo a um tempo parecia inteiramente dedicado às obras exteriores e inteiramente absorvido na presença e no amor do seu Deus.[4]

Comentando este texto da Sagrada Escritura: Pone me ut signaculum super cor tuum, ut signaculum super brachium tuum,[5] o Pe. Saint Jure descreve admiravelmente as mútuas relações entre as duas vidas. Vamos resumir as suas reflexões:

O coração significa a vida interior, contemplativa. O braço, a vida exterior, ativa.

O texto sagrado fala do coração e do braço para mostrar que as duas vidas se podem aliar e harmonizar perfeitamente na mesma.

O coração é indicado em primeiro lugar, porque é um órgão sobremaneira mais nobre e necessário que o braço. Da mesma forma, a contemplação é muito mais excelente e mais perfeita e merece muito mais estima que a ação.

Dia e noite, o coração palpita. Um só instante que este órgão essencial parasse, logo a morte sobreviria. O braço, parte apenas integrante do corpo humano, esse somente se move por intervalos. Do mesmo modo, devemos algumas vezes dar tréguas a nossos trabalhos exteriores; mas, ao invés, nunca devemos afrouxar na nossa aplicação às coisas espirituais.

O coração dá vida e força ao braço por meio do sangue que lhe envia e, sem este, o braço se dessecaria. Da mesma forma, a vida contemplativa, vida de união a Deus, graças às luzes e à perpétua assistência que a alma recebe desta intimidade, vivifica as ocupações exteriores; só ela é capaz de lhes comunicar simultaneamente o caráter sobrenatural e a real utilidade. Sem ela, tudo fica enlanguescido, estéril, cheio de imperfeições.

O homem, ai! amiúde separa o que Deus uniu; por isso é que tão rara é essa união perfeita. Demais, para ser realizada, exige ela um conjunto de precauções de freqüente negligenciadas. Nada empreender que exceda as próprias forças. Ver em tudo, habitual mas simplesmente, a vontade de Deus. Não nos metermos em obras senão quando Deus quer, e na medida exata em que lhe apraz ver‑nos consagrados a elas, e somente com o desejo de exercer a caridade. Logo no princípio, oferecer‑lhe nosso trabalho e, no decurso de nossos labores, reanimar amiúde, por meio de pensamentos santos, por meio de ardentes orações jaculatórias, nossa resolução de não trabalhar senão por Ele e para Ele. Em suma, seja qual for a atenção que devamos prestar a nossos trabalhos, conservar‑nos sempre em paz, perfeitamente senhores de nós mesmos. Quanto ao bom êxito, deixá‑lo unicamente nas mãos de Deus e aspirarmos a ver‑nos livres de todos os cuidados apenas para nos reencontrarmos a sós com Jesus Cristo. Tais são os sapientíssimos conselhos dos mestres da vida espiritual para chegarmos a essa união.

Por vezes, as ocupações hão de multiplicar‑se a ponto tal que exijam o dispêndio de todas as nossas energias, sem que, por outro lado, nos possamos desembaraçar do fardo, ou mesmo aligeirá‑lo. A conseqüência poderá ser a privação, por um tempo mais ou menos longo, do gozo da união a Deus, mas essa união somente sofrerá algum dano se nós assim o quisermos. Prolongando‑se este estado, é necessário por tal motivo gemer, sofrer e temer acima de tudo o habituarmo‑nos a ele.

O homem é fraco, inconstante. Se descuida a sua vida espiritual, depressa perde o gosto dela. Absorvido pelas ocupações materiais, acaba por comprazer‑se nelas. Pelo contrário, se o espírito interior manifesta a sua vitalidade latente por meio de suspiros e gemidos, esses lamentos contínuos, como provém de uma ferida que se não fecha mesmo no meio de uma atividade transbordante, constituem o mérito da contemplação sacrificada, ou melhor, a alma realiza essa admirável e fecunda união da vida interior e da vida ativa.

Oprimida por essa sede de vida interior que não logra apagar a seu bel‑prazer, a alma há de voltar com ardor, logo que possa, à vida de oração. Nosso Senhor sempre lhe há de reservar alguns instantes de entretenimento com Ele. Exige, porém, que a alma os não despreze e há de então compensar‑lhe com o fervor a brevidade desses felizes momentos.

Como as vias de Deus se assinalam pela sabedoria e pela bondade! Que maravilhosa direção não dá Ele às almas por meio da vida interior! Conservada no seio da ação e sem embargo generosamente oferecida, essa pena profunda de termos de consagrar tanto tempo às obras de Deus, e tão pouco ao Deus das obras, tem a sua compensação. Graças a ela, desvanecem‑se todos os perigos de dissipação, de amor próprio, de afeições naturais. Essa disposição da alma longe de prejudicar a liberdade do espírito e a atividade, dá‑lhes um caráter mais ponderado. É ela a forma prática do exercício da presença de Deus, porque a alma, na graça do momento presente encontra Jesus vivo, oferecendo‑se‑lhe oculto sob a obra a realizar. Jesus trabalha com ela e ampara‑a. Quantas pessoas, que desempenham cargos, hão de dever a essa pena salutar bem compreendida, a esse desejo sempre sacrificado e sempre vivo de ter mais momentos livres para estar junto do sacrário, e essas comunhões espirituais desde então quase incessantes, hão de dever, repetimos, a fecundidade de sua ação e ao mesmo tempo assim a salvaguarda da sua alma como seus progressos na virtude!

in: CHAUTARD, J. B. A ALMA DE TODO APOSTOLADO. São Paulo: Coleção, 1962.

[1] ) Sicut per contemplationem amandus est Deus, ita per actualem vitam diligendus est proximus, ac per hoc, sic non possumus sine utraque esse vita, sicut et sine utraque dilectione esse nequaquam possumus (S.Isid., Different., Lib. II, XXXIV, N. 135).

 

[2] ) Concedendum ergo est nullum esse posse vitae studium recte institutum ad perfectionem obtinendam, quod non aliquid de actione et de contemplatione participet (Suarez, I De Relig. Tract., 1, I, c. v, n. 5).

[3] ) Cum aliquis a contemplativa vita ad activam vocatur, non fit per modum substractionis, sed per modum additionis (D. Thom., 2, 2.ae, q. 182, a. 1).

[4] ) Interiori quadam, quam ubique ipse circumferebat solitudine fruebatur, totus quodammodo exterius laborabat, et totus interius Deo vacabat (God., Vita S. Bern. 1, I, c. v, et 1, III).

[5] ) Põe‑me como um selo sobre o teu coração, como um selo sobre o teu braço (Cant. 8, 6).


Ceux qui ne croient pas au miracle

cura-bartimeuC’est un fait prouvé par l’expérience de tous les jours et de tous les temps que les miracles les plus avérés, les plus authentiques, miracles qui produisent tout leur effet sur un certain nombre d’âmes, sont, pour d’autres, nuls et non avenus; bien plus se convertissent pour elles en prétextes d’incrédulité.

Ces deux phénomènes absolument contradictoires supposent-ils, dans les uns ou les autres, des états de conscience insolites, anormaux, quelque maladie mentale ou autre, l’absence de quelque faculté naturelle? Nullement: le chrétien qui croit, comme Bossuet, a toute sa raison; l’incrédule, qui nie, comme Voltaire, peut être doué des plus riches facultés : entre le croyant et l’incroyant on ne saurait saisir ni physiologiquement, ni intellectuellement, aucune différence de nature.

Si étrange qu’elle paraisse cette contradiction n’étonne aucun chrétien : car elle a été littéralement prévue, prédite et décrite dans l’Évangile. Le même Sauveur qui a dit : «Si je n’avais pas fait des signes comme personne n’en a fait, il n’y aurait point de péché à refuser de me reconnaître comme fils de Dieu», a dit aussi, avec l’insistance la plus explicite : « Mais maintenant ET ils ont vu mes œuvres ET ils me haïssent moi et mon père » (Joan., xv, 24). Dans la parabole du mauvais riche, nous entendons l’infortuné, du sein des tourments, dire à Abraham:

« Je vous en conjure, mon père, envoyez Lazare dans la maison de mon père; car j’ai cinq frères, et il leur rendra témoignage de la vérité, afin qu’ils ne viennent pas à tomber un jour, eux aussi,, dans ce lieu de tourments. » Et Abraham lui dit : « Ils ont Moïse et les prophètes, qu’ils les écoutent; alors le mauvais riche : Non, ô père Abraham, mais si quelqu’un des morts va les trouver, ils feront pénitence. Non, répond Abraham, s’ils n’écoutent ni Moïse, ni les prophètes, ils ne croiront pas davantage à un mort ressuscité » (Luc, xvi, 27-31).

Ce phénomène d’incrédulité, ainsi prévu et prédit, se réalise en acte dans l’Évangile même. Les Pharisiens voient Lazare ressuscité, et ce miracle, dit l’Évangile, provoque la foi d’un grand nombre. Du fait, certainement miraculeux, qu’Us ont sous les yeux, les Pharisiens concluent- ils pour eux l’obligation de croire? En aucune façon : dans ce fait même ils trouvent la raison décisive qu’ils cherchaient pour mettre à mort celui qui a ressuscité Lazare:

« Que ferons-nous? se disent-ils. Voilà un homme qui fait beaucoup de miracles. Si nous le laissons libre, tout le monde va croire en lui ; et les Romains viendront et c’en sera fait de notre ville et de noire nation. Ils ne pensaient donc plus, depuis ce jour-là, qu’à trouver un moyen de le faire mourir » (Joan., xi, 47-53).

Déjà, plus d’une fois, témoins de miracles éclatants, par exemple de l’expulsion de quelques démons, ils avaient soutenu que ce n’était pas par la vertu de Dieu présente en lui, mais par l’action supérieure du prince des démons lui-même, que Jésus chassait les mauvais esprits, et la réponse péremptoire du Sauveur ne les avait pas convaincus. Enfin, lorsque le plus grand des miracles éclate, quand Jésus est sorti victorieux du tombeau, les pharisiens ne se tiennent pas pour battus. Ils savaient que Jésus avait prédit sa résurrection, et, en présence des affirmations de Madeleine et des Apôtres, leur devoir semblait indique : faire une enquête sérieuse pour savoir si ce fait unique, surnaturel entre tous, mais si formellement attesté, avait quelque fondement dans la réalité. Rien de tout cela : ils ne veulent pas avoir le démenti de ce qu’ils se sont promis, de ce qu’ils ont annoncé, et c’est fort cher, sans compter, pecuniam copiosam, dit S. Matthieu (xxviii, 12), qu’ils paieront les soldats pour répandre le bruit que les disciples de Jésus sont venus la nuit, pour enlever son corps. Résumons ici, pour plus de clarté, tout ce que dit l’Évangile sur les miracles, leur existence, leur nécessité, la foi qui leur est due, l’accueil qu’ils rencontrent parmi les hommes.

I. — Bien qu’au témoignage de Jésus lui-même, l’excellence de sa doctrine suffise à en manifester la divinité aune âme de bonne volonté, cependant le même Jésus nous dit que, s’il n’avait pas fait de miracles, il n’y aurait pas de péché à ne pas croire a sa mission divine.

II — Il y a des miracles extérieurs, authentiques, auxquels le devoir de la foi est attaché, sous peine de salut.

III. — Ce sont ces miracles qui, d’ordinaire, avec laide de la grâce, convertissent ceux qui viennent à la foi.

IV. — Enfin il y en a qui voient ces miracles aussi bien que les premiers, et qui, néanmoins, persévèrent et même s’endurcissent dans leur incrédulité.

Cherchez maintenant les raisons de cette incrédulité. Ces raisons, Notre-Seigneur les indique avec précision dans l’Évangile; on les voit souvent signalées dans de nombreux passages du Nouveau, comme de l’Ancien Testament; tous les philosophes chrétiens, en étudiant, dans l’âme humaine, les procédés de la raison et le mystère de la liberté, s’accordent à montrer toujours l’homme, et jamais Dieu responsable de cette incrédulité qui entraîne la perte des âmes, et s’oppose irrémédiablement au salut. Enfin les faits sont là, innombrables, évidents, quotidiens, qui nous font assister à ce drame si douloureux pour une âme chrétienne : d’autres âmes qui nous sont chères, très richement douées parfois du côté des dons naturels, visitées par les mêmes grâces qui nous ont convertis nous-mêmes, tombant, orgueilleuses et satisfaites d’elles-mêmes, dans le gouffre mortel de l’incrédulité.

L’Évangile n’est pas un traité de philosophie; c’est sans doute, de l’aveu de tous, un trésor de doctrine où, depuis sa promulgation, tout esprit pensant est venu puiser, et d’où est sortie manifestement la civilisation moderne. Mais (les Pharisiens l’avaient déjà remarqué) jamais le divin docteur ne parle comme un homme qui annonce une doctrine imaginée par lui-même ou apprise d’un autre homme, un système soumis à la discussion. C’est un maître qui affirme au nom de Dieu, qui promulgue les lois de Dieu son père, auquel il est consubstantiel : « ego et pater unum sumus ». A ce titre il connaît à fond l’homme, sa créature, et rien n’est caché à ses yeux. Aussi nous le voyons devinant les pensées secrètes de ses disciples, de ses ennemis. «Jésus, dit S. Jean, ne se fiait pas à eux, car il les connaissait tous, et il n’avait pas besoin que personne lui rendît témoignage de l’homme, car il savait ce qui était dans l’homme.»[1] Qui donc oserait contredire le maître divin lorsque, témoin et juge sévère de l’incrédulité des scribes et des Pharisiens, il leur dit : « Eh! comment pourriez-vous croire vous qui recherchez la gloire que vous vous donnez les uns aux autres, et non la gloire qui vient de Dieu seul? » (Joan., v, 44).

Cet oracle divin n’est-il pas une observation psychologique d’une absolue justesse, aux yeux de tout homme sincère?

Supposez, en effet, ce cas si ordinaire : un homme qui, pour but de son activité intellectuelle, morale ou physique, se propose exclusivement sa propre satisfaction personnelle, le triomphe de son orgueil, le succès de son ambition, l’accroissement de son bien-être : n’est-il pas clair qu’un tel homme éprouvera une répugnance invincible, un préjugé insurmontable, à l’égard de toute doctrine qui viendra contredire la passion qui le domine? Une vérité pure, austère, sollicite mon adhésion : la condition essentielle pour que je la lui donne, c’est que je sois disposé à l’accepter pour cette seule raison qu’elle est la vérité, la vérité qui est le reflet de Dieu, et, pour parler comme l’Évangile, « une gloire qui émane de Dieu seul ». Les Pharisiens n’en sont pas là. Ils sentent leur pouvoir menacé par l’enseignement de Jésus, c’est assez : sa doctrine est condamnée d’avance. Jésus les renvoie à Moïse et aux Écritures : ils ne les ouvrent pas. Jésus les rend témoins de ses miracles : ils s’en scandalisent. Les miracles qu’ils voient ne leur suffisent pas, ils en réclament d’autres qu’ils savent d’avance qu’on leur refusera. Quand Jésus a ressuscité Lazare, épouvantés de la popularité que ce miracle lui assure, ils se disent sans hésiter : « Hâtons-nous de le faire mourir, car tout le monde va croire en lui. » Quand ils le voient sur la croix ils se figurent enfin tenir leur triomphe définitif: « s’il est vraiment fils de Dieu qu’il descende de la croix et nous croirons en lui! » Jésus fait mieux, il se laisse mourir, ensevelir, mettre au tombeau et il en sort vivant le troisième jour. Ce miracle même, dont la renommée arrive aux Pharisiens, ne les émeut pas : ils refusent de regarder. Comment pourraient-ils voir?

Or, je le demande à toute âme droite, qu’est-ce qu’une incrédulité de cette sorte peut prouver contre la réalité du miracle? Mais aussi qui ne voit, dans l’état d’âme de ces Pharisiens, le type le plus expressif, le plus vrai, de nombre de ceux qui se font gloire de ne pas croire aux miracles? Les savants incrédules sont-ils moins que les Pharisiens préoccupés de la crainte de perdre leur crédit, si la foi venait à prévaloir? Et que dire de la masse des ambitieux, des voluptueux, des riches sans conscience? Qu’y a-t-il de commun entre leur façon d’entendre et de pratiquer la vie, et la sévérité de l’Évangile? Si l’Évangile a raison, ils se sentent perdus; il faut donc que l’Évangile ait tort. S. Paul comparaît devant le proconsul Félix qui s’intéresse fort à tout ce que l’Apôtre lui dit de la foi en Jésus-Christ :

« Mais, comme Paul lui parlait de la justice, de la chasteté et du jugement à venir, Félix en fut effrayé et lui dit : C’est assez pour cette fois, retirez-vous ; quand j’aurai le temps je vous ferai venir, et parce qu’il espérait que Paul lui donnerait de l’argent, il l’envoyait quérir souvent et s’entretenait avec lui » (Act., xxiv, 25-26).

Paul fit-il quelques miracles devant Félix? L’histoire ne le dit pas, et la chose n’est pas probable. Un miracle, en effet, ne l’aurait pas converti; il n’aurait pu qu’accroître la culpabilité d’un homme justement aveugle parce qu’il était injuste impudique et avare: son incrédulité eût été une faute de plus à porter à ce tribunal de Dieu, dont la pensée l’effrayait sans le toucher. Autre exemple: le même S. Paul est conduit devant l’Aréopage par des philosophes épicuriens et stoïciens, curieux d’entendre celui qu’ils prennent pour un de ces parleurs de philosophie dont ils amusent leur loisir. Qui ne prévoit le succès, sur de telles gens, de la prédication de l’Apôtre? Parler de la résurrection à des philosophes dont les uns ne croient qu’à la matière, dont les autres sont de purs panthéistes, n’est-ce pas aller au-devant d’un échec certain? Aussi les uns se mettent à rire, les autres haussent les épaules; ils renvoient l’Apôtre aune autre fois. Un miracle les eût-il convertis? Nullement. Quelques-uns cependant, un juge et une simple ouvrière, croient à sa parole. Pourquoi? C’est qu’ils n’avaient, eux, aucun système à défendre, et que leur coeur droit, dans la vérité, ne cherchait que la vérité, c’est-à-dire « la gloire qui vient de Dieu seul ».

L’histoire des Pharisiens de l’Évangile, des Épicuriens et des Stoïciens, des Actes des apôtres, se poursuit à travers les siècles, toujours identique à elle-même. Pour admettre le surnaturel, pour se rendre à un miracle même évident, une préparation morale est nécessaire. Qu’entre le fait le plus concluant et l’adhésion à la doctrine que ce fait suppose, il se trouve l’écran d’une passion, d’un intérêt, d’un système, d’un préjugé scientifique, aussitôt nous voyons se réaliser, dans sa plus stricte littéralité, le mot tant répété dans nos saints livres : « Ils ont des yeux et ils ne voient pas; des oreilles et ils n’entendent pas, ils refusent de comprendre de peur d’être forcés d’agir » conformément à la vérité qu’ils ont entrevue. Et, en sens inverse, se vérifie la grande parole de Notre-Seigneur en S. Jean : « Qui facit veritatem venit ad lucem. Celui-là vient à la lumière qui fait la vérité », c’est-à-dire qui aime la vérité, qui la cherche avec conscience, qui pratique tous les devoirs qu’elle lui impose, dans la mesure même où il les connaît.

R. P. LESCOEUR. Faits surnaturels contemporains les vrais et les faux miracles. 12 ed. Paris: A. Roger et F. Chernoviz, 1900. Chapitre XII p. 167-173.

[1] Joan., a, 23; Malth., ix, 4 ; XII, 25; Luc, vi, 8; ix, 47; xi, 17.


SOURCE VRAIE DE LA PATIENCE – Saint Augustin

patience

Mais il faut savoir d’où nous vient la patience véritable et qui mérite d’être appelée de ce nom; car il y en a qui l’attribuent aux forces que la volonté humaine tire du fonds de sa liberté, au lieu de l’attribuer à celles que lui donne la grâce de Dieu. Cette erreur vient de l’orgueil de l’homme, et ce sont là les pensées de ceux dont parle le psalmiste quand il dit: ” Nous avons été la risée de ceux qui sont riches à leurs propres yeux, et le mépris des orgueilleux “.[1]

                Cette sorte de patience n’est donc pas ” la patience des pauvres “, qui ” ne périt point”[2] et qu’ils reçoivent de Celui qui est souverainement riche, et à qui le psalmiste a dit : ” Vous êtes mon Dieu, vous n’avez que faire de mes biens”[3], de ce Dieu ” de qui vient tout don parfait et toute grâce excellente”[4], et à qui s’adressent ” les cris du pauvre et de l’indigent qui loue son nom”[5] et qui ” demande, cherche et frappe à la porte”[6] , en disant “Mon Dieu, tirez-moi des mains du méchant, des mains de l’injuste qui viole votre loi; car vous êtes ma patience, Seigneur, vous êtes mon espérance dès mes plus tendres années”.[7]

                Mais ceux qui sont ” riches à leurs propres yeux”[8], et qui ne veulent pas reconnaître leur indigence devant le Seigneur, aimant mieux se glorifier d’une fausse patience que de lui demander la véritable, ” se moquent des pensées du pauvre, qui met son espérance en Dieu”[9], et ils ne prennent pas garde qu’attribuer autant qu’ils font à leur volonté, c’est-à-dire à la volonté de l’homme, puisqu’ils sont hommes, c’est encourir ” la malédiction prononcée ” par le Prophète ” contre ceux qui mettent en l’homme leur espérance”.[10]

                Ainsi, lorsqu’il arrivera que pour éviter de plus grands maux, ou de peur de déplaire aux hommes, ou par la complaisance que leur donnent pour eux-mêmes ces forces prétendues de leur volonté superbe, ils souffriront avec fermeté des choses dures et fâcheuses, il faudra leur dire de cette fausse patience, ce que l’Apôtre saint Jacques dit de la fausse sagesse, que ” ce n’est pas là celle qui vient d’en haut “, mais une patience ” terrestre, animale, diabolique”.[11] Car la patience des orgueilleux n’est pas plus véritable que leur sagesse; et c’est celui qui donne la vraie sagesse, qui donne aussi la véritable patience, selon que lui chantait un véritable pauvre d’esprit, lorsqu’il disait: ” Sois soumise à Dieu, ô mon âme, car c’est de lui que vient ma patience”.[12]

IN OEUVRES COMPLÈTES DE SAINT AUGUSTIN, traduites pour la première fois en français sous la direction de M. Raulx, Tome XII, p. 299. BAR-LE-DUC,1866.


[1] Psal. CXXII, 4.

[2] Id. IX,19

[3] Psal. XV, 2.

[4] Jac. I, 17

[5] Psal. LXXIII, 21

[6] Matt. VIII, 7

[7] Psal. LXX, 4, 5

[8] Id. CXXII, 4

[9] Id. XIII, 6

[10] Jerem. XVII, 5

[11] Jac. III, 15

[12] Psal. LXI, 6

Validez y licitud en materia sacramentaria

       baptismo     Pe. Jorge Maria Storni, EP

 

            A la autoridad eclesiástica competente le corresponde establecer los requisitos para la validez y licitud, normas éstas que deben ser obedecidas por todos los fieles y en toda la Iglesia universal. En concreto la legislación del Código de Derecho Canónico rige exclusivamente para la Iglesia latina.

            Antes de entrar en la materia propia de cada uno de los Sacramentos, el Código legisla  principios generales.

            Una primera ley invalidante es la que dispone que nadie puede ser admitido a los demás sacramentos, sin haber recibido el bautismo.[1] Los sacramentos del bautismo, de la confirmación y de la santísima Eucaristía están tan íntimamente ligados entre sí, y todos son necesarios para la plena iniciación cristiana.[2] Para recibir lícitamente los sacramentos del orden sagrado es necesario haber recibido previamente el sacramento de la confirmación[3]. Para el matrimonio es requerido este sacramento, se no resultar con eso grave incomodo.[4]

            Así podríamos sintetizar en general, las condiciones de validez, siguiendo a Santo Tomás, prototipo entre los teólogos de la escolástica:

 

1.         Todo sacramento es eficaz a partir de la institución divina;

2.         Si en la administración de un sacramento no se observa todo cuanto fue             determinado por Jesucristo en la institución del mismo, la acción realizada carece de eficacia y, por lo tanto, no confiere la gracia;

3.         Tal sólo por especial y extraordinario privilegio divino concedido por Jesucristo, que no ligó su poder infinito a sus criaturas, los sacramentos, puede la Iglesia alterar el signo sacramental;

4.         En la administración de un sacramento no es lícito emplear una forma distinta a la determinada por Jesucristo, aunque sus términos sinónimos expresen el mismo sentido conceptual de aquella.[5]

 

            El citado autor señala que en la concepción de Santo Tomás, Nuestro Señor Jesucristo al  instituir los sacramentos determinó de manera explícita la materia y la forma de cada uno de ellos, y que a partir de la institución divina, el efecto causal de la gracia queda vinculado a la estructura material del signo sacramental determinado en concreto en el momento de la institución. Siguiendo el principio aristotélico según el cual la forma da el ser a la cosa, resulta lógico concluir que ha de ser Jesucristo quien determine la forma de cada sacramento, y todavía más lógico negar que nadie, salva la explícita y manifiesta voluntad divina pueda alterarla.

            Según el mismo autor, Lutero se equivocó al darle a estos principios de la escolática consecuencia de una radicalidad que no encuentran fundamento en la Sagrada Escritura. Cuando en ésta no encuentra la especificación del rito, Lutero niega que se trate de un auténtico sacramento. A otras consecuencias muy distintas hubiese llegado de haber tenido presente el comportamiento pastoral seguido por los Santos Padres.[6]    

STORNI, Jorge. La misión de santificar de la Iglesia Católica y el sacramento de la reconciliación.  Mestrado em Direito Canônico — Pontifício Instituto de Direito Canônico do Rio de Janeiro, 2009. p. 7-9.
 




[1] Can. 842§1

[2] Cf. Can. 842§2

[3] Cf. Can. 1033

[4] Cf. Can. 1065§1

[5] Cf. Arnau Ramón, Tratado General de los Sacramentos, BAC, Madrid, 2003. Pág. 137

[6] Cf. Op. cit. Pág. 138