A Castidade da inteligência: precioso fruto da plena doação de nossa inteligência a Deus

pensadoresMons. João S. Clá Dias, EP

A virtude da Fé nos facilita penetrar além dos umbrais de nossa acanhada natureza, e tomar consciência das profundezas dos liames que unem o universo a Deus. O Criador o transcende infinitamente e, portanto, não há a menor confusão entre Ele e a criação. Porém, é Deus quem mantém as criaturas no ser, como também cada um de seus elementos constitutivos, e até mesmo, é a causa eficiente da santidade que possa existir em cada uma delas. Daí ser-nos necessário o apoio das Sagradas Letras para aprimorar em nós o senso de Deus. Nelas encontraremos as verdades claramente expostas com extremo fervor por Cristo Jesus, sobre a vida íntima de Deus, os atributos do Pai e do Espírito Santo etc.

Assim, a presença de Deus e a própria ação divina, tanto a permanente quanto a atual, sobre todas as criaturas, serão discernidas — ainda que muitas vezes em meio a uma certa penumbra — por uma Fé robusta e viva. E isto consistirá, de certo modo, em alguma participação no conhecimento que Deus possui sobre Si mesmo e sobre o universo. Será a mais elevada vida intelectual, na qual a intensidade dessa virtude teologal determinará maior ou menor penetração (e domínio) desta, naquela.

A Fé, portanto, não constitui um estorvo para a cultura como erroneamente poderia parecer a espíritos menos avisados. Muito pelo contrário, determinação, certeza e substância são conferidas à inteligência que nela se fundamenta. Ela diviniza as qualidades humanas, e jamais as prejudica. E nossa inteligência, assim divinizada, passa a compreender tudo sob o prisma de Deus. Aí estará alojada a castidade de nossa inteligência que consistirá numa íntegra lealdade em face das realidades objetivas e do próprio Deus, tudo analisado com uma esplendorosa clareza devido a uma maior ou menor participação no conhecimento incriado. Ela é um precioso fruto da plena doação de nossa inteligência a Deus, fruto, por sua vez, da iniciativa dEle em nos escolher e de nós tomar posse: “Não fostes vós que me escolhestes mas, fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16).

Unidade e variedade no seio da Igreja

catedraMons. João Clá Dias

Na Santa Igreja Católica, o mistério do Verbo Encarnado reflete-se à maneira de um espelho. Com efeito, é em Cristo Jesus, Deus e Homem verdadeiro, que as duas naturezas — divina e humana — unem-se hipostaticamente numa só Pessoa Divina; analogamente, a Igreja é formada por dois elementos: o carismático e o humano, o social e o visível.

Algo semelhante se verifica ao considerarmos a Esposa de Cristo em sua unidade e diversidade, bem como em sua insuperável catolicidade. Ela é una por sua fonte divina, por seu Fundador e por sua “alma”, que é o Espírito Santo. Faz parte de sua própria essência ser una (CIC, n. 813; 814). Não obstante, no decorrer de sua longa história, ela se apresenta com uma “grande diversidade”, notória tanto na “variedade dos dons de Deus” quanto na “multiplicidade das pessoas que os recebem” (CIC, n. 814).

São Paulo se refere a essa característica — a unidade na variedade — ressaltando que nela há “diversidade de dons, mas um só Espírito” (1 Cor 12, 4). Ante a abundância das manifestações carismáticas entre os fiéis, o Apóstolo orienta os discípulos a não perder de vista a unidade da Igreja, o “Corpo de Cristo” (1 Cor 12, 27). Todos os carismas — sabedoria, palavra de ciência, discernimento dos espíritos, e tantos outros (cf. 1 Cor 12, 8-10) — procedem de uma só fonte: é Deus mesmo quem “opera tudo em todos” (1 Cor 12, 6). E a Lumen Gentium, sintetizando três passagens das cartas paulinas, menciona a ação do Espírito Santo para unificar a Igreja “na comunhão e no ministério” e acrescenta que Ele a “enriquece, guia com diversos dons hierárquicos e carismáticos, e embeleza com os seus frutos” (n. 4).

CLÁ DIAS, João. Os novos movimentos: Quando espírito e jurisprudência se encontram. in: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 6, jan-mar 2008. p. 10.