O artista verdadeiramente livre
sabe como olhar o passado
Tradução minha do artigo de Paolo Portoghesi – Lo sforzo di rendere visibile la fede: L’artista veramente libero sa guardare il passato. in: L’Osservatore Romano – 19-20 ottobre 2009.
Nós, hoje, não experimentamos apenas uma crise da arte sacra, mas uma crise da arte enquanto tal, e com uma intensidade até agora desconhecida. A crise da arte é um outro sintoma da crise da humanidade, que na extrema exasperação do domínio material do mundo é precipitada nas trevas opostas às grandes questões do homem, como a questão sobre o destino último do homem, que vai além da dimensão material. Esta, pode ser certamente definida como uma cegueira do espírito. À demanda sobre como devemos viver, como devemos enfrentar a morte, se a nossa existência tem um fim e qual, a todas estas perguntas não existem mais respostas correntes. O positivismo, formulado em nome da seriedade científica, restringe o horizonte àquilo que é demonstrável, àquilo que pode ser verificado pela experiência; isso torna o mundo opaco. Contém agora a matemática, mas o Lògos, que é o pressuposto desta matemática e da sua aplicabilidade, não aparece mais. Agora, o nosso mundo das imagens não supera mais a aparência sensível e o discorrer das imagens que se circundam significa, ao mesmo tempo, o fim da imagem: como se além daquilo que pode ser fotografado, não houvesse mais para ver. Neste ponto, porém, não é impossível somente a arte do ícone, a arte sacra, que se constrói sobre uma observação que se abre em profundidade; a própria arte, que num primeiro momento experimentou no impressionismo e no expressionismo a possibilidade extrema da visão sensível, mantém-se privada de um objecto, no sentido literal. A arte torna-se experimentação com mundos que se criam para si, uma vã criatividade, que não percebe mais o Espírito Criador. Essa tenta tomar o seu posto e não pode produzir senão o arbitrário e o vazio, que torna o homem consciente do absurdo da sua pretensa criação”. (Introduzione allo spirito della liturgia, pp. 126-127).
Com esta palavra, dura e precisa, se pede aos artistas que crêem, empenho num desafio contra aquela “criatividade vazia” que não mais percebe o “Espírito Criador”. “A Igreja – lê-se na Costituzione conciliare sulla sacra liturgia – não teve como seu um particular estilo artístico, mas segundo a índole e as condições dos povos e as exigências dos vários ritos, tem admitido as formas artísticas de todas as épocas”. É justo, sobre a base desta consideração irrepreensível, contentar-se com o espírito do tempo? Num tempo que celebra a “morte de Deus” anunciada por Nietzsche, como um destino que não se pode soterrar? No alvor do cristianismo, qual era o espírito do tempo? Aquele dos mártires e dos apóstolos ou aquele do hedonismo da Roma imperial?
O empenho por uma arte sacra do nosso tempo tem precedentes de extraordinária qualidade e rigor […]. Para quem aceita o desafio, há uma via principal na qual avançar. “Também hoje – lê-se na Introduzione allo spirito della liturgia – a alegria em Deus e o encontro com a sua presença na liturgia são uma força inexaurível de inspiração. Os artistas que se colocam sob esta tarefa não devem sentir-se como a retrógrados à cultura, pois a liberdade vazia da qual sairão tornar-se-á motivo de desgosto. A humilde submissão àquilo que os precede é origem da verdadeira liberdade e os conduz às verdadeiras alturas da nossa vocação de homens”.
Olá, gostei muito deste post, sobretudo por ser eu artista. Vocês trabaham junto com o blog do thabor? se não me engano já vi a foto do adriano no blog de lá. De qualquer forma, parabéns
Prezada Luiza,
Agradeço a simpática opinião que deixou em nosso Blog.
Pertenço à mesma comunidade que os irmãos Marcelo e Adriano. Porém, um é seminarista, o outro artista .
Apesar de nos encontrarmos frequentemente, estamos em setores diferentes.
Despeço-me, desejando que procure cada vez mais a pulchritude em suas obras artísticas, de modo que possam ser um reflexo das coisas boas e belas criadas por Deus,
Em Jesus e Maria
Diác. José de Andrade, EP