1) O escrúpulo é uma doença física e moral, que produz uma espécie de loucura na consciência da pessoa e lhe faz recear, por motivos fúteis, ter ofendido a Deus.
2) O escrúpulo não traz nenhuma vantagem para a pessoa.
3) Suas 4 principais desvantagens são:
– os escrúpulos desequilibram gradualmente o sistema nervoso;
– cegam o espírito e falseiam o juízo (julgamento das coisas);
– causam falta de devoção verdadeira, aumentando o egoísmo;
– desanimam a prática da virtude.
4) Quatro matérias sobre as quais costuma haver escrúpulos:
– tornar a confessar pecados passados;
– maus pensamentos contra a pureza;
– comunhão (dúvida se pode comungar ou não);
– orações (se rezou direito, se pronunciou errado, se “valeu” ou não).
5) Os escrúpulos provém:
a) de causas naturais: propensão para o desequilíbrio nervoso, tendência a depressão (“baixa”), falta de energia no organismo.
b) de causas morais: orgulho (desejar ser isento de pecados por amor-próprio), desobediência às orientações de um bom confessor, egoísmo, detalhismo, preguiça de consultar um bom diretor espiritual e de estudar a Doutrina Católica para formar a própria consciência, obstinação (achar que sua opinião é que vale, não dar atenção às orientações); deixar-se levar pelas impressões e não pela razão; falta de força de vontade.
c) de causas preternaturais: o demônio também pode estimular os escrúpulos, se assim lhe for mais fácil perturbar a pessoa.
d) de causas sobrenaturais: Deus permite que a pessoa fique escrupulosa e sofra com isso, para ajudá-la a querer combater as causas do escrúpulo: o orgulho, o egoísmo, a preguiça, etc.
6) Os graus dos escrúpulos são 3: leves; passageiros; graves ou persistentes.
7) A diferença entre a consciência delicada e a consciência escrupulosa está no ponto de partida: uma pessoa tem consciência delicada por amor de Deus; uma pessoa é escrupulosa por amor de si mesmo, por orgulho e egoísmo. A consciência delicada aceita as orientações. O escrupuloso não aceita, preferindo suas próprias idéias ou opiniões.
8) O único remédio prático para o escrúpulo é a obediência cega a um bom confessor/diretor espiritual. Note-se que não é o escrupuloso que vai julgar se o confessor é bom ou não. Ele deve basear-se na opinião geral de outros bons e autênticos católicos, que lhe indicarão qual confessor procurar.
9) O penitente será tratado por um bom confessor com bondade e firmeza. Ele lhe mostrará dedicação, paciência, mas será inflexível em exigir o cumprimento das orientações que der.
10) O princípio geral que deve nortear a consciência do escrupuloso é a evidência. Só há pecado mortal se é evidente que há pecado mortal, se a pessoa pode jurar por Deus que há pecado mortal. (Note-se que jurar sem ter certeza seria pecado mortal).
11) A freqüência das confissões do escrupuloso é determinada pelo confessor. Em geral, e se não há pecado mortal evidente, só uma vez por mês.
12) O escrupuloso não deve nunca examinar as confissões que fez, pois isso o precipita num círculo vicioso de novos escrúpulos. Deve guiar-se pelas orientações do bom confessor e ficar em paz..
13) O escrupuloso não deve julgar as determinações do (bom) confessor. Deve obedecê-las cegamente pois é o único remédio para ele se curar do escrúpulo. Relembre-se que ele também não deve julgar se o confessor é bom ou não (coisa muito freqüente nos escrupulosos) mas basear-se na opinião de outros bons católicos. E tratar de permanecer com o mesmo confessor, sem procurar outros que lhe permitam, por inadvertência, dar desenvolvimento a seus escrúpulos.
14) O escrupuloso nunca pode discordar ou discutir as determinações do bom confessor. Deve abrir-se com ele com sinceridade e obedecer-lhe em tudo. Se ele mandar comungar diariamente, comunga. Se mandar confessar só uma vez por mês, obedece, etc.
15) Para um pecado ser perdoado basta confessá-lo e receber a absolvição apenas uma vez, com as boas disposições habituais (verdadeiro arrependimento, declarando as condições agravantes e/ou que mudem a natureza do pecado, se houver, e com propósito de emenda).
16) Os pecados que devem ser confessados são:
– os pecados certamente mortais;
– os pecados certamente cometidos;
– os pecados certamente não confessados.
Se não houver uma dessas 3 condições, o escrupuloso, como regra geral, não deve confessá-los.
17) Quando está em dúvida, o escrupuloso pode e deve comungar (exceto se o confessor orientar o contrário).
18) Em dúvida (se cometeu pecado mortal ou não), o escrupuloso não deve confessar.
19) O “privilégio dos escrupulosos” consiste em fazer uma acusação dos pecados muito simplificada: “Acuso-me de todos os pecados cometidos desde a minha última confissão e de todos os da minha vida passada”[1]. O confessor saberá quando permitir ou mesmo exigir o uso desse privilégio. A decisão é exclusivamente do confessor. A Igreja o permite por misericórdia, para os casos em que o escrúpulo é muito intenso.
20) O objetivo do demônio ao estimular os escrúpulos é deformar a vida espiritual da pessoa, roubar-lhe a paz interior, desanimá-la, fazê-la desesperar da Salvação e acabar fazendo-a entregar-se aos vícios e pecados, “já que está perdida mesmo”. É por isso que muitos escrupulosos acabaram tornando-se depois pecadores desbragados.
21) O escrupuloso não deve fazer exame de consciência sobre matéria de escrúpulos. Por exemplo: não deve ficar pensando se consentiu ou não em tal mau pensamento, ou em tal mau olhar, porque vai se lembrar deles, e as más idéias voltarão a atormentá-lo.
22) O ponto sobre o qual o escrupuloso deve fazer exame de consciência é aquele que o bom confessor lhe indicar. Varia de pessoa para pessoa. Em geral, será sobre seu vício capital, que no caso do escrupuloso costuma ser o orgulho e/ou o egoísmo.
23) O escrupuloso tem escrúpulos sobre certas matérias e sobre outras não porque ele é escrupuloso por egoísmo. Por exemplo: ele fica preocupado se consentiu num mau pensamento, porque pode condenar a sua “alminha”. Mas pode não ter escrúpulos em desorganizar uma sala, porque não é ele quem vai ter de arrumá-la depois; ou pode não lhe pesar na consciência pegar mais alimentos para si em prejuízo de outros, e assim por diante.
24) O escrupuloso não tem noção clara sobre seu estado. Pode tender a negá-lo, ou pode tender a impacientar-se consigo mesmo e desanimar. Quanto às suas dúvidas, a única pessoa que pode lhe orientar com segurança é o seu diretor espiritual.
25) Conselho do Prof. Corrêa de Oliveira para o escrupuloso:
“Com o escrúpulo a gente faz como o homem puro em relação à mulher impura: não olha para ela, não lhe responde nada, interior e exteriormente faz como se ela não existisse”. Ou seja, não dar nenhuma atenção aos pensamentos escrupulosos.
26) Tentação é a inclinação para cometer um pecado. Pecado é uma ofensa feita a Deus pela violação advertida e voluntária de Seus Mandamentos, ou dos da Sua Igreja.
27) Teoricamente, uma tentação pode ter duração indefinida sem se transformar em pecado, desde que a pessoa não dê pleno consentimento, não tenha plena advertência, nem deixe de tomar as providências necessárias para fazê-las cessar.
28) As 3 condições sem as quais não há pecado mortal são: 1) Matéria grave, 2) Plena advertência “pre-factum” (dar-se conta de que está sendo tentado para um pecado mortal, antes de cometê-lo), 3) Pleno consentimento (apesar de saber que é mortal, praticá-lo).
29) Sob tentação a pessoa deve:
Primeiramente rezar, pedindo graças para vencer à tentação, permanecer no estado de graça e na paz de espírito. Servir-se, com calma e discrição, de Água Benta, de uma relíquia ou de algum objeto bento. Praticar a oração mental, lembrando-se dos Novíssimos, do amor e dos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo por nós e de outros temas piedosos.
Em segundo lugar, afastar-se prontamente do que lhe provoca a tentação, por meio da distância física se for o caso, e da distância psíquica, ocupando a atenção com uma conversação, trabalho ou distração sadia e, se possível, santificante.
Em terceiro lugar, cessada a tentação, procurar conhecer-se melhor de modo a evitar que as circunstâncias que o levaram à tentação se repitam. Aqui se incluem o evitar com diligência as ocasiões próximas, o exame de consciência, a guarda do coração e o revigoramento da vida interior. É o que o Padre Tissot chamava de “a arte de utilizar as próprias faltas”.
30 – O principal remédio para os escrúpulos, tentações e demais problemas da vida espiritual é o amor de Deus, que na linguagem prática se traduz pelo entusiasmo com que a pessoa se entrega à admiração dos reflexos de Deus na Criação, e ao serviço de Deus através do serviço da Igreja, da Civilização Cristã, e do próximo em suas necessidades espirituais e materiais.
Bibliografia
Esta compilação foi baseada em fontes diversas, dentre elas: Ad. Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Edições do Apostolado da Imprensa, Porto, 1932. M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano, Lello e Irmão Editores, Porto, 1940. Padre Alonso Rodríguez, Ejercicio de Perfección y Virtudes Cristianas, Editorial Testimonio de Autores Catolicos Escogidos S.A., Madrid, 1985. Padre Joseph Tissot, A Arte de Aproveitar as Próprias Faltas, Quadrante, São Paulo, 1995.
[1] (Cfr. Ad. Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, item 949, d., cap V, pág. 598 da 2ª edição portuguesa, Porto, 1932)
19) O “privilégio dos escrupulosos” consiste em fazer uma acusação dos pecados muito simplificada: “Acuso-me de todos os pecados cometidos desde a minha última confissão e de todos os da minha vida passada”[1].
Não entendi essa colocação pois remete a ter uma vida passada!
“Vida passada” nesse caso quer dizer simplesmente o passado da pessoa.
O problema é que dificilmente se encontram bons confessores no Brasil. O que seriam esses bons confessores? E bons católicos? Como posso discernir isso?
Muitíssimo obrigado, foi bastante esclarecedor e acalmou os ânimos. Paz e bem.
Gostaria de parabenizar pelas excelentes explicações, muito benfazejas a respeito do tema, abarcam todo o assunto e solucionam todo o problema a respeito.
Por caridade, pediria esclarecer se o privilégio aplica-se até ao caso em que a pessoa tenha de fato cometido uma falta grave, mas está confusa, atormentada ou sem condições psicológicas de confessar-se bem, como por exemplo, vai exagerar o que aconteceu apesar de grave ou ferir mais a própria alma que já está bem fragilizada.
Quanto a advertência pré-factum, por caridade veja se está bem entendido, se no momento da tentação a pessoa não se dá conta que está sendo tentada para uma falta grave, não haverá pecado se ela não se afastar da tentação ou demorar a se afastar, é isto? Geralmente essa confusão ocorre em situações de ocasião próxima de pecado.
P.S.
Quando o exame de consciência recai sobre expor-se ao perigo, não se fastar do perigo de cair em tentação qualquer que seja e não na ofensa em si a Lei de Deus.
É um privilégio que a Igreja concede as almas com escrúpulos em um nível muito alto, confessar-se só falando essa frase… O padre que vai decidir isso, caso ele veja que a pessoa se encontra em grande sofrimento e não consegue confessar seus pecados ele pode conceder esse privilégio que a Igreja dá a alma escrúpulosa.
Um ato de amor às almas sofridas por essa doença espiritual…
Tenho uma dúvida, o ponto “10) O princípio geral que deve nortear a consciência do escrupuloso é a evidência. Só há pecado mortal se é evidente que há pecado mortal, se a pessoa pode jurar por Deus que há pecado mortal. (Note-se que jurar sem ter certeza seria pecado mortal).” e se na verdade a consciência for relaxada mas a pessoa acreditar que é escrupulosa? (o tipo de pessoa que acredita que não fazer o sinal da cruz antes de rezar é pecado muito grave mas que faltar a Missa não é)
Gostaria de perguntar se o privilégio dos escrupulosos aplica-se mesmo quando o penitente tenha cometido faltas graves. Agradeceria.
Pergunta inoportuna. Gostaria de retificar salientando, por todo exposto, ser evidente que tal privilégio se aplica em razão da condição da pessoa (intensamente escrupulosa) e não da matéria envolvida.
Se isso fosse conhecido, divulgado quantos problemas poderiam seriam solucionados e almas serem beneficiadas!
Pergunta inoportuna. Gostaria de retificar salientando, por todo exposto, ser evidente que tal privilégio se aplica em razão da condição da pessoa (intensamente escrupulosa) e não da matéria envolvida.