Os desafios da nova evangelização por Dom Odilo Scherer

Odilo

São Paulo (Terça-feira, 07-06-2011, Gaudium Press) Na coletiva que concedeu nesta sexta na sede da cúria em São Paulo, o arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, falou sobre dois temas bastante atuais para a Igreja: a questão dos desafios da comunicação moderna – à luz do 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que foi celebrado pela Igreja neste domingo – e da nova evangelização, discutidos no âmbito da primeira Assembleia Plenária do novo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, da qual o cardeal participou, na semana passada, em Roma.
De acordo com a arquidiocese de São Paulo, o primeiro tópico abordado pelo arcebispo foi a mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, “Verdade, anúncio e autenticidade de vida na era digital”.
“Nós estamos passando para uma página nova na história da humanidade”, afirmou o cardeal, referindo-se às mudanças culturais que as novas tecnologias propiciaram. O arcebispo lembrou que não foi a primeira vez que Bento XVI abordou esta questão, tendo em outras ocasiões já citado a importância da incorporação das ferramentas digitais para a evangelização.
O purpurado salientou, no entanto, que as novas ferramentas também trazem novos problemas, e que a Verdade e a coerência no anúncio não podem jamais serem relativizados. “A verdade nunca pode ser deixada de lado. Ela deve permanecer como referencial em todas as formas de comunicação. Quando a comunicação não está a serviço da verdade, gera destruição, gera desagregação”.
Segundo Dom Odilo, com a facilidade de acesso aos meios digitais, cada vez mais pessoas se empenham na evangelização por esses meios, mais é preciso, para tanto, que esses produtores de conteúdo se baseiem nos fundamentos da fé e doutrina cristã.
Sobre a Nova Evangelização, Dom Odilo, que chegou de Roma recentemente, onde participou da primeira plenária do recém-criado Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, disse que o maior desafio da Igreja nos dias de hoje é anunciar o Evangelho justamente nos lugares onde há tradição cristã. Em muitos desses lugares, refletiu, o problema não é nem mais tanto em difundir o Cristianismo ou Catolicismo, mas evitar a descrença total das pessoas.
“É preciso criar uma nova consciência missionária”, ressaltou dom Odilo, ao ponderar que a Europa, responsável pela evangelização de boa parte do mundo, inclusive da América Latina, precisa (re)evangelizar-se. “É preciso desenvolver uma nova forma de vivência da fé. Os povos a serem evangelizados estão dentro de casa”.
Segundo ele, a linguagem para essa evangelização também é um desafio, precisando ser “atualizada” e “renovada”, mas sem perder a sua essência. Dom Odilo falou também sobre a “crise da evangelização” em países do Oriente Médio, alguns dos quais sofrem ainda com perseguição a minorias cristãs, e destacou que no Sínodo dos Bispos sobre o Oriente Médio, em outubro do ano passado, foram levantadas essas e muitas outras questões relacionadas à “sobrevivência do cristianismo na região”.
De acordo com Dom Odilo, é também por tudo isso que a Igreja está com grandes expectativas com relação ao Sínodo dos Bispos do ano que vem, que será sobre a “Nova evangelização e transmissão da fé”.
“A Igreja conta com a contribuição dos bispos do mundo inteiro para a reflexão deste tema. Espera-se em todos os católicos uma nova consciência de que o Evangelho não é um bem que deve ficar apenas conosco, mas é um bem para o mundo. Por isso, temos que retomar sempre de novo, o mandato de Jesus: ‘Ide pelo mundo inteiro e anunciai o evangelho a toda criatura'”, concluiu.

Com Arquidiocese de São Paulo

“O fundamento da fé cristã é a vida que brota da cruz”, afirma Dom Odilo em Missa de Páscoa

OdiloSão Paulo (Terça-feira, 06-04-2010, Gaudium Press) Na homilia da Santa Missa de Páscoa celebrada neste domingo na Catedral da Sé, o arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, afirmou à multidão de fiéis presentes que a mensagem de superação dada pela ressurreição de Cristo continua cada vez mais atual. Com informações do jornal arquidiocesano O São Paulo.

Ao simbolizar a “superação de todo o desprezo pela pessoa humana, pela dignidade da vida humana de todos e de cada um”, a ressurreição de Jesus, explicou Dom Odilo, pressupõe um comprometimento dos cristãos com a superação de situações de guerra e violência e de exclusão social.

Com relação ao calvário de Jesus Cristo até a cruz, sua crucificação e sua morte, Dom Odilo comentou que tais acontecimentos poderiam desanimar e entristecer os cristãos, não fosse a ressurreição, a vida superando a morte. E, convocando os fiéis, o arcebispo disse: “Digam isso bem alto ao mundo! É dia de alegria. Dia de anúncio da vida sobre a morte”.

Dom Odilo dirigiu-se também em sua mensagem às “pessoas doentes, cansadas e àqueles desorientados”, que há muito perderam a fé, desejando-lhes que a Páscoa faça “brilhar uma luz de esperança” em suas vidas.

Por fim, desejou que o tempo de Páscoa e “que a nossa vida possam dar testemunho daquilo que pregamos na Igreja; testemunho de vida nova em Jesus que se entregou por toda a humanidade”, pois o fundamento da fé cristã é a vida que brota da cruz, “Vida nova da qual já fazemos parte pelo Sacramento do Batismo”, concluiu o cardeal.

Carta de Dom Odilo aos Padres para o início do Ano Sacerdotal

Estimados Padres

da Arquidiocese de São Paulo,

Com a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, iniciamos o Ano Sacerdotal proclamado pelo papa Bento XVI para recordar os 150 anos do falecimento de São João Maria Vianney, patrono dos sacerdotes. O santo Cura de Ars, de fato, foi um sacerdote extraordinário, animado por um ardoroso zelo pastoral, dedicado inteiramente ao povo, ao atendimento das confissões, à catequese, à Eucaristia e ao serviço dos pobres e doentes.

E ainda encontrava um jeito para socorrer outros padres no cuidado pastoral do povo e dedicava tempo à oração, ao estudo e à preparação das homilias; eu mesmo fiquei impressionado, ao visitar a casa paroquial de Ars, vendo a boa quantidade de livros pertencentes ao santo Cura, muito sublinhados e anotados.

O povo, de todos os extratos sociais, reconhecia nele um verdadeiro homem de Deus e seus conselhos eram muito apreciados. Por isso, o papa Bento XVI proclama o Cura de Ars patrono de todos os sacerdotes, que podem ver nele a imagem do verdadeiro pastor do rebanho de Cristo.

Para nós, que também temos a graça de participar do sacerdócio de Cristo e de desempenhar este serviço sagrado, em seu nome, para o bem da Igreja e de toda a humanidade, o Ano Sacerdotal é uma ocasião especial para renovar nosso apreço pessoal e comunitário pelo dom que nos foi dado pessoalmente, mas em beneficio do povo de Deus.

Como São Paulo convidava Timóteo, seu jovem colaborador, a “renovar em si o dom recebido pela imposição das mãos” (cf 2Tm 1,6), assim a Igreja nos pede para redescobrirmos plenamente a grandeza, a dignidade e a beleza do nosso sacerdócio. Desta forma, olhando para Cristo, Sacerdote da nova e eterna Aliança, também nós podemos renovar o dom recebido pela imposição das mãos do bispo que nos ordenou, renovando também nossas disposições pessoais para continuar servindo a Cristo nos irmãos. Um dia Ele nos cativou e chamou ao seu seguimento; e é no renovado encontro com Ele que podemos sentir novamente nosso coração arder e se inflamar de gratidão e entusiasmo.

Ao mesmo tempo, este ano será de grande proveito para nós e para nosso povo recordar grandes sacerdotes, que tanto bem fizeram à Igreja ao longo da história; além do Cura de Ars, penso por exemplo, em S. João Bosco, S. Afonso Maria de Ligório, S. Filipe Néri, S. Inácio de Loyola, S.Francisco Xavier… Mas também perto de nós, tantas belas figuras de sacerdotes dedicados e zelosos, dão um testemunho extraordinário de vida sacerdotal e edificam o povo de Deus. Sacerdotes santos pisaram este chão paulistano e nos precederam na edificação da Igreja de Cristo nesta Metrópole: penso em no santo Frei Galvão, nos bem-aventurados padres Mariano e.Anchieta… E cada um lembra, certamente, outros grandes sacerdotes, que marcaram sua vida pessoal. Convido, pois, a redescobrir e valorizar, durante este Ano Sacerdotal, esses homens de Deus que nos precederam nas paróquias e nos serviços da Igreja, hoje confiados a nós.

Mais do que nunca, isso é necessário em nossos dias, quando a imagem do padre e a credibilidade de sua atuação no meio do povo foi seriamente comprometida por maus exemplos e lamentáveis casos de escândalo; o povo de Deus precisa receber novos sinais de credibilidade do nosso serviço e de nossa missão sacerdotal. Os bons exemplos precisam ser colocados em maior evidência; e, não há dúvidas, na Igreja há muito mais exemplos de sacerdotes exemplares e dedicados do que os lastimáveis casos de escândalo!

O Ano Sacerdotal também pode tornar-se, para nossa Igreja, uma ocasião favorável para dinamizar a pastoral das vocações sacerdotais; esta, de fato, é uma tarefa de todos os padres e, com eles, de todas as comunidades da Igreja; os padres são os principais promotores de outras vocações sacerdotais e, cada um de nós, deveria ter a preocupação de apresentar ao seminário bons vocacionados, de maneira que, depois de nós, haja quem continue nossa missão. Questão fundamental é que em cada paróquia e comunidade haja um serviço de animação vocacional e que seja promovida a oração intensa e perseverante pelas vocações.

Convido, pois, todos os padres da nossa Arquidiocese a viverem intensamente este Ano Sacerdotal, que se estenderá até a solenidade do Sagrado Coração de Jesus de 2010. Para tanto, estejamos atentos às motivações, orientações e iniciativas que serão propostas em vários níveis da vida eclesial: do próprio Papa Bento XVI e da Santa Sé; da CNBB Nacional e Regional e  da nossa Arquidiocese. Cada padre também pense nas iniciativas que poderá promover nos âmbitos de suas próprias responsabilidades, sobretudo com o povo das respectivas comunidades paroquiais.

Dentre as várias sugestões já apresentadas para a vivência do Ano Sacerdotal na nossa Arquidiocese, desde agora, já posso indicar duas iniciativas: a) a celebração, com todo o clero arquidiocesano, da Missa do Crisma na 5ª. feira santa de 2010; e também o retiro do clero, em comum, em Itaici, de 8 a 12 de março de 2010. Destaque especial seja dado, em agosto de 2009, à comemoração do Dia do Padre, nas paróquias, e à confraternização do clero, no dia 27 de julho de 2009.

Confio à iniciativa do Conselho de Presbíteros da Arquidiocese e da Comissão de Presbíteros de cada Região Episcopal, bem como aos encarregados da animação da Pastoral Presbiteral a promoção de outras iniciativas para a devida valorização do Ano Sacerdotal. Encorajo também os padres a valorizarem as reuniões do clero já previstas normalmente e a promoverem encontros espontâneos de oração, vida fraterna e apoio recíproco durante este ano.

O Regional Sul 1 também já está organizando uma peregrinação a Aparecida com todo o clero do Estado de São Paulo, em ocasião a ser ainda definida e divulgada oportunamente. Desde logo, convido todo o nosso clero a aderir a essa iniciativa.

Nas paróquias e comunidades, seja promovido o dia semanal de adoração eucarística e de oração pelas vocações sacerdotais. Para tanto, os Párocos poderão envolver as associações o organizações laicais (Apostolado da Oração, Movimentos, Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, grupos diversos…), sem deixar de se envolver também pessoalmente na promoção dessa e de outras iniciativas semelhantes. Teremos também uma oração pelos sacerdotes, a ser divulgada e promovida no meio do povo. Os jubileus sacerdotais e os aniversários de ordenação são outras ocasiões a serem valorizados especialmente neste ano.

Antes de encerrar esta carta, desejo ainda acrescentar isso: é minha convicção que o melhor efeito do Ano Sacerdotal será obtido mediante nosso testemunho de convicta e alegre gratidão a Deus pelo dom do sacerdócio, que nos foi dado, e pelo generoso, humilde e atento serviço ao povo, “nas coisas de Deus”. O povo, na sua fé simples e correta, vê em nós “homens de Deus” e espera receber de nós a “Bênção” de Deus (bênção grande!) e que o ajudemos a chegar mais perto de Deus. E tem razão, pois é esta mesma a missão que a Igreja nos confia e para isso unge nossas mãos. A todos sirvamos, portanto, em nome de Jesus Cristo, com renovada consciência e gratidão!

De minha parte, prometo escrever-lhes cada mês uma carta pessoal, abordando vários aspectos da vivência do sacerdócio. Acompanho-os e, nas suas missões, estou a seu lado com minha oração diária. Que o exemplo de vida sacerdotal do santo Cura de Ars inspire o zelo pastoral de todos. E São Paulo, Patrono de nossa Arquidiocese, interceda por nós e nos ajude a sermos discípulos e missionários de Jesus Cristo nesta cidade imensa!

Saúdo e abençoo a cada um, no afeto do coração sacerdotal de Cristo Jesus!


São Paulo, 19 de junho de 2009,

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, abertura do Ano Sacerdotal.



Card. D. Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo

Fonte: Site Diocese São Paulo