O sacerdote enquanto modelo para os fiéis

sao-joao-eudesMons. João Clá Dias, EP

Sendo visto pelos fiéis como alguém escolhido por Deus para guiá-los, o ministro ordenado deve ser sempre exemplo preclaro de virtude, como recomenda o Apóstolo a seu discípulo Tito: “Mostra-te em tudo modelo de bom comportamento: pela integridade na doutrina, gravidade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário seja confundido, não tendo a dizer de nós mal algum” (Tt 2, 7-8).

Com efeito, uma conduta irrepreensível, inflamada de caridade, dando testemunho da beleza da Igreja e da veracidade da mensagem evangélica, falará muito mais profunda e eficazmente às almas do que o mais lógico e eloquente dos discursos: “O ornato do mestre é a vida virtuosa do discípulo, como a saúde do enfermo redunda em louvor do médico. […] Se apresentarmos nossas boas obras, será louvada a doutrina de Cristo”.[1]

Por vezes, se interpreta a obrigação de dar exemplo, de ser modelo, num sentido minimalista: o de apenas cumprir mais ou menos os próprios deveres, no mesmo nível de todos os outros. E assim, pelo critério da mediania, procura-se contentar a própria consciência. Ora, quem é chamado a servir de exemplo para os outros não deve se comparar com os que lhe são iguais, mas com aqueles que alcançaram o mais alto grau de perfeição. Cristo, sim, é o verdadeiro modelo do ministro consagrado. É com Ele que o sacerdote deve configurar-se, não só pelo caráter sacramental, mas também pela imitação de Suas perfeições, de forma que nele os fiéis possam ver outro Cristo. Só assim estes se sentirão atraídos pelo bom exemplo de seu pastor e guia.

Dada a natureza social do homem, a boa reputação decorrente da prática da virtude leva os outros à imitação. Assim, quanto mais semelhança com Cristo encontrarem os fiéis nos ministros de Deus, tanto mais facilmente se deixarão guiar por eles. E, portanto, mais eficaz será o seu ministério, conforme comenta São Tomás:

 Ora, essa estima aos prelados da Igreja é necessária para a salvação dos fiéis; se estes não os reconhecerem como ministros de Cristo, não lhes obedecerão como a Cristo, segundo lê-se na epístola aos Gálatas (4, 14): “Recebestes-me como um Anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus”. Ainda mais, se não os reconhecerem como dispensadores, se recusarão a receber deles os dons, contrariamente ao que diz o mesmo Apóstolo: “O que eu dei, se alguma coisa dei, foi por amor a vós, na pessoa de Cristo” (2 Cor 2, 10).[2]

 

Essa estima pelos sacerdotes, tão importante para a plena eficácia de seu múnus, depende também da veneração que os fiéis tenham pelo sacerdócio enquanto tal. São Francisco de Assis, por exemplo, que nunca quis receber a ordenação presbiteral, por considerá-la uma dignidade excessiva para si, tinha pelo sacerdócio tal respeito que chegava a oscular o lugar por onde passava um sacerdote.

 

CLÁ DIAS, João. A Santidade do sacerdote à luz de São Tomás de Aquino. in: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 8, jul-set 2009. p. 14-15 

 

[1] Super Tit. cap. 2, lec. 2.

[2] Super II Cor. cap. IV. lec. 1.


O chamado à perfeição

vaticanoDiác. José Victorino de Andrade, EP

“Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 48). Para São Tomás de Aquino, esta proposta que Nosso Senhor nos faz na sequência do Sermão das Bem-Aventuranças não pode ser inatingível pelo homem, pois neste caso jamais lhe poderia ser prescrito pela lei divina.[1] Portanto, tem de ser possível chegar à perfeição nesta vida, e esta consiste, de acordo com Santo Agostinho, na ausência dos desejos desordenados que se opõem à caridade. O Aquinate acrescenta a esta doutrina tudo quanto possa impedir que o afeto da mente se dirija totalmente a Deus, sem o que não poderá haver caridade, que é a perfeição da vida cristã.[2] O Catecismo da Igreja Católica aclara esta questão:

O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade, que é o “vínculo da perfeição” (Cl 3,14); é a forma das virtudes, articulando-as e ordenando-as entre si; é fonte e termo de sua prática cristã. A caridade assegura e purifica nossa capacidade humana de amar, elevando-a à perfeição sobrenatural do amor divino.[3]

 

Embora alguns autores prefiram distinguir o convite à perfeição da vocação à santidade, os termos se interpenetram na medida em que a perfeição pode e deve ser um notável caminho para a santificação.[4] De acordo com São Paulo (cf. Cl 1, 28), é a perfeição em Cristo que os homens devem almejar para se apresentar diante de Deus. O próprio Concílio recordou que “todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”,[5] ou seja, à santidade.

A aliança estabelecida por Deus com os homens trouxe-lhes, já no Antigo Testamento, um forte apelo à santidade, na medida em que cumprissem os preceitos por Ele estabelecidos. Mais do que os ritos prescritos,[6] este convite abrangia as variadas dimensões morais do Povo Eleito, manifestando-se, por exemplo, quando o Senhor fala pela boca de Isaías e se revela adverso em relação ao culto prestado por aqueles cuja malícia está em seu coração, e exorta a uma purificação, a fim de os homens se voltarem para a caridade e a justiça (cf. Is 1, 15-17). Assim, através de uma vida coerente com a Lei e o culto, Deus, só Ele Santo, deseja comunicar a sua santidade ao povo que cumpre Suas exigências e formar uma nação santa (cf. Ex 19,6).

Pedro, em sua Primeira Epístola, recordará este chamado à santidade (cf. I Pd 1, 15-16) retomando-o e dotando-o de uma nova perspectiva, iluminada pela Redenção, exortando assim a uma peregrinação terrena configurada com Cristo e conformada ao caráter soteriológico de sua encarnação.

VICTORINO DE ANDRADE, José. Editorial. in: Revista Lumen Veritatis. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n.8, jul-set 2009, p. 3-5.

[1] Cf. Sum. Theol. II-II Q. 184, a. 2.

[2] Idem.

[3] Catecismo da Igreja Católica n. 1827.

[4] Ver a este respeito NETTO DE OLIVEIRA, José. Perfeição ou Santidade e outros textos espirituais. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2002.

[5] Lumen Gentium, 40

[6] Ver Ex 22, 30; Lv 11, 44; 19, 2.

 

 

O sacerdote segundo o Santo Cura d’Ars

cure_arsO sacerdote

 A ordem: é um sacramento que não parece dizer nada a nenhum de vocês, mas diz respeito a todos.

 É o sacerdote quem continua a obra da Ressurreição na terra.

 Quando vocês vêem o sacerdote, pensem em Nosso Senhor Jesus Cristo.

 O sacerdote não é sacerdote para si mesmo, mas por vocês.

Tentem se confessar com a Santa Virgem ou com um anjo. Eles os absolverão? Darão o corpo e o sangue de Nosso Senhor a vocês? Não, a Santa Virgem não pode trazer seu divino Filho na hóstia. Ainda que vocês tivessem duzentos anjos a sua disposição, eles não poderiam absolvê-los. Um sacerdote, por mais simples que seja, pode fazer isso. Ele pode lhes dizer: vão em paz, eu os perdôo.

Oh, o sacerdote é algo realmente grande!

Um bom pastor, um pastor de acordo com o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia, e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina.

O Sacerdócio é o amor do coração de Jesus.

Deixem uma paróquia vinte anos sem sacerdote: ali os animais serão adorados.

Extraído de: http://arsnet.org 

Também em http://www.annussacerdotalis.org

Papel dos simbolos para conhecer a Deus

Irmã Angela Maria Tomé, EP

“Não conhecemos a Deus diretamente, mas através das criaturas, segundo a relação de princípio e pelo modo da excelência e da negação.” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.)

Afirma São Tomás ainda: “é natural ao homem elevar-se ao inteligível pelo sensível, porque todo o nosso conhecimento se origina a partir dos sentidos.” (AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. I, q. 1, 9,  2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.)

Pela razão, isto é, pelo mero esforço de sua inteligência, considerando o universo, o homem pode concluir, em todo o rigor da lógica, a existência de um Deus pessoal e eterno, a espiritualidade da alma, o livro arbítrio e quantas outras verdades teológicas e filosóficas, tal como fizeram Platão e Aristóteles.

 No entanto, o homem é constituído de corpo e de alma e não se sente plenamente satisfeito enquanto seus sentidos não puderem captar aquilo que seu espírito concebeu. Essa necessidade se torna ainda mais intensa e primordial quando se trata dAquele que nos criou: mais do que tudo, temos desejo de ver a Deus com os olhos da carne, depois de o termos percebido através dos olhos da alma.

transfAcontece, porém, que Deus não pode se manifestar visivelmente ao homem, pois este se desconjuntaria inteiro diante de sua infinita e sobrenatural magnificência (Suma Teológica, q. 12, 3). Para remediar essa impossibilidade, o Senhor dispôs de modo santo e maravilhoso que nossos sentidos tivessem, de alguma forma, o conhecimento dEle. Essa percepção nos é dada através dos símbolos.

O símbolo ajuda a sensibilidade a se elevar às alturas onde o intelecto do homem foi conduzido pela razão, e, sobretudo, pela fé.

Como pode o homem suprir as necessidades espirituais

600x800-sameiroDiác. José Victorino de Andrade, EP

 

É patente a necessidade que a alma humana tem de entrar em contato com múltiplos objetos externos, sem descurar aspectos como a beleza, a sublimidade e o sagrado. A sua hipotética carência levaria a alma a um operar tão defeituoso e resultaria num tal desequilíbrio que o homem correria o risco de deixar na atrofia suas potências, e reduziria sua vida ao simples fato de existir.[1]

 

 

Uma ainda que pálida imagem desta necessidade encontra-se no mundo animal: os cavalos que trabalhavam outrora nas minas, por vezes vários dias seguidos nos túneis iluminados artificialmente, quando eram trazidos à luz do sol, revelavam a sua alegria relinchando e pulando, manifestações próprias à sua natureza.

           

Da mesma forma, também o homem sente esta necessidade, de sair da rotina e da monotonia de sensações que lhe possam ser causadas, inclusive, por um trabalho cotidiano e repetitivo, compreendendo-se as múltiplas formas licitas de lazer e entretenimento que lhe possam ser oferecidas. Aqui entra um notório e importante papel do Estado e do poder público, portanto, temporal, no oferecimento de alternativas saudáveis e formativas que permitam ao homem desfrutar de lícitos prazeres e atrações. Embora estes jamais poderiam suprir a necessidade espiritual, inerente ao homem por força da atração exercida por Deus[2] e dificilmente substituída por qualquer outra atividade que não compreenda este aspecto, como a participação na eucaristia dominical. É em Cristo, fonte de água viva, que o homem sacia definitivamente a sua sede, enquanto as outras apenas temporariamente satisfazem e não conduzem à vida eterna.[3]

 

 


[1] Cf. Correa de Oliveira. Notas para a Conceituação da Cristandade, Década de 50. p. 8.(Extraído do Original).

[2] Ver Catecismo Igreja Católica, 27.

[3] Ver Jo. 4, 10-15

Os Fundadores e a Fundação: desígnio divino, na Igreja e para a Igreja

joao-boscoMons. João Clá Dias, EP

Os movimentos são instrumentos do Espírito Santo para revitalizar Sua Igreja, e, por serem realidades comunitárias essencialmente carismáticas, têm sua gênese num carisma determinado, dotado de originalidade própria, concedido por Ele à pessoa do fundador ou fundadores. Esse dom, por sua própria natureza, ao mesmo tempo é pessoal e comunicativo[1], por ser dado para benefício da Igreja e o bem espiritual dos fiéis, “suscitados pelo Espírito de Cristo para um novo impulso apostólico da inteira estrutura eclesial” (informação verbal).[2]

Com efeito, como explica o Cardeal Ratzinger (2007, p. 40) na sua conferência sobre os movimentos eclesiais, “Deus suscita incessantemente homens proféticos — sejam eles leigos, religiosos, ou, também, bispos e padres — os quais Lhe lançam um apelo que, no curso normal da instituição[3], não atingiria a força necessária”.

Portanto, quer o fundador, quer a fundação, são suscitados por um desígnio divino, na Igreja e para a Igreja. Nenhuma razão há para qualquer vã complacência a respeito dos méritos pessoais daquele que funda, ou mesmo de seus seguidores, pois não o realizam por si, mas pelo dom e pela força de Deus que, olhando o seu nada, faz neles maravilhas (cf. Lc, 48-49).

Com efeito, pelo fato de serem alguns dos fundadores suscitados fora das estruturas hierárquicas da Igreja, portanto no laicato, poderia haver uma tendência a achar que esses dons seriam meramente pessoais, fruto da própria inteligência. Por isso, é de capital importância haver esse senso eclesial, que nos fundadores é uma nota dominante e os leva a se inserirem plenamente na comunhão da Igreja.

DIAS, João Scognamiglio Clá. Considerações sobre a gênese e o desenvolvimento do movimento dos Arautos do Evangelho e seu enquadramento jurídico, 2008. Tese de Mestrado em Direito Canônico — Pontifício Instituto de Direito Canônico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. p. 22-23.

[1] “Pela sua natureza, os carismas são comunicativos e fazem nascer aquela ‘afinidade espiritual entre pessoas’ (cf. Christifideles laici, 24) e aquela amizade em Cristo que dá origem aos movimentos. A passagem do carisma originário ao movimento acontece pela misteriosa atração exercida pelo fundador sobre quantos se deixam envolver na sua experiência espiritual.” (João Paulo II, Discurso em 30 de maio de 1998).

[2] João Paulo II. Mensagem em 27 de maio 1998.

[3] Refere-se à Igreja enquanto sociedade visível.


Sto. Agostinho e a questão do mal em resposta aos Maniqueus

santo-agostinho1Pe. Mário Sérgio Sperche, EP

 

 

Aquilo que, segundo Sto. Agostinho, desmente irrefutavelmente o próprio princípio do maniqueísmo é o carácter fundamental de Deus: a incorruptibilidade que é própria de Deus na medida em que é o próprio Ser. Os Maniqueus admitiam que Deus devia combater eternamente com o princípio do mal. Mas se o princípio do mal pode prejudicar Deus, Deus não é incorruptível porque pode receber uma ofensa. E se não pode ser ofendido, falta algum motivo por que Deus tenha de combater (ver também em Conf, VII, 2). Assim o reconhecimento da incorruptibilidade de Deus retira todo o fundamento à afirmação maniqueia de um princípio do mal; mas ao mesmo tempo volta a propor em toda a sua urgência e grandiosidade o problema do mal no mundo. Se Deus é o autor de tudo e também do homem, donde deriva o mal? Se do mal é autor o diabo, donde deriva o próprio diabo? Se o mal depende da matéria de que o mundo é formado, porque é que Deus ao ordená-la deixou nela um resíduo de mal? Qualquer que seja a solução a que se recorra, a realidade do mal contradiz a bondade perfeita de Deus: não resta, pois, mais que negar a realidade do mal. E tal é a solução por que se decidiu Sto. Agostinho.

            Tudo aquilo que é, enquanto é, é bom. Também as coisas corruptíveis são boas, dado que se tais não fossem não poderiam, corrompendo-se, perder a sua bondade. Mas à medida que se corrompem, elas não perdem apenas a bondade, mas também a realidade; dado que se perdessem a bondade continuando a ser, chegariam a um ponto em que seriam privadas de toda a bondade e, contudo, seriam reais, portanto incorruptíveis. Mas incorruptível é Deus e é absurdo supor que, as coisas, corrompendo-se, se aproximam de Deus. É necessário, pois, admitir que, à medida que se corrompem, as coisas perdem a sua realidade, que o mal absoluto é o nada absoluto e que o ser e o bem coincidem (Conf, VII, 12 ss).

 

SPERCHE, Mario Sérgio. A problemática do mal na vida, formação e conversão de Sto Agostinho. Paper Estudios antiguos y medievales – Dr. Gonzalo Soto. Maestria en Teología Moral. UPB.

La Iglesia: una realidad cristocéntrica – teología de Santo Tomás

Pe. José Francisco Hernández Medina, EPtomas-de-aquino

 

Uno de los puntos doctrinales más originales de la teología de Santo Tomás está precisamente en mostrar como la Iglesia es una realidad cristológica y como toda la vida sobrenatural nos conforma a Cristo. Al igual que los teólogos de la época, S. Tomás tenía presente la importancia del tratado de «Christo capite» para la teología de la Iglesia; sólo él, sin embargo, atribuye a la humanidad del Verbo una causalidad instrumental física.

 

De sus puntos de vista, sobre la Iglesia[1], se pueden señalar los siguientes:

1- La Eucaristía como el centro y culmen porque contiene al mismo Cristo, el cual es el bien común de toda la Iglesia.

2- Debido al carácter sacramental, el cristiano participa del sacerdocio de Cristo, y lo ejercita en la vida de la Iglesia.

3- La gracia del Espíritu Santo que está acompañada de elementos visibles, es lo más importante de la Iglesia. Este es uno de los temas más importantes y originales de la teología tomista.

4- Su visión sobre las estructuras exteriores de la Iglesia, sigue la visión corporativista de la época.

5- En cuanto a las relaciones entre el orden temporal y el espiritual, no sólo distingue dos funciones diversas (como lo hacían los demás teólogos), sino que ve en ellos dos dominios claramente definidos. Pero como el fin del hombre es uno, Tomás sostiene la subordinación del “regnum al sacerdocium”[2].

En Santo Tomás tenemos, por lo tanto, una, podríamos decir, eclesiología indirecta, se encuentra en todas partes[3], por así decir y entiende la Iglesia como fruto de la acción salvífica de Cristo, fruto de la gracia «iniciada en Abel»[4]. Su originalidad está en haber percibido la primacía del aspecto de la unión con Dios respecto a los medios visibles, del aspecto de comunión sobre la estructura de la sociedad.

Tal vez el punto de mayor profundidad en la doctrina de Santo Tomás sobre la Iglesia podamos encontrarla reflejada en la expresión que designa a Cristo y a la Iglesia como constituyendo místicamente una persona[5].

 

HERNÁNDEZ MEDINA, José Francisco. La «Congregati Fidelium» en Santo Tomás de Aquino. Universidad Gregoriana. Facultad de Teología. Departamento de Teología Fundamental. 2008


[1] Cf. Pié-Ninot S., Ecclesiologia, Brescia 2008, 71.

[2] Cf. Congar Y., L’Eglise de Saint Augustin à l’époque moderne, Paris  1970 .

[3] Cf. Occhipinti G.,  Storia della Teologia 2, Roma 1996, 183.

[4] Cf. Congar Y., «Ecclesia ab Abel», in Abhandlungen über Theologie und Kirche. Festschrift für Karl Adam, Düsseldorf, 1952, 78-108.

[5] Cf. Occhipinti G.,  Storia della Teologia 2, Roma 1996, 185.

Carismi di ringiovanimento

                      José Manuel Jiménez Aleixandrejanela, EP

 

L’Annuario Pontificio nelle sue Note Storiche rappresenta “le diverse forme che la vita religiosa ha avuto nel corso della storia”[1], accennando alle novità che ogni nuova conformazione giuridica (non prevista negli ordina­menti anteriori – notiamo bene) ha portato. In alcuni casi, la novità non è rimasta circoscritta al nuovo istituto, ma si è “trasmesso alle forme religiose posteriori”[2].

In altri casi, è la traditio degli antenati che è accomodata ai “diversi bisogni dei tempi, pur non rendendola meno severa”; e qui arriviamo al punto che ci interessa.

La figura di Santa Teresa d’Avila – la grande riformatrice e ringiovanitrice – appare, nel XVI secolo, come una novità che, in realtà, è solo una vita in profondità della concretezza già esistente. La non accettazione per tutti i religiosi carmelitani, del suo modo di capire la Regola, fa nascere un nuovo Istituto (maschile e femminile) sviluppatosi per tutta la Chiesa. Notiamo inoltre che questa non accettazione degli  osservanti è soltanto una fedeltà al carisma fondazionale, nel modo fino allora conosciuto e vissuto, e che come forma vitae aveva dato grande copia di santi.

San Bernardo sarebbe un altro esempio, avendo preso la stessa regola di Benedetto (la quale fino ad oggi ha fatto sorgere tante forme diverse).

Possiamo dire che un carisma nuovo può essere in rapporto con un altro carisma; il quale, o è stato dimenticato, o può essere vissuto in diversa profondità. Da questo incontro, può sorgere sia un riadattamento delle forme giuridiche antiche, senza cambiamento sostanziale; sia delle nuove forme giuridiche.

In un certo senso la varietà di forme giuridiche nate dal carisma di Francesco di Assisi sembra indicare questa seconda strada: il carisma vissuto in una fedeltà compresa in modi diversi[3]; senza dover (ne poter) dire che una forma sia superiore all’altra. Una delle ragioni è che un carisma fondazionale non è compreso al di fuori dei seguaci[4], dunque lo studio fatto dall’esterno, in modo più o meno teorico, potrebbe facilmente portare a delle conclusione sbagliate.

Possiamo, dunque, parlare di carismi fondazionali e carismi di ringiovani­men­to. I quali, ovviamente, possono dare origine a delle forme giuridiche variegate fino al… infinito? Si, in quanto infinito è lo Spirito che ispira e dirige. Almeno teoricamente; perché tutto quello che è umano è sempre limitato, e la Storia umana ha inizio e termine.

 

JIMÉNEZ ALEIXANDRE, José Manuel. Le recenti proposte di configurazione canonica dei nuovi movimenti ecclesiali. Studium Generale Marcianum. Istituto Superiore di Scienze Religiose San Lorenzo Giustiniani. Tesina di Licenza. p. 67-69. Venezia, venerdì 23 ottobre 2009


[1] Annuario Pontificio 2007, 1943.

[2] Annuario Pontificio 2007, 1944.

[3] Un grande storico francescano, Lazaro Iriarte OFM Cap., nella Historia Francis­cana fa uno sviluppo delle difficoltà degli uomini, e delle azioni dello Spirito  lungo i secoli, nei seguaci di Francesco. Già in vita dal fondatore, sorge il “partito de los letrados” – che possiamo chiamare “degli intellettuali” – i quali approfittando un viaggio a Gerusalemme dal poverello, “dicto varios estatutos adicionales, dirigidos a comunicar a la orden un prestigio ascético” (62) diverso dal carisma fondazionale. Ritornando a Assisi “el disgusto de Francisco fue acerbo … se sintió impotente para enfrentarse con el sagaz partido … era inevitable la escisión de la orden en dos tendencias  opuestas” (63). Queste difficoltà continueranno lungo i secoli, dando origine a nuovi istituti, alcuni con incipit così rattristanti come i cappuccini, con Bernardino Ochino, prima Vicario Generale, e poi diventato pastore luterano; Matteo da Bascio e Ludovico di Fossombrone, ambedue superiori dell’ordine, e dopo espulsi a causa della loro indocilità. Questo non ha impedito che fino ad oggi ci sono stati dei grandi santi cappuccini, come S. Leopoldo Mandic o S. Pio da Pietralcina.

[4] Il cosiddetto “carisma di discepolo” è poco approfondito, ma tanto reale. Perché di tre sorelle, in una piccola cittadina senza molta comunicazione con l’esteriore, una si sposa, l’altra diventa clarissa, e l’altra ancora missionaria in Giappone? Evidente­mente hanno delle vocazioni diverse. Una ha compreso che, per lei, Chiara di Assisi sarà il suo modello, la fondatrice alla quale conformerà la sua vita, per conformarla a Cristo. É preciso ter sido chamado a viver o mesmo carisma para compreendê-lo. O discípulo, por obra do Espírito Santo, alcança um grau de afinidade com o espírito do Fundador por onde vibra em contato com qualquer manifestação dele. É o «carisma dos discípulos»”, dice Canals, e cita, tra altri, a Romano (162-163): “O dom que o Espírito confere aos que são chamados por ele a formar parte de uma comunidade religiosa. Desta maneira os discípulos alcançam uma particular afinidade com o espírito do fundador, que os faz vibrar de entusiasmo ao entrar em contato com a manifestação autêntica de seu espírito, e os leva a viver em sintonia com a forma evangélica encarnada pelo fundador.

Unidade e variedade no seio da Igreja

catedraMons. João Clá Dias

Na Santa Igreja Católica, o mistério do Verbo Encarnado reflete-se à maneira de um espelho. Com efeito, é em Cristo Jesus, Deus e Homem verdadeiro, que as duas naturezas — divina e humana — unem-se hipostaticamente numa só Pessoa Divina; analogamente, a Igreja é formada por dois elementos: o carismático e o humano, o social e o visível.

Algo semelhante se verifica ao considerarmos a Esposa de Cristo em sua unidade e diversidade, bem como em sua insuperável catolicidade. Ela é una por sua fonte divina, por seu Fundador e por sua “alma”, que é o Espírito Santo. Faz parte de sua própria essência ser una (CIC, n. 813; 814). Não obstante, no decorrer de sua longa história, ela se apresenta com uma “grande diversidade”, notória tanto na “variedade dos dons de Deus” quanto na “multiplicidade das pessoas que os recebem” (CIC, n. 814).

São Paulo se refere a essa característica — a unidade na variedade — ressaltando que nela há “diversidade de dons, mas um só Espírito” (1 Cor 12, 4). Ante a abundância das manifestações carismáticas entre os fiéis, o Apóstolo orienta os discípulos a não perder de vista a unidade da Igreja, o “Corpo de Cristo” (1 Cor 12, 27). Todos os carismas — sabedoria, palavra de ciência, discernimento dos espíritos, e tantos outros (cf. 1 Cor 12, 8-10) — procedem de uma só fonte: é Deus mesmo quem “opera tudo em todos” (1 Cor 12, 6). E a Lumen Gentium, sintetizando três passagens das cartas paulinas, menciona a ação do Espírito Santo para unificar a Igreja “na comunhão e no ministério” e acrescenta que Ele a “enriquece, guia com diversos dons hierárquicos e carismáticos, e embeleza com os seus frutos” (n. 4).

CLÁ DIAS, João. Os novos movimentos: Quando espírito e jurisprudência se encontram. in: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 6, jan-mar 2008. p. 10.