A vida contemplativa de São Tomás

Diác. Inácio de Araújo Almeida, EP

Ao tratar sobre a vida contemplativa de São Tomás, Maritain afirmou que “se a sua santidade foi a santidade da inteligência, é porque nele a vida de inteligência era inteiramente sustentada e iluminada pelo fogo da contemplação infusa e pelos dons do Espírito Santo”.1 Esse autor francês também nos recorda que o Angélico “rezava continuamente, chorava, jejuava, desejava. Cada um dos seus silogismos é como um coagular-se da sua oração e das suas lágrimas. E a graça da lúcida serenidade que a sua palavra nos causa, provém indubitavelmente do fato de que também o menor dos seus textos permanece invisivelmente impregnado do seu desejo e da força pura do mais ardente amor. A obra-prima da intelectualidade pura e rigorosa transborda de um coração possuído de caridade”.2

São Tomás tinha bem presente que a vida acadêmica distanciada de sua finalidade sobrenatural pode trazer desastrosas consequências. Na Suma Teológica explica que o estudo é, em si mesmo, ordenado à aquisição da ciência, mas quando se almeja a ciência “sem a caridade, esta incha e produz dissensões”.3 De modo contrário, quando a ciência é acompanhada pela caridade, edifica e gera a concórdia. Em seu primeiro período de docência em Paris, alguns dos professores seculares levantaram a objeção de que o ensino universitário seria incompatível com a vida religiosa. São Tomás logo procurou refutar essa teoria, e é certamente por esse motivo que na Suma Teológica se argumenta que o estudo é próprio ao estado religioso por três razões: a primeira delas, por favorecer diretamente a contemplação, iluminando o entendimento. A segunda, porque aparta os obstáculos à contemplação, ou seja, os erros que são frequentes por parte daqueles que desconhecem as Escrituras. Em terceiro lugar, porque o estudo nos afasta da concupiscência da carne e, além do mais, é útil para adquirir a virtude da obediência.4

Quando o Angélico escrevia, tinha como intenção primordial o louvor a Deus e o bem das almas. Ele trabalhava incansavelmente a fim de que Cristo fosse cada vez mais conhecido e amado. Por essa razão, Innos Biffi, comentando as obras de São Tomás, dizia que a Suma Teológica era “acima de tudo uma iniciativa de amor; não uma arrogante pretensão de exaurir a insondabilidade de Deus, mas, sim, o reconhecimento de sua transcendência, que, entretanto, é pela graça que realmente é comunicada ao homem. Para amar se deseja saber, e nada é mais digno de ser amado que Deus. E é este amor e esta paixão que sentimos circular nos infinitos e surpreendentes trechos das partes, das questões e dos intermináveis artigos da Suma Teológica de São Tomás, que foi um dos mais altos místicos da cristandade”. 5

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1) Maritain, Jacques. Le docteur angélique. Fribourg: Éditions Universitaires; Paris: Saint Paul, 1983, p. 51.

2) Loc. cit.

3) Summa Theologiae, II-II, q. 188, a. 5, ad 2.

4) Summa Theologiae, II-II, q. 188, a. 5, co.

5) Biffi, Inos. Cattedrali della teologia, Le pietre e le idee. L’Osservatore Romano, 1 maio 2010.

A castidade da inteligência

Mons. João S. Clá Dias, EP

A virtude da Fé facilita penetrar além dos umbrais de nossa acanhada natureza, e tomar consciência das profundezas dos liames que unem o universo a Deus. O Criador o transcende infinitamente e, portanto, não há a menor confusão entre Ele e a criação. Porém, é Deus quem mantém as criaturas no ser, como também cada um de seus elementos constitutivos, e até mesmo, é a causa eficiente da santidade que possa existir em cada uma delas. Daí ser-nos necessário o apoio das Sagradas Letras para aprimorar em nós o senso de Deus. Nelas encontraremos as verdades claramente expostas com extremo fervor por Cristo Jesus, sobre a vida íntima de Deus, os atributos do Pai e do Espírito Santo etc.

Assim, a presença de Deus e a própria ação divina, tanto a permanente quanto a atual, sobre todas as criaturas, serão discernidas — ainda que muitas vezes em meio a uma certa penumbra — por uma Fé robusta e viva. E isto consistirá, de certo modo, em alguma participação no conhecimento que Deus possui sobre Si mesmo e sobre o universo. Será a mais elevada vida intelectual, na qual a intensidade dessa virtude teologal determinará maior ou menor penetração (e domínio) desta, naquela.

A Fé, portanto, não constitui um estorvo para a cultura como erroneamente poderia parecer a espíritos menos avisados. Muito pelo contrário, determinação, certeza e substância são conferidas à inteligência que nela se fundamenta. Ela diviniza as qualidades humanas, e jamais as prejudica. E nossa inteligência, assim divinizada, passa a compreender tudo sob o prisma de Deus. Aí estará alojada a castidade de nossa inteligência que consistirá numa íntegra lealdade em face das realidades objetivas e do próprio Deus, tudo analisado com uma esplendorosa clareza devido a uma maior ou menor participação no conhecimento incriado. Ela é um precioso fruto da plena doação de nossa inteligência a Deus, fruto, por sua vez, da iniciativa dEle em nos escolher e de nós tomar posse: “Não fostes vós que me escolhestes mas, fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16).

A abertura a Deus como problema do senso e senso do problema em Juan Alfaro

Pe. François Bandet, EP

Na sua reflexão, Alfaro parte da experiência real do homem no próprio ato de existir. O que sou eu? Coisa que o homem se interroga a si mesmo e em cujo ato ele deve também tomar posição a seu respeito, enfrentando um problema que o estimula a procurar uma resposta. Não se trata de uma pergunta meramente teórica, mas conseqüentemente prática porque coloca em questão a sua liberdade.

No indagar a possível resposta a tal questão, qualquer um rende-se à evidência de não ser plenamente ele próprio, que é chamado a construir-se, a ser mais ele próprio através do liame com os outros. O paradoxo do homem de ser ele próprio, não podendo ao mesmo tempo ser plenamente ele próprio, faz do homem um mistério somente a ele próprio.

O homem toma também conta de não existir desde sempre e para sempre. De onde a revelação da limitação da experiência humana. A experiência de não vir ao mundo por ele próprio e de ter recebido uma existência não optada, resulta necessariamente na dúvida: “De onde venho? Porque vivo?”.[1] A morte faz que o momento transitório da nossa existência seja irreversível e irrepetível. Inicialmente é melhor formular a pergunta de um modo mais simples: “Vale a pena viver? A vida merece ser tomada a sério?”

Neste sentido, a fórmula de Kant permanece sempre muito atual: “O que posso saber, o que devo fazer, o que me é permitido esperar?”.[2] Trata-se de três aspectos de uma mesma questão: “O que é o homem?”.[3]

O homem é permanentemente projetado ao porvir esperado, mesmo posta qualquer outra meta em acréscimo.

O homem é livre e empenha a própria liberdade na decisão concreta que não pode realizar e levar ao fim sem interrogar-se o porquê disto. O porquê de toda a opção leva a que observe por si a questão do sentido último da existência humana. Em tal perspectiva, a questão do sentido último da vida toma um caráter transcendental. O homem poderá tomar o sentido da própria vida em apenas um ato que envolve toda a sua pessoa. Não basta o puramente contemplativo “conhece-te a ti mesmo”; é preciso o “constrói-te” a ti mesmo na autenticidade.[4] O homem pode ser definido como o criador da linguagem, da técnica, da cultura, da história etc. Porém, a característica mais evidente do ser humano é o fato que ele tem como destino procurar o sentido último da sua vida: “O homem foi posto no mundo à procura de si mesmo e do seu fim”.[5]

Segundo Alfaro, o problema do sentido último da vida transcende o campo do empiricamente verificável e, portanto, supera a competência da ciência. Isto quer dizer que o problema do sentido último implica que a resposta não possa ser evidente. Se fosse evidente, de fato, o homem não seria livre. Uma demonstração evidente do sentido último da vida permanece, por enquanto, excluída. Pode-se, em vez disso, fazer não tanto uma demonstração mas uma exposição, isto é, uma compreensão dos motivos, suficiente para justificar a opção, pois uma demonstração da evidência não deixaria a possibilidade da opção.

Posto isto, agora, onde se pode chegar, de onde se deve partir e como se deve proceder? Alfaro diz que se pode chegar à compreensão da resposta a dar ao problema do sentido da vida humana.[6] Por esse motivo, precisa saber de onde se deve partir; o ponto de partida será a esperança, e em concreto, a experiência essencial que é a experiência que o homem vive no ato de existir: a experiência do mundo, da morte e da história. Partir da experiência humana total é de importância decisiva para a reflexão sobre o problema do sentido da vida.

Uma vez assumido como ponto de partida a experiência humana total, o passo seguinte terá caráter fenomenológico: A realidade “aparece” no fenômeno, que é o apontamento do seu “mostrar-se” originário. O Homem, desta forma, não pode contentar-se a viver e experimentar, renunciando a entender a realidade. Então, após a análise formal do problema do sentido da vida humana, será necessário entrar na discussão sobre se a vida tem ou não sentido.

O método que Alfaro segue é o seguinte:

a) Existencial: o ponto de partida é a realidade do homem;

b) Fenomenológico: Faz que a pergunta nasça da realidade completa e parte de um método que leva em consideração o ser numa situação concreta;

c) Transcendental: Procura a razão profunda que transcende o fenômeno e a existência.[7]

Dado que o homem não tem uma experiência imediata de Deus, deve aceitar que o problema de Deus será possível apenas enquanto experiência da qual nasce o problema do homem que culmina pela sua natureza em qualquer coisa que é outro homem, o mundo e a história. Para Alfaro isto significa então que o problema de Deus poderá surgir apenas enquanto conexo ao problema do homem.

É preciso dizer que se o homem não fosse constitutivamente aberto ao transcendente, não se poderia sequer se aproximar de Deus. O problema de Deus é correlato ao problema do homem.

Se não é possível dar ao problema do homem uma resposta “demonstrativa”, mas apenas “mostrativa”, analogamente seria impossível dar uma resposta “demonstrativa” ao problema de Deus.[8]


[1] Idem, ibidem, p. 12-13.

[2] Cf. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura (Kritik der reinen Vernunft).

[3] ALFARO, Juan. Dal problema dell’uomo al problema di Dio (1988), Queriniana, Brescia, 1991, p. 26.

[4] Idem, ibidem, p. 17.

[5] Idem, ibidem.

[6] Cf. Idem, ibidem, p. 19.

[7] Idem, ibidem, p. 21.

[8] Idem, ibidem., p. 23.

Missão de Arautos do Evangelho no Direito Canônico

Pe. Antônio Guerra, EP

Em relação ao CIC17 e ao modo de pensar anterior, encontramos uma novidade fundamental relativa às missões no atual CIC 83. Até o início do século XX consideravam-se na Igreja dois tipos de territórios. De um lado se encontravam os “territórios da cristandade” onde a Igreja estava estabelecida com dioceses e todos os seus organismos de governo. De outro lado haviam as chamadas “terras de missão”, onde a maioria da população não era católica. Nos “territórios da cristandade”, a maioria da população era constituída por católicos ― mais ou menos praticantes ― e isto fazia com que o surgimento de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada fossem suficientes para atender aos fiéis desses territórios e, inclusive, proporcionava a possibilidade de que alguns saíssem a outros povos para levar a “Boa Nova do Evangelho.

Nas “terras de missão” não existia propriamente uma hierarquia estabelecida de modo completo, ou então esta era constituída por clérigos vindos de outros países. O pequeno número de vocações locais fazia necessário que se recebessem missionários para pregarem o Reino de Cristo.

Esses missionários ad gentes eram o que Pio XII denominou “arautos do Evangelho” em sua Encíclica de 1951[1]. Nela pedia “aos veneráveis irmãos patriarcas, primazes, arcebispos, bispos e outros ordinários locais em paz e comunhão com a Sé Apostólica […] para que a ação dos missionários se torne cada vez mais eficaz e para que não se perca em vão nem uma só gota do seu suor e do seu sangue[2]. E justificava a necessidade de um novo impulso missionário

É sumamente oportuno nestes tempos procelosos e ameaçadores, em que muitos povos se sentem divididos por interesses opostos, recomendar de novo a causa das missões, pois os arautos do evangelho são mensageiros da bondade humana e cristã, e a todos exortam à fraternidade e compreensão mútua, capaz de superar os conflitos dos povos e as fronteiras das nações[3].

O Papa Pacelli via na pregação e na aceitação do Evangelho a superação de muitos conflitos entre povos, e a instauração de um período de “bondade humana e cristã[4] contraposto aos “tempos procelosos e ameaçadores[5] em que vivia.

O Concílio julgou um dever chamar novamente a atenção dos católicos para a missão. Agora não somente ad gentes, mas também ad intra. Lembrou que, por meio do batismo, todos somos missionários por vocação divina.

Não apenas aqueles que, por especial chamado, podem ser denominados “Arautos do Evangelho”, pois deixam os “territórios da cristandade” para irem às “terras de missão”. Toda a Igreja é missionária. Nesse sentido, a missão ad gentes faz parte de sua constituição divina. Assim o comenta García Martín[6]

O Concílio Ecumênico Vaticano II afirmou claramente e proclamou solenemente que a Igreja por sua natureza é missionária[7]. O código de direito canônico recebeu esta doutrina determinando que o povo de Deus seja a Igreja à qual Deus confiou uma missão para ser cumprida no mundo […] [8]. A legislação eclesiástica no curso dos séculos foi reformada para responder fielmente à sua missão. Portanto, a novidade da legislação atual se refere, seja à natureza da Igreja como povo de Deus, seja à sua missão[9].

O CIC também explicita essa mesma doutrina de modo claro

c. 781 − Sendo que a Igreja toda é missionária por sua natureza e que a obra de evangelização é dever fundamental do povo de Deus, todos os fiéis conscientes da própria responsabilidade, assumam cada um a sua parte na obra missionária[10].

Toda a Igreja é missionária por natureza. Ora, esta missão foi dada por Deus quando a fundou, no momento em que o Sangue preciosíssimo de Cristo mesclado com a linfa saiu do seu costado aberto pela lança. E este primeiro ato foi eminentemente missionário; a linfa, caindo nos olhos do centurião cego deu-lhe a vista do corpo e da alma.

[1] Pio XII, Carta Encíclica Evangelii Praecones sobre o fomento das Missões, 2/6/1951, 19. AAS 43 (1951), 497-528.

[2] Evangelii Praecones, 19. AAS 43 (1951), 497-528.

[3] Ibidem, 2. 19.

[4] Ibidem.

[5] Ibidem.

[6] Martin, Garcia. L’Azione missionaria nel Codex Iuris canonici, Ediurcla, Roma, 2005, 2º ed., p. 47.

[7] Nota do texto original: Conc. Ecum. Vaticano II, Const. Dogm. Lumen gentium, 17; decr. Ad Gentes, 2, 35. La suddetta espressione tottavia non è molto frequente, cfr. Ochoa, X., Index verborum cum documentis concilii Vaticani II, Romae 1966.

[8] Nota do texto original: Can 204, § 1. Il can. 781 riprende gli stessi principi.

[9] “Il concilio ecumenico Vaticano II ha affermato chiaramente e proclamato solennemente che la Chiesa per sua natura è missionaria. Il Codice di canonico ha recepito questa dottrina determinando che il popolo di Dio è la Chiesa cui Dio ha affidato una missione da compiere nel mondo… La legislazione ecclesiastica nel corso dei secoli è stata riformata per rispondere fedelmente alla sua missione. Pertanto la novità della legislazione attuale riguarda sia ecclesiastica nel corso dei secoli è stata riformata per rispondere fedelmente alla sua missione. Pertanto la novità della legislazione attuale riguarda sia la natura della Chiesa come popoli di Dio sia la sua missione” (Tradução minha).

[10] c. 781  Cum tota Ecclesia natura sua sit missionaria et opus evangelizationis ha­bendum sit fundamentale officium populi Dei, christifideles omnes, propriae res­ponsabilitatis conscii, partem suam in opere missionali assumant.

A eficácia do ministério sacerdotal

Mons. João S. Clá Dias, EP

A santidade de vida do sacerdote, como exemplo para os fiéis de Cristo, é possante elemento para conduzi-los à perfeição. Bem ressalta Dom Chautard que a um sacerdote santo corresponde um povo fervoroso; a um sacerdote fervoroso, um povo piedoso; a um sacerdote piedoso, um povo honesto; a um sacerdote honesto, um povo ímpio.[1] Grande é, pois, o papel da virtude do ministro, para o êxito de seu ministério.

No que respeita à aplicação do valor da Santa Missa, com finalidade propiciatória, é que se pode falar de sua eficácia subjetiva, dependente das disposições de quem a celebra e daqueles aos quais ela é aplicada, como explica São Tomás:

“Na satisfação atende-se mais à disposição de quem oferece do que à quantidade da oferenda. Por isso, o Senhor observou, a respeito da viúva que oferecia duas moedinhas, que ela ‘depositou mais que todos os outros’. Ainda que a oferenda da Eucaristia, quanto à sua quantidade, seja suficiente para satisfazer por toda a pena, contudo ela tem valor de satisfação para quem ela é oferecida ou para quem a oferece, conforme a medida de sua devoção, e não pela pena inteira”.[2]

A respeito deste trecho do Doutor Angélico, Robert Raulin faz o seguinte comentário: “Seria perniciosa ilusão acreditar que o ofertante está dispensado do fervor, sob pretexto de que Cristo, oferecendo-Se na Missa, satisfez plenamente por todos os pecados do mundo”.[3]

Outro argumento, ainda, apresenta o Aquinate, para vincular a eficácia da Eucaristia à devoção dos que se beneficiam do valor infinito deste augusto Sacramento:

“A Paixão de Cristo traz proveito a todos para a remissão da culpa, a obtenção da graça e da glória, mas o efeito só é produzido naqueles que se unem à Paixão de Cristo pela fé e caridade. Assim, também este Sacrifício, que é o memorial da Paixão do Senhor, só produz efeito naqueles que se unem a este Sacramento pela fé e caridade. […] Aproveitam, no entanto, mais ou menos, segundo a medida de sua devoção”.[4]

A especial obrigação dos sacerdotes em trilhar o caminho da santidade é reafirmada no decreto Presbyterorum ordinis: “Estão, porém, obrigados por especial razão, a buscar essa mesma perfeição visto que, consagrados de modo particular a Deus pela recepção da Ordem, se tornaram instrumentos vivos do sacerdócio eterno de Cristo”.[5] E de seu aperfeiçoamento pessoal, ensina o mencionado documento conciliar, decorrerá maior ou menor abundância de frutos de sua ação pastoral:

“A santidade dos presbíteros muito concorre para o desempenho frutuoso do seu ministério; ainda que a graça de Deus possa realizar a obra da salvação por ministros indignos, todavia, por lei ordinária, prefere Deus manifestar as suas maravilhas por meio daqueles que, dóceis ao impulso e direção do Espírito Santo, pela sua íntima união com Cristo e santidade de vida, podem dizer com o Apóstolo: ‘Se vivo, já não sou eu, é Cristo que vive em mim’” (Gl 2, 20).[6]

Ante esta realidade, o sacerdote tem dois grandes deveres. Um para consigo mesmo e outro para com o povo, pois ambos se beneficiam dos frutos da Santa Missa, especialmente o celebrante, conforme o grau de fervor ou devoção.[7]

Segundo alguns teólogos, este fruto especialíssimo da Santa Missa, destinado ao sacerdote, é maior do que o destinado aos demais participantes do Sacrifício Eucarístico, ou àqueles aos quais se aplica o seu valor. É neste manancial inesgotável da misericórdia de Deus que cada ministro ordenado deve ir buscar as melhores graças para a sua santificação, assim como a daqueles que lhe estão confiados:

“Por causa do poder do Espírito Santo, que pela unidade da caridade comunica os bens dos membros de Cristo entre si, acontece que o bem particular presente na Missa de um bom sacerdote se torna frutuoso para outras pessoas”.[8]

Dessa maneira, corresponderá ele à altíssima dignidade de seu ministério, segundo dizia o Santo Cura d’Ars:

“Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem há de prepará-la para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. […] Depois de Deus, o sacerdote é tudo! […] Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no Céu”.[9]


[1] Cf. CHAUTARD, OCSO, Jean-Baptiste. A Alma de todo o apostolado. Porto: Civilização, 2001, p. 34-35.

[2] S Th III, q. 79, a. 5, Resp.

[3] In: AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2006, v. 9, p. 358.

[4] S Th III q. 79, a. 7, ad 2.

[5] PO, n. 12.

[6] Idem.

[7] Cf. ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología Moral para Seglares. Madrid: BAC, 1994, v. 2, p. 158.

[8] S Th III q. 82, a. 6, ad 3.

[9] Palavras de São João Maria Vianney, citadas pelo Papa Bento XVI na Carta para Proclamação do Ano Sacerdotal, 16 jun. 2009.

A moral ideal convive com a razão e a lei inscrita no coração

Pe. José Victorino de Andrade, EP

Com certa força, reivindica-se hoje a aprovação de certas leis cuja índole a Igreja desaprova, o que constitui cada vez mais um desafio. Na verdade, o pós-modernismo tem tendência a desprezar as raízes da sua própria civilização, recusar qualquer hierarquia e suas representações e distanciar-se do Absoluto. Com reflexos no âmbito moral, este posicionamento fez com alguns pensadores pugnem por uma ética que não obrigue o legislador a ser influenciado por uma moral que se apoia na lei natural, a fim de unir os homens e fazê-los viver como se Deus não existisse.[1]

Entretanto, Sergio Belardinelli repara que “o esforço moderno de construir uma sociedade justa, feita de homens capazes de reconhecerem-se reciprocamente como se Deus não existisse, tem-se revelado um desastre”.[2] E adverte que pensar um mundo sem Deus, poderá significar em descaracterização e comprometimento do próprio homem. Flavia Monceri vai mais longe e pensa mesmo chamar ao diálogo aqueles que, sendo contrários à Igreja, possuem a responsabilidade histórica por tomarem certas posições filosóficas que resultaram no secularismo e no relativismo e consequente deriva niquilista da sociedade ocidental.[3]

Não é qualquer moral amiga da pessoa humana, conforme ensina Bento XVI na Caritas in Veritate (n. 45). É necessária uma moral descomprometida com ideologias e divergências, que não se submeta a tendências relativistas e transitórias de tempo e de lugar, mas que possa invariavelmente considerar o homem como imagem de Deus (Gn 1, 27). Esta moral não prescinde da razão, mas convive continuamente com Ela, tonificando-se por um lado e purificando-a por outro, a fim de que não se sobreponham interesses pessoais, mas subsista “a dignidade inviolável da pessoa humana e também o valor transcendente das normas morais naturais” (Caritas in Veritate, n. 45).

Em nossos dias, partindo da Revelação, a Igreja continua a provocar aquelas opções humanas redutoras do ser a utilitarismos hedonistas, egoístas e materialistas. Ela observa, julga e interage, colabora e intervém, para garantir que as perenes referências éticas não desrespeitem os mais básicos direitos humanos. Cria espaços para denunciar sempre que são feridos os princípios mais elementares da liberdade e da legítima autonomia institucional, ou mesmo quando certas decisões, apoiadas por massas equivocadas, optam por posições contrárias à dignidade e existência do ser, ou corrompem a recta razão e aquela ordem cujas referências nos foram deixadas pela Sabedoria Eterna e Encarnada.


[1] Cf. LECALDANO, Eugenio (2008). Un’etica senza Dio. Roma: Laterza. Também HOTTOIS, Gilbert (2005). De la Renaissance à la Postmodernité: Une histoire de la philosophie moderne et contemporaine. 3. ed.  Bruxelles: De Boeck Supérieur.

[2] D’AGOSTINO, Francesco et all. Cinisello Balsamo (It): San Paolo Edizioni. p. 146

[3] Idem.

O homem deve voltar-se para uma realidade que o transcende

Mons. João S. Clá Dias, EP

Deixou Deus a lei natural vincada de forma indelével no coração do homem, para que ela sempre lhe lembrasse o bem a ser praticado e o mal a ser evitado. Esta lei, todavia, não possui a eficácia de outrora sobre o livre-arbítrio do homem que, quando o emprega mal, a pode desprezar. Consentindo em realizar atos diferentes dos indicados pela própria consciência inocente e reta, ele busca justificá-los com falsos argumentos, a fim de encontrar abertas diante de si as portas para realizar novas ações contrárias à Lei.

Ao abraçar essa via, a criatura racional paulatina e progressivamente obnubila seu senso moral até reduzir ao mínimo sua noção de bem e de mal, assim como a dos outros transcendentais do ser. Trata-se de um dos maiores infortúnios que pode suceder ao homem, pois como consequência, passará a ostentar um “coração de pedra” (Ez 11, 19), no qual quase não mais se notarão as amorosas marcas da Lei impressas pelo dedo de Deus.

Com efeito, é inegável ter havido no século XX um vertiginoso progresso em todos os campos do conhecimento humano, do qual não ficou excluído o da filosofia. Empenhado este ramo do saber na busca da verdade, acabou, em nossa época, por concentrar sua atenção sobre o homem, favorecendo de alguma forma o progresso da cultura.

No entanto, como assinalou o Papa João Paulo II na Encíclica Fides et Ratio, a razão, por se ter voltado demasiadamente para a investigação do homem, “parece ter-se esquecido de que este é sempre chamado a voltar-se também para uma realidade que o transcende” (n. 5).

Cabe à Igreja, depositária da Revelação de Jesus Cristo, recordar ao homem moderno a necessidade da reflexão sobre a verdade, tarefa que o Papa João Paulo II retomou na sua mencionada encíclica. Ao fazê-lo, o Pontífice apontou também alguns desvios do pensamento que caracterizam certas correntes contemporâneas:

“A razão, sob o peso de tanto saber, em vez de exprimir melhor a tensão para a verdade, curvou-se sobre si mesma, tornando-se incapaz, com o passar do tempo, de levantar o olhar e de ousar atingir a verdade […]. Daí provieram várias formas de agnosticismo e relativismo. […] Ganharam relevo diversas doutrinas que tendem a desvalorizar até mesmo aquelas verdades que o homem estava certo de ter alcançado. […] Neste horizonte, tudo fica reduzido a mera opinião” (Idem).

Já no meio-dia do século XX, o Concílio Vaticano II uma vez mais insistia na necessidade de que o mundo hodierno endireitasse suas vias se quisesse colher os frutos de um verdadeiro progresso cultural, pois este, furtando-se à solicitude retificadora da Igreja, acabaria por se desviar de sua própria finalidade que é a elevação do espírito humano:

“A boa nova de Cristo renova continuamente a vida e a cultura do homem decaído e combate e elimina os erros e males nascidos da permanente sedução e ameaça do pecado. Purifica sem cessar e eleva os costumes dos povos. Fecunda como que por dentro, com os tesouros do alto, as qualidades de espírito e os dotes de todos os povos e tempos; fortifica-os, aperfeiçoa-os e restaura-os em Cristo. Deste modo, a Igreja, realizando a própria missão, já com isso estimula e ajuda a cultura humana, e com a sua atividade, incluindo a liturgia, educa o homem à liberdade interior” (Gaudium et Spes, n. 58).

Da beleza à Beleza

Diác. Dartagnan Alves de Oliveira Souza, EP

As belezas contidas no Universo nos falam de uma Beleza maior, não mutável, mas da qual emanam todas as demais belezas (relativas), sujeitas à mudança.[1] Essas belezas mutáveis são apenas reflexos de uma matriz de Beleza de onde se origina esse transcendental.[2]

Santo Agostinho em um de seus sermões, tratando sobre a beleza, diz: “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar dilatado e difuso, interroga a beleza do céu, interroga o ritmo ordenado dos astros; interroga ao sol, que ilumina o dia com fulgor; interroga a lua, que suaviza com seu resplendor a obscuridade da noite que segue ao dia; interroga aos animais que se movem nas águas, que habitam a terra e que voam no ar […] Interroga todas essas realidades. Todas elas te responderão: Olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino (confissão) de louvor. Quem fez essas coisas belas, ainda que mutáveis, senão a própria Beleza imutável?”[3]

Por meio dos atrativos bons, belos e verdadeiros encontrados na natureza material que nos rodeia a todo momento, podemos nos elevar Àquele que é propriamente o Bem, o Belo e a Verdade por excelência.

A respeito da beleza Platão já falara em seu tempo. Para ele, o princípio de uma ascensão à ideia divina de Beleza tem como ponto de partida o amor. É por meio do amor que o homem poderá contemplar as criaturas corpóreas e dar um passo rumo à beleza moral. Atingindo essa beleza posta nos costumes, o homem poderá ascender aos belos ensinamentos — que outra coisa não é, senão a beleza intelectual — para assim chegar à consideração da ideia de Beleza em si mesma — a Beleza enquanto tal — da qual as demais belezas particulares não são senão mera participação.[4] Assim sendo, segundo esse filósofo, o homem ascende como que a graus que o levam a encontrar e a conhecer, paulatinamente, belezas superiores, até chegar à Beleza em si mesma, que é incriada.[5]

Essa ideia, exposta no Banquete, nos mostra de forma claríssima o que Platão pensava sobre a beleza. Encontramos nesse pensamento a conceitualização da ideia do amor vinculada com a ideia de beleza; para ele, é por meio do amor que o filósofo chegará a uma ciência verdadeira (a contemplação da Beleza em si mesma). Platão atribuirá à ideia de Beleza qualificativos “divinos”. O próprio ser humano, ao entrar em contato com ela, poderá haurir essa “divinização”. Ele chega a afirmar que toda participação de beleza contida no Universo tem como modelo essa Beleza “inmutable, que no nace ni perece, autosuficiente, simple, incorpórea, divina y que diviniza al hombre que la posee…”.[6]

Esse pensamento platônico é uma primeira ideia, ainda não nítida, a respeito da relação da beleza por participação com a Beleza subsistente. Claro está que o pensamento em torno da beleza, em todos os seus graus e formas, foi-se desenvolvendo à medida que o próprio ser humano a foi contemplando.


[1] JOLIVET, Tratado de Filosofia III: Metafísica, Op. Cit., p. 260.

[2] BRUYNE, Edgar de. L’Esthétique du Moyen Age. Louvain: Éditions de L’Institut Supérieur de Philosophie, 1947. p. 10.

[3] SANCTUS AUGUSTINUS, Sermo 241, 2. Interroga pulchritudinem terrae, interroga pulchritudinem maris, interroga pulchritudinem dilatati et diffusi aeris, interroga pulchritudinem coeli, interroga ordinem siderum, interroga solem fulgore suo diem clarificantem, interroga lunam splendore subsequentis noctis tenebras temperantem, interroga animalia quae moventur in aquis, quae morantur in terris, quae volitant in aere […] interroga ista, Respondent tibi omnia: Ecce vide, pulchra sumus. Pulchritudo eorum, confessio eorum. Ista pulchra mutabilia quis fecit, nisi incommutabilis pulcher? (Tradução pessoal).

[4] PLATÃO. Fédon, XLIX, 100. Citado por MANDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: História da Filosofia Greco-Romana I. 2. ed. Tradução de Lycurgo Gomes da Motta. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1966. p. 13.

[5] PLATÃO. O banquete. Citado por FRAILE, Guillermo, O. P. Historia de la filosofía I: Grecia y Roma. 5. ed. Madrid: La Editorial Catolica, S. A., 1982. p. 354-355.

[6] Ibid., p. 326-327. “…imutável, que não nasce e nem morre, auto-suficiente, simples, incorpórea, divina e que diviniza ao homem que a possui…” (Tradução pessoal).

Confiança no Sagrado Coração de Jesus

Mons. João S. Clá Dias, EP

Querendo resgatar o gênero humano transviado pelo pecado de nossos primeiros pais, Nosso Senhor Jesus Cristo derramou até sua última gota de sangue na Cruz. E, se necessário fosse, teria feito esse supremo sacrifício para salvar individualmente cada um de nós. Desse holocausto nasceu a Santa Igreja, erigida por Nosso Senhor para restaurar e aperfeiçoar o estado de graça perdido pelo homem por causa do pecado dos nossos primeiros pais. Sociedade perfeita e visível, ela purifica as almas pelo Batismo, administra-lhes os Sacramentos e as faz participar da vida divina, em vista da eterna bem-aventurança. Diante de tão insondável manifestação de benquerença, impossível é deixarmos de nos sentir amados por Deus apesar das nossas misérias. Mesmo após termos rolado na lama do pecado, podemos contar com os infinitos méritos obtidos pelo Sacratíssimo Coração de Jesus durante sua Paixão, pois em virtude daquela luz primordial posta por Ele na nossa alma, reflexo de suas próprias perfeições, tudo fará para nos resgatar. Inclusive nossas misérias oferecem ao Coração de Jesus oportunidade de manifestar sua infinita bondade e seu incomensurável desejo de perdoar, redundando tudo em maior glória para Deus. Devemos, pois, nos encher de confiança e afastar a menor incerteza em relação ao amor do Criador por nós. Mas precisamos, sobretudo, ter um desejo ardoroso de nos entregar totalissimamente nas mãos da Divina Providência, sem jamais pensar em obter qualquer benefício pessoal desligado da glória do Altíssimo. Pois qualquer bem que possamos excogitar para nós nada será em relação àquela participação nas perfeições divinas que Ele nos reservou desde todo sempre. Assim, quando fecharmos os olhos para este tempo e nascermos para a eternidade, teremos uma glória essencial e acidental inimaginável, participação da própria glória de Deus.

Cientes desta maravilha, confiemos nesse Sacratíssimo Coração que nos amou até o fim, e se inclina tanto mais sobre as criaturas quanto mais necessitam elas de perdão

In: Arautos do Evangelho, n. 126

Por ocasião da Jornada Mundial de Oração pela santificação dos Sacerdotes

CARTA DO PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO

 Caríssimos irmãos no sacerdócio e amigos!

Por ocasião da próxima solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, em 7 de junho de 2013, na qual celebramos a Jornada Mundial de Oração pela santificação dos Sacerdotes, saúdo cordialmente a todos e a cada um de vós e agradeço ao Senhor pelo inefável dom do sacerdócio e pela fidelidade ao amor de Cristo.

Se é verdade que o convite do Senhor a “permanecer no seu amor” (Gv 15,9) é valido para todos os batizados, na festa do Sagrado Coração de Jesus isso ressoa com uma nova força em nós sacerdotes. Como nos recordou o Santo Padre na abertura do Ano Sacerdotal, citando o Santo Cura d’Ars, “o sacerdócio é o amor do Coração de Jesus” (cfr. Homilia na celebração das Vésperas da Solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, 19 de junho de 2009). Desse Coração – e não podemos esquecer jamais – resulta o dom do ministério sacerdotal.

Temos a experiência de que o fato de “permanecer no seu amor” nos impulsiona com força rumo à santidade. Uma santidade – sabemos bem – que não consiste em fazer ações extraordinárias, mas em permitir que Cristo aja em nós e em fazer nossas as suas atitudes, os seus pensamentos, os seus comportamentos. O nível da santidade é dado a partir do nível em que Cristo nos alcança, a partir de quanto, com o vigor do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida.

Nós, presbíteros, fomos consagrados e enviados para tornar atual a missão salvífica do Divino Filho encarnado. A nossa função é indispensável para a Igreja e para o mundo e requer de nós fidelidade plena a Cristo e incessante união com Ele. Assim, servindo humildemente, somos guias que conduzem à santidade os fiéis confiados ao nosso ministério. Desse modo, reproduz-se em nossa vida o desejo expresso por Jesus mesmo, na oração sacerdotal, depois da instituição da Eucaristia: “Eu peço por eles; não peço pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus (…). Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno (…). Consagra-os com a verdade, (…) em favor deles eu me consagro, a fim de que também eles sejam consagrados com a verdade” (Jo 17,9.15.17.19).

No Ano da Fé

 

Tais considerações assumem uma relevância especial em relação à celebração do Ano da Fé – organizado pelo Santo Padre Bento XVI com o Motu proprio Porta Fidei (11 de outubro de 2011) – iniciado em 11 de outubro de 2012, no quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, e que terminará na solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no próximo 24 de outubro. A Igreja, com os seus Pastores, deve estar a caminho de conduzir os homens fora do “deserto”, rumo à comunhão com o Filho de Deus, que é Vida para o mundo (cfr. Jo 6,33).

Em tal perspectiva, a Congregação para o Clero remete esta carta a todos os sacerdotes do mundo para ajudar cada um a reavivar o empenho em viver o evento de graça ao qual somos chamados, de modo particular a ser protagonistas e animadores diligentes para uma redescoberta da fé na sua integridade e em todo o seu fascínio, estimulados, portanto, a considerar que a nova evangelização está voltada exatamente para a genuína transmissão da fé cristã.

Na Carta Apostólica Porta Fidei, o Papa interpreta os sentimentos dos sacerdotes de não poucos países: “no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas” (n. 2).

A celebração do Ano da Fé se apresenta como uma oportunidade para a nova evangelização, para superar a tentação do desestímulo, para deixar que os nossos esforços se movam cada vez mais sob o impulso e a condução do atual Sucessor de Pedro. Ter fé significa principalmente estar certos de que Cristo, vencendo a morte na sua carne, tornou possível também a quem crê n’Ele compartilhar o destino de glória e de satisfazer o anseio a uma vida e a uma alegria perfeita e eterna, que está no coração de cada homem. Por isso, “a Ressurreição de Cristo é a nossa maior certeza; é o tesouro mais precioso! Como não compartilhar com os outros este tesouro, esta certeza? Não é somente para nós, devemos transmiti-la, comunicá-la aos outros, compartilhá-la com o próximo. Consiste precisamente nisto o nosso testemunho” (Papa Francisco, Audiência Geral, 3 de abril de 2013).

Como sacerdotes, devemos nos preparar para guiar os outros fiéis rumo a um amadurecimento da fé. Sintamos que os primeiros a dever abrir mais os corações somos nós. Recordemos as palavras do Mestre no último dia da festa das Tendas, em Jerusalém: “Jesus ficou de pé e gritou: ‘Se alguém tem sede, venha a mim, e aquele que acredita em mim, beba. É como diz a Escritura: ‘Do seu seio jorrarão rios de água viva’.’ Jesus disse isso, referindo-se ao Espírito que deveriam receber os que acreditassem nele. De fato, ainda não havia Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado” (Jo 7,37-39). Também a partir do sacerdote, alter Christus, podem jorrar rios de água viva, na medida em que ele bebe com fé as palavras de Cristo, abrindo-se à ação do Espírito Santo. Da sua “abertura” a ser sinal de instrumento da graça divina depende, por fim, não só a santificação do povo confiado a ele, mas também o orgulho da sua identidade: “O sacerdote que sai pouco de si mesmo, que unge pouco – não digo ‘nada’, porque, graças a Deus, o povo nos rouba a unção –, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. A diferença é bem conhecida de todos: o intermediário e o gestor ‘já receberam a sua recompensa’. É que, não colocando em jogo a pele e o próprio coração, não recebem aquele agradecimento carinhoso que nasce do coração; e daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, que acabam por viver tristes, padres tristes, e transformados numa espécie de colecionadores de antiguidades ou então de novidades, em vez de serem pastores com o ‘cheiro das ovelhas’ – isto vo-lo peço: sede pastores com o ‘cheiro das ovelhas’, que se sinta este –, serem pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens.” (Idem, Homilia da S. Missa crismal, 28 de março de 2013).

 

Transmitir a Fé

 

Cristo confiou aos Apóstolos e à Igreja a missão de pregar a Boa Notícia a todos os homens. São Paulo ouve o Evangelho como “força de Deus para a salvação de todo aquele que acredita” (Rm 1, 16). O próprio Jesus Cristo é Evangelho, a “Boa Notícia” (cfr. 1Cor 1,24). O nosso dever é ser portadores da força do Amor sem limites de Deus, manifestado em Cristo. A resposta à generosa Revelação divina é a fé, fruto da graça nas nossas almas, que requer a abertura do coração humano. “Só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus” (Porta Fidei, n. 7). Depois de anos de ministério sacerdotal, com frutos e com dificuldades, que o presbítero possa dizer com São Paulo: “Levei a cabo o anúncio do Evangelho de Cristo!” (Rm 15,19; 1Cor 15, 1-11; etc.).

Colaborar com Cristo na transmissão da fé é dever de todo cristão, na característica cooperação orgânica entre fiéis ordenados e fiéis leigos na Santa Igreja. Esse feliz dever implica dois aspectos unidos profundamente. O primeiro, a adesão a Cristo, que significa encontrá-lo pessoalmente, segui-lo, ter amizade com Ele, crer n’Ele. No contexto cultural atual, mostra-se especialmente importante o testemunho da vida – condição de autenticidade e de credibilidade –, que faz descobrir como a força do amor de Deus torna eficaz a sua Palavra. Não devemos esquecer que os fiéis procuram no sacerdote o homem de Deus e a sua Palavra, a sua Misericórdia e o Pão da Vida.

Um segundo ponto do caráter missionário da transmissão da fé se refere à feliz acolhida das palavras de Cristo, as verdades que nos ensina, os conteúdos da Revelação. Nesse sentido, um instrumento fundamental será exatamente a exposição ordenada e orgânica da doutrina católica, ancorada na Palavra de Deus e na Tradição perene e viva da Igreja.

Em particular, devemos nos empenhar para viver e fazer viver o Ano da Fé como uma ocasião providencial para compreender que os textos deixados como herança dos Padres conciliares, segundo as palavras do beato João Paulo II, “não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa” (João Paulo II, Carta Ap. Novo millennio ineunte, 6 de janeiro de 2001, 57: AAS 93 [2001], 308, n. 5).

 

Os conteúdos da fé

 

O Catecismo da Igreja Católica – resultado do Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985, como instrumento a serviço da catequese e realizado mediante a colaboração de todo o Episcopado – ilustra aos fiéis a força e a beleza da fé.

O Catecismo é um autêntico fruto do Concílio Ecumênico Vaticano II, que torna mais fácil o ministério pastoral: homilias atraentes, incisivas, profundas, sólidas; cursos de catequese e de formação teológica para adultos; a preparação dos catequistas, a formação das diversas vocações na Igreja, de modo especial nos Seminários.

A Nota com indicações pastorais para o Ano da fé (6 de janeiro de 2012) oferece uma ampla variedade de iniciativas para viver tal tempo privilegiado de graça muito unidos ao Santo Padre e ao Corpo episcopal: as peregrinações dos fiéis à Sede de Pedro, à Terra Santa, aos Santuários marianos, à próxima Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, no iminente mês de julho; os simpósios, convênios e reuniões, também em nível internacional, e em particular aqueles dedicados à redescoberta dos ensinamentos do Concílio Vaticano II; a organização de grupos de fiéis para a leitura e o aprofundamento comum do Catecismo com um renovado empenho por sua difusão.

No atual clima relativístico, parece oportuno evidenciar o quanto é importante o conhecimento dos conteúdos da nossa autêntica doutrina católica, inseparável do encontro com atraentes testemunhos de fé. Sobre os primeiros discípulos de Jesus em Jerusalém, conta-se nos Atos que “eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações” (At 2,42).

Nesse sentido, o Ano da Fé é uma ocasião especialmente propícia para uma acolhida mais atenta das homilias, das catequeses, das alocuções e das outras intervenções do Santo Padre. Para muitos fiéis, ter à disposição as homilias e os discursos das audiências será de grande ajuda para transmitir a fé aos outros.

Trata-se de verdade da qual se vive, como diz Santo Agostinho quando, em uma homilia sobre a redditio symboli, descreve a oração do Creio: “Vós, portanto, o recebestes e transmitistes, mas na mente e no coração deveis tê-lo sempre presente, deveis repeti-lo nos vossos leitos, repensá-lo nas praças e não esquecê-lo durante as refeições: e também quando dormirdes com o corpo, deveis vigiar nele com o coração”. (Agostinho de Hipona, Discurso 215, sobre a Redditio Symboli).

Na Porta Fidei, traça-se um percurso para fazer compreender de modo mais profundo os conteúdos da fé e a ação com a qual nos confiamos livremente a Deus: a ação com o qual se crê e os conteúdos aos quais damos o nosso consentimento são marcados por uma profunda unidade (cfr. n. 10).

 

Crescer na fé

 

O Ano da fé representa, portanto, um convite à conversão a Jesus único Salvador do mundo, a crescer na fé como virtude teologal. No prólogo do primeiro volume de Jesus de Nazaré, o Santo Padre escreve sobre as consequências negativas se Jesus for apresentado como uma figura do passado, da qual pouco se sabe ao certo: “Uma situação similar é dramática para a fé, porque torna incerto o seu autêntico ponto de referência: a íntima amizade com Jesus, do qual tudo depende, ameaça procurar no vazio” (p.8)

Vale a pena meditar mais vezes sobre estas palavras: “a íntima amizade com Jesus, do qual tudo depende”. Trata-se do encontro pessoal com Cristo. Encontro de cada um de nós e de cada um dos nossos irmãos e irmãs na fé, a quem servimos com o nosso ministério.

Encontrar Jesus, como os primeiros discípulos – André, Pedro, João – como a samaritana ou como Nicodemos; acolhê-lo na própria casa como Marta e Maria; escutá-lo lendo muitas vezes o Evangelho; com a graça do Espírito Santo, este é o caminho seguro para crescer na fé. Como escreveu o Servo de Deus Paulo VI: “A fé é o caminho através do qual a verdade divina entra na alma” (Ensinamentos, IV, p. 919).

Jesus convida a sentir que somos filhos e amigos de Deus: “Eu chamo vocês de amigos, porque eu comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai. Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto, e para que o seu fruto permaneça. O Pai dará a vocês qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome.” (Jo 15,15-16).

 

Meios para crescer na Fé. A Eucaristia

 

Jesus convida a pedir com plena fé, a rezar com as palavras “Pai nosso”. Propõe a todos, no discurso das Beatitudes, uma meta que aos olhos humanos parece uma loucura: “Sejam perfeitos como é perfeito o vosso Pai que está no céu” (Mt 5,48). Para exercitar uma boa pedagogia da santidade, capaz de adaptar-se às circunstâncias e aos ritmos de cada pessoa, devemos ser amigos de Deus, homens de oração.

Na oração aprendemos a carregar a Cruz, aquela Cruz aberta ao mundo inteiro, para sua salvação, que, como revela o Senhor a Ananias, acompanhará também a missão de Saulo, recém-convertido: “Vá, porque esse homem é um instrumento que eu escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel. Eu vou mostrar a Saulo quanto ele deve sofrer por causa do meu nome.” (At 9,15-16). E aos fiéis da Galácia, São Paulo fará esta síntese de sua vida: “Fui morto na cruz com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gal 2,19-20).

Na Eucaristia, atualiza-se o mistério do sacrifício da Cruz. A celebração litúrgica da Santa Missa é um encontro com Jesus que se oferece como vítima por nós e nos transforma n’Ele. “Com efeito, por sua natureza a liturgia possui uma eficácia pedagógica própria para introduzir os fiéis no conhecimento do mistério celebrado. Por isso mesmo, na tradição mais antiga da Igreja, o caminho formativo do cristão – embora sem descurar a inteligência sistemática dos conteúdos da fé – assumia sempre um caráter de experiência, em que era determinante o encontro vivo e persuasivo com Cristo anunciado por autênticas testemunhas. Neste sentido, quem introduz nos mistérios é primariamente a testemunha” (Bento XVI, Exort. Ap. Sacramentum caritatis, 22-II-2007, n. 64). Não surpreende, portanto, que na Nota com indicações pastorais para o Ano da fé se sugira intensificar a celebração da fé na liturgia e em particular na Eucaristia, onde a fé da Igreja é proclamada, celebrada e reforçada (cfr. n. IV, 2). Se a liturgia eucarística é celebrada com grande fé e devoção, os frutos são assegurados.

 

O Sacramento da Misericórdia que perdoa

 

Se a Eucaristia é o Sacramento que edifica a imagem do Filho de Deus em nós, a Reconciliação é aquilo que nos faz experimentar a força da misericórdia divina, que libera a alma dos pecados e a faz saborear a beleza do retorno a Deus, verdadeiro Pai apaixonado por cada um de seus filhos. Por isso, o sagrado ministro em primeira pessoa deve estar convencido de que “só se nos comportarmos como filhos de Deus, sem nos desencorajarmos por causa das nossas quedas e dos nossos pecados, sentindo-nos amados por Ele, a nossa vida será nova, animada pela serenidade e pela alegria. Deus é a nossa força! Deus é a nossa esperança!” (Papa Francisco, Audiência geral de 10 de abril de 2013).

A partir dessa presença misericordiosa, o sacerdote deve ser ele mesmo sacramento no mundo: “Jesus não tem uma casa porque a sua casa é o povo, somos nós, a sua missão consiste em abrir as portas de Deus para todos, em ser a presença de amor de Deu” (Idem, Audiência geral de 27 de março de 2013). Não podemos, portanto, enterrar esse maravilhoso dom sobrenatural, nem distribuí-lo sem ter os mesmos sentimentos d’Ele, que amou os pecadores até o auge da Cruz. Neste sacramento, o Pai nos doa uma ocasião única para ser, não só espiritualmente, mas nós mesmos, com nossa própria humanidade, a mão suave que, como o Bom Samaritano, derrama o óleo que dá alívio às chagas da alma (Lc 10, 34). Sentimos nossas estas palavras do Pontífice: “O cristão que se fecha em si próprio, que esconde tudo o que o Senhor lhe deu é um cristão… não é cristão! É um cristão que não dá graças a Deus por tudo o que recebeu! Isto diz-nos que a espera da volta do Senhor é o tempo da ação – nós vivemos no tempo da ação – o tempo no qual frutificar os dons de Deus, não para nós mesmos, mas para Ele, para a Igreja, para os outros, o tempo no qual procurar fazer crescer sempre o bem no mundo. (…) Estimados irmãos e irmãs, nunca tenhamos medo de olhar para o Juízo final; ao contrário, que ele nos leve a viver melhor o presente. Deus oferece-nos este tempo com misericórdia e paciência, a fim de aprendermos todos os dias a reconhecê-lo nos pobres e nos pequeninos, de trabalharmos para o bem e de sermos vigilantes na oração e no amor. Que no final da nossa existência e da história o Senhor possa reconhecer-nos como servos bons e fiéis” (Idem, Audiência geral de 24 de abril).

O sacramento da Reconciliação é, portanto, também o sacramento da alegria: “Quando ainda estava longe, o pai o avistou, e teve compaixão, saiu correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos. Então o filho disse: ‘Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu filho’. Mas o pai disse aos empregados: ‘Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Peguem o novilho gordo e o matem. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto, e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’. E começaram a festa” (Lc 15,11-24). Cada vez que nos confessamos, encontramos a alegria de estar com Deus, porque experimentamos a sua misericórdia, talvez tantas vezes quando manifestamos ao Senhor as nossas faltas devido à indiferença e a mediocridade. Assim se reforça a nossa fé de pecadores que amam Jesus e são amados por Ele: “Quando alguém é convocado pelo juiz ou tem uma causa, a primeira coisa que faz é procurar um advogado para que o defenda. Nós temos um, que nos defende sempre, defende-nos das insídias do diabo, defende-nos de nós mesmos e dos nossos pecados! Caríssimos irmãos e irmãs, temos este advogado: não tenhamos medo de o procurar para pedir perdão, para pedir a bênção, para pedir misericórdia! Ele perdoa-nos sempre, é o nosso advogado: defende-nos sempre! Não esqueçais isto!” (Idem, Audiência geral de 17 de abril de 2013).

Na adoração eucarística, podemos dizer a Cristo presente na Hóstia Santa, com São Tomás de Aquino:

Plagas sicut Thomas non intúeor

Deum tamen meum Te confiteor

Fac me tibi semper magis crédere

In Te spem habére, Te dilígere.

E também com o apóstolo Tomé podemos repetir com o nosso coração sacerdotal, quando Jesus é nas nossas mãos: Dominus meus et Deus meus!

Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45). Com essas palavras, Isabel saudou Maria. A Ela que é Mãe dos sacerdotes e que nos precedeu no caminho da fé, recorramos a fim de que cada um de nós cresça na Fé do seu divino Filho e, assim, levemos ao mundo a Vida e a Luz, o calor, do Sacratíssimo Coração de Jesus!

Mauro Card. Piacenza

Prefeito

Celso Morga Iruzubieta

Secretário