Pe. Ricardo Basso, EP
Nas últimas décadas, notam-se louváveis esforços no sentido de resgate da visão do homem como um todo na educação, como Howard Gardner, professor de Neurologia na Boston School of Medicine e de Psicologia na Harvard University, com sua “Teoria das inteligências múltiplas” (1983), em que a inteligência humana é apresentada como tendo várias facetas, ampliando os horizontes pedagógicos que haviam se restringido apenas às inteligências lingüística e lógico-matemática. Estas por sinal são a base também para os testes de QI (Quociente Intelectual), hoje muito contestados, e com razão, porém, tanto em voga até há pouco. Encontramos casos curiosos de testes de QI aplicados a esportistas célebres que os apontaram no limite da debilidade mental… Outras inteligências – ou seja, talentos, capacidades e habilidades mentais – deveriam igualmente ser trabalhadas, segundo Gardner, como a visual/espacial, a corporal/cinestésica, a musical, a interpessoal e a intrapessoal. Por que matemática, por exemplo, seria mais importante do que música? Concepção essa mais holística, que é aceita geralmente pelos educadores contemporâneos. Um progresso, sem dúvida. Embora, diga-se de passagem, não esteja ainda nossa legislação educacional devidamente atualizada quando permite que os exames de reclassificação se restrinjam às disciplinas de português e matemática simplesmente. Quantos futuros artistas e esportistas que quiçá serão famosos, um dia, não estarão sendo prejudicados hoje?
Porém, o foco da atenção da grande maioria dos educadores modernos é o mecanismo da inteligência, o funcionamento do cérebro, a epistemologia no homem, o que não é suficiente, pois não abarca a pessoa inteira. Procura-se reduzir o homem à matéria, não considerando estudos científicos recentes que revelam como a percepção e as atividades mentais são metaneuronais.
Se a percepção é metaneuronal, com maior razão o deve ser a atividade mental, o pensamento. A primeira atividade mental é a formação de conceitos ou idéias, operação que consiste em eliminar o acidental de uma coisa, para ficar com sua essência. […] Portanto, devemos concluir que: se para chegar à abstração prescindimos de toda informação sensorial, que é a que nos proporcionam os neurônios, o processo de abstração há de ser metaneuronal. […] Se não é o cérebro o que se encarrega de abstrair, quem é o responsável desta função? Segundo Aristóteles […] é o entendimento agente, que como atividade anímica que é, não reside no cérebro mas corresponde à pessoa, composto substancial de corpo e alma (SANZ, 2007: 140-141, tradução nossa).
Naturalmente, as novas descobertas no campo da psicologia e da neurologia são muito úteis, porém, segundo aponta a antropologia cristã, há uma falha capital ao não se considerar a alma humana e o primordial papel da vontade na educação de uma criança. Estuda-se o corpo humano, sobretudo o cérebro e seu funcionamento; ignora-se a alma. Sobretudo ignora-se a realidade dos efeitos do pecado original nas potências da alma: inteligência, vontade e sensibilidade. Sendo o homem principalmente alma, a qual, como espírito, é superior à matéria, não se considera o que de mais importante há no ser humano. Daí, a crônica insuficiência notada na pedagogia moderna, nos seus múltiplos e variados sistemas de ensino.
Com todo o avanço técnico, não é recorrente a queixa entre os educadores quanto à baixa qualidade dos estudantes, e do nível de aprendizagem? Quem ousaria afirmar que os jovens de hoje aprendem mais e estão mais preparados que seus pais ou avós, na mesma idade?
Pelos frutos se conhece a árvore, diz o provérbio popular.