Após a Ressurreição, o Senhor faz dos apóstolos continuadores da Sua missão

Pe. Juan Carlos Casté, EP

O Senhor, depois de ter rezado ao Pai, constituiu Doze apóstolos para enviá-los a pregar o Reino de Deus.[1] O número dos Doze recorda as doze tribos de Israel; de um lado expressa a edificação do novo Israel, nascido do “resto” do antigo, mas por outro lado, é intenção de Nosso Senhor romper com a casta sacerdotal limitada a uma tribo.

O próprio ato de eleição comporta já uma participação dos apóstolos à consagração e missão de Jesus, porque os escolhe para enviá-los a pregar, portanto, fá-los partícipes da Sua consagração e da Sua missão, realizando-se isto em diversos momentos e coincidindo com a instituição do sacramento da ordem, observável em diversas ocasiões nas quais recebem de Jesus a chamada, a potestade e a missão, completada no Pentecostes.

O magistério une a instituição da ordem à Eucaristia. João Paulo II, por exemplo, reafirmou a doutrina tridentina da união da ordem com a Eucaristia. Depois da Ressurreição, o Senhor faz dos apóstolos os continuadores da Sua missão e lhes dá o poder de perdoar os pecados.[2] Essa missão dos apóstolos deriva da consagração recebida. Não é própria, em duplo sentido: é uma iniciativa de Outro e a sua capacidade para desenvolvê-la é participada.

Nessa missão os apóstolos foram confirmados no dia de Pentecostes. Ao descer o Espírito Santo, realizou-se o cumprimento da promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo e se completa a instituição da ordem sagrada enquanto dá aos apóstolos a graça necessária para cumprir a Sua missão exercitando a potestas sacra. Os apóstolos receberam, deste modo, a qualificação que permanecerá nos detentores do sacerdócio ministerial: uma capacidade ontológica e um “impulso interior” — o dom de Pentecostes contém também aquilo que posteriormente se chamará “graça sacramental específica” da ordem.[3] Se a missio Ecclesiae é sempre reconduzível à missão invisível do Filho e do Espírito Santo, a missio apostólica deverá ter a sua origem não só em Cristo, como também no Espírito Santo.

O grupo dos Doze reunido no Cenáculo, como gérmen da Igreja, tinha já sido enviado pelo Senhor aos filhos de Israel, e depois a todas as gentes, a fim de que, participando da sua potestade, os convertessem em discípulos, os santificassem e os governassem, porém, foram confirmados nessa missão no Pentecostes. Foram impulsionados à missão e a predicar audazmente o Evangelho. Esse dom do Espírito Santo, o mesmo Espírito de Cristo, desceu sobre eles para que O comuniquem a todos os homens.

A posição dos Doze, ademais de serem embaixadores e ministros de Cristo, situa-os também à cabeça da comunidade cristã. Eles estão conscientes de estar investidos de autoridade, executando-a inclusive com veemência.[4] Escolhidos juntos, a sua união fraterna estará a serviço da comunidade. Sua autoridade não é de domínio, mas exercitada “para edificar e não para destruir”.[5]


[1] Mc 3, 13-19; Mt 10, 1-42.

[2] Cf. Jo 20, 21-23.

[3] Cf. Philipe Goyret Chiamati, Consacrati, Inviati Il Sacramento dell’Ordine. Libreria Editrice Vaticana, 2003.

[4] Cf. 1 Cor 4, 21; 5, 5.

[5] 2 Cor 13, 10.

A frequência à comunhão eucarística na História da Igreja

Pe. Alex Barbosa de Brito, EP

O costume da comunhão era tão frequente nos primeiros séculos que Jungmann atesta: até o séc. IV, além da comunhão em cada missa assistida, em geral aos Domingos, podia-se, depois de receber a hóstia consagrada, levar uma porção para casa, onde as pessoas guardavam cuidadosamente e, dia após dia, consumiam antes de qualquer outro alimento. Contudo, “de modo geral, porém, o recebimento de sacramento é reservado à missa que se tornou, normalmente, mais frequente desde que a Igreja tinha conquistado a paz”. (Cf. 2009, p. 802-803).

Considerando que o aspecto “banquete” é o que se percebe em primeiro lugar na celebração, não é de admirar que a Patrística, nos primeiros séculos, apresente a Eucaristia dando ênfase à “comida e bebida espiritual de vida eterna” (Didaqué 10); ao “pão e remédio de imortalidade, antídoto que afasta a morte e dá a vida em Cristo” (Inácio, Efes. 20); ao “alimento que nutre com o corpo e o sangue do Senhor” (Irineu, Adv. Haeres, 4,18,5); “a fim de que por eles também a alma seja alimentada” (Tertuliano, De Resurr. 8:PL 2,806); como “alimento que nutre as almas… como bebida que inebria o coração”. (Orígenes, in Matth. Comment., séries 85: PG 13,1734).

Por isso mesmo, os Padres da Igreja[2] apontam nos Evangelhos os primeiros indícios da comunhão frequente. Por exemplo, Santo Agostinho[3], falando do capítulo VI de São João, recorda no sermão 28, incluído no livro De Verbi Domini: Iste panis quotidianus est: accipe quotidie quod quotidie tibi prosit. (“Este pão é diário: toma cada dia o que cada dia te aperfeiçoa”, tradução nossa.)

Praticamente o mesmo conselho é dado por Santo Ambrósio (340-397), mestre de S. Agostinho (354-430), quando afirma: “Si quotidianus est panis, cur post annum illum sumis, (quemadmodum Graeci in Oriente facere consuerunt)?. Accipe quotidie, quod quotidie tibi prosit.”[4]

Tertuliano (De idolatria, c. VII) fala “das mãos que tocam diariamente o corpo do Senhor[5]”. São Cipriano (De oratione Dominica, XVIII) exorta com particular insistência à comunhão diária, e o Bispo de Hipona (Epist. LIV, n. 2) recomenda que, além do Domingo, seja recebida em certos dias.

Nesses tempos felizes, é incompreensível assistir à missa sem a comunhão, porque a comunhão é “essencialmente e no sentido mais profundo, o rito de participação do convívio sacrifical” (VAGAGGINI, 2009, p. 258). E àqueles que não estivessem presentes, por justa razão, era-lhes enviada a Eucaristia, recorda São Justino (Apologia I, n. 65).

Contudo, comenta Jungmann (2009, p. 803): “a alta frequência do recebimento da eucaristia diminui com surpreendente rapidez, pelo menos em alguns países”. Tal ruptura deste convívio diário, parece ter se iniciado ainda nos tempos de Santo Ambrósio[6], uma vez que, sem meias palavras, dizia: “Se o pão é cotidiano, por que esperais um ano para recebê-lo, como fazem os gregos?”[7]. (De Sacramentis, V, 25)

São João Crisóstomo comprova a ruptura com os tempos apostólicos, ao se queixar de que “em Constantinopla muitos só comungarem uma vez por ano” (in Hebraeos 17,4); e não sem certa melancolia finaliza: “em vão se celebra o sacrifício todos os dias; em vão estamos todos os dias no altar, ninguém vem comungar”. (In Ephesios, h. 3,4).

Já no século V, Santo Agostinho fazia o seguinte reparo: “Em alguns lugares não se transcorre um dia sem que se ofereça o sacrifício, enquanto em outros ele é oferecido somente aos sábados e domingos, e em outros só aos domingos”. (Epistola ad Ianuarium 54, II, 2).

A normativa se pressentia necessária. Na Gália, por exemplo, o Sínodo de Agde (506), prescreveu o mínimo de três comunhões anuais: no Natal, na Páscoa e em Pentecostes;[8] decretou também a comunhão dominical, sobretudo nos Domingos da Quaresma, mas com resultados tênues e passageiros. (Cf. JUNGMANN, 2009, p. 803).

Três terão sido, talvez, as principais causas da diminuição da frequência à comunhão eucarística dos fiéis: O arianismo, o purismo ritual ou legal e a pureza de consciência mal entendida. Esta última razão fortemente influenciada pelo arianismo e muito semelhante ao que se veria muitos e muitos anos mais tarde no movimento jansenista (séc. XVIII).

As invasões bárbaras (entre 300 a 800) trouxeram em seu bojo o arianismo. Após a queda do Império Romano, quando os missionários católicos entraram em contato com eles, muitos já eram arianos, sobretudo os povos oriundos do Norte da Europa que sofreram a pseudoevangelização de Wulfila, monge-bispo ariano do clero de Bizâncio. Onde a influência da heresia foi menos perniciosa, “a comunhão frequente e vinculada naturalmente com a celebração do sacrifício permanecia em vigor por mais tempo.”[9] (JUNGMANN, 2009, p. 804).

Quanto à pureza ritual, encontramos no Antigo Testamento uma série de regras que lhe diziam respeito (Cf. Lv 15,1-30; 12,1-8). Anacronismos à parte, esta concepção de modo misterioso reapareceu entre os cristãos dos séculos IV e V, colaborando fortemente para o afastamento da Comunhão Eucarística. Proibições da ordem da pureza ritual são encontradas nas fontes desde o século III. (Cf. JUNGMANN, 2009, p. 805). São Jerônimo sugere abstinência aos casados nos dias de receber a Eucaristia (Epistola 49,15; Contra Jovinianum 1,20) e o Doutor de Hipona, Santo Agostinho, recomenda que se deve receber a Eucaristia nos dias em que se vive maior pureza e continência (Epistola LIV, II).

No que diz respeito à pureza de consciência, em I Cor 11,28 o Apóstolo prescreve que o homem se examine antes de comungar, probet se ipsum homo. Na baixa Idade Média, não faltou quem entendesse esta norma como se todos estivessem obrigados à confissão sacramental antes de cada Comunhão. Ora, tornava-se muito difícil atender em confissão toda a comunidade de fiéis, antes de cada Missa, tanto mais que não era permitido aos católicos receberem os sacramentos fora do território paroquial. Outro fator digno de nota foi o pio costume das chamadas missas privadas, que desde o século VII se generalizou. Até então, costumava-se celebrar a Eucaristia de modo solene, com a presença do clero e do povo. Com a multiplicação das missas, bastaria a representação de um fiel que ajudasse à Missa. Multiplicaram-se as missas, multiplicou-se número dos altares, menos o número de comunhões, a maioria dos fiéis comungava apenas na Pascoa, “por mais que se recomendasse o costume antigo de comungar todos os Domingos”. (GARCIA-VILLOSLADA, MMIII, p. 227; Tradução e grifo do autor).

A situação ficou tão calamitosa que no século XI, o IV Concílio Lateranense (1215), em seu famoso capítulo 21 Omnis utriusque sexus, estabeleceu o preceito da confissão anual e da comunhão pascal:

Cada fiel, de um e de outro sexo, chegando à idade da razão, confesse lealmente, sozinho, todos os seus pecados a seu próprio sacerdote, ao menos uma vez ao ano, e se aplique a cumprir, segundo suas forças, a penitência que lhe foi imposta; receba com reverência ao menos pela Páscoa o sacramento da Eucaristia. (Denz. 812).

O preceito conciliar remediou a situação, mas ainda estava longe a solução definitiva do problema. Exemplo característico desse tempo foi o de S. Luís IX, rei de França (1214-1270). O mítico e piedoso monarca comungava cerca de seis vezes ao ano. (Cf. ROPS, 1993, p. 72). A literatura canônica insistia na obrigação do jejum eucarístico com severidade tal, que alguns autores chegavam a exigir implacáveis sacrifícios. Em 1237, o Sínodo de Coventry (Inglaterra) prescrevia jejum preparatório de meia semana. Outros afirmavam que o fato de não se frequentar o sacramento aumentaria a reverência para com o mesmo. (Cf. JUNGMANN, 2009, p. 805). O Doutor Universal, que conviveu de perto com esta mentalidade formada ao longo de séculos, foi grande defensor da comunhão frequente. Citando Santo Agostinho teceu esta belíssima consideração sobre o temor reverencial e o temor filial:

Deve-se dizer que o respeito devido a este sacramento deve unir o temor ao amor. Pois o temor reverencial a Deus é chamado temor filial. O desejo de comungar é provocado pelo amor; do temor, porém, nasce a humildade do respeito. Desta sorte, ambos pertencem ao respeito devido a este sacramento, seja quando se comunga todos os dias, seja quando, às vezes, se abstém dele. (Suma III, q. 80, a. 10, quanto ao 3º).

Como fossem raras as comunhões sacramentais, incentivavam-se as espirituais. Mas, o desequilíbrio levou não poucos a desenvolverem uma controversa devoção: a comunhão vicária, ou seja, o sacerdote comungava em substituição à comunhão dos fiéis[10].

Era desejo dos Padres no Concílio de Trento que os fiéis comungassem todos os dias. Com o objetivo de facilitar o acesso dos fiéis à comunhão eucarística, a partir deste Concílio introduziu-se o costume de ministrar a comunhão sem relação com a celebração do sacrifício, ou seja, extra missam. (Cf. SARAIVA MARTINS, 2005, p. 239). A luta contra os pseudo reformistas, que negavam a presença real e o caráter sacrifical da Missa, fez com que a Igreja concentrasse seus esforços em desenvolver a teologia nesses dois campos, ademais de normatizar, tendo em vista os aspectos que eram especialmente atacados. Ao longo de quase toda a Idade Média estabeleceu-se a devoção à Santa Missa enquanto sacrifício eucarístico. Ne declines ad dexteram neque ad sinistram, averte pedem tuum a malo[11] (Pv 4,27), nos ensina o livro dos Provérbios. Na busca constante do equilíbrio, a Igreja no Concílio de Trento voltou a incentivar a participação dos fiéis na comunhão eucarística.


[1] Cipriano Vagaggini, monge beneditino camaldulense (+1999), foi um dos principais artífices da Constituição Sacrosantum Concilium e um dos animadores da reforma litúrgica, com contribuições originais na redação das novas Orações Eucarísticas II e IV (2009, contracapa).

[2] Tertuliano, além do valor histórico e literário de seus escritos, merece destaque particular pelas informações mais particularizadas que nos fornece. Ademais, foi o primeiro dos escritores latinos a apresentar o termo grego de Paulo pelo latino “coena Dei” (De spect. 13, loc. cit.) e “convivium dominicum” (Ad uxor, 2,4). Faz-nos ele ainda ver o corpo de Cristo no “pão cotidiano” que pedimos na oração do Pai nosso (De orat, 6: PL 1,1263); além de atestar que o “sacramento da Eucaristia” era “recebido” habitualmente na celebração que se realizava “antes do amanhecer, somente da mão do presidente” (De cor. 3: PL 2,79).

[3] Serm. 84, inter Opp. Aug., al de Verbis Domini., serm. 28, n. 3; ML 39, 1908

[4] Sancti Ambrosii Mediolanensis Episcopi. De Sacramentis. Libri Sex. (C. G. S.). Liber quintus. Caput IV. PL. Vol. 16, col. 452b.

[5] Além de incentivar a comunhão eucarística, Tertuliano chama atenção a respeito de algumas normas a ser observadas: “ante omnem cibum gustes”, ou seja, que os fiéis tivessem o cuidado de tomar a Eucaristia antes de qualquer outro alimento; e que não comesse dela quem não fosse cristão. (Tertuliano, Ad. Uxor, 2,5, PL 1408).

[6] Crisóstomo, In Eph. Hom. 3,4 (PG 62,29), cf. In I Tim hom. 5,3 (PG 62,529s.); In Hebr. Hom 17,4 (PG 63,131s.).

[7] Quemadmodum Graeci in Oriente facere consuerunt. Tradução nossa.

[8] Can. 18 (Mansi VIII, 327).

[9] Isso atestam para o séc. VII-VIII os ordinários romanos que são voltados primeiramente para a missa estacional. Esta, porém, acontecia na Quaresma quase diariamente. […] Também segundo Beda (+ 735), Ep. 2 ad Egbertum (PL 94, 666A), naquela época cristãos de todas as idades comungavam em Roma em cada Domingo. Em 88, o papa Nicolau I, Ep. 97, n. 9 (PL 119, 983) dá uma resposta afirmativa à pergunta dos búlgaros se devem comungar diariamente na Quaresma, desde que estejam na atitude certa. (JUNGMAN, 2009, nota n. 32 da p. 804).

[10] À primeira vista, o que poderia ser um belo gesto de piedade, foi se tornando um meio a mais para que as pessoas deixassem de comungar. Havia mesmo quem dissesse que, quando o sacerdote comunga, “alimenta a si mesmo na alma, e a todos nós”. Combatendo-o, o Sínodo de Tréveris (1227) proibiu que o sacerdote recebesse o corpo de Cristo em lugar dos enfermos. (Cf. JUNGMANNM, 2009, p. 806-807 e notas).

[11] Não te desvies nem para a direita, nem para a esquerda e afasta os teus pés do mal.

Referências

GARCIA-VILLOSLADA, Ricardo. Historia de la Iglesia Católica: Edad Media (800-303), La cristiandad en el mundo europeo y feudal. 6. ed. Madrid: BAC, MMIII.

JUNGMANN, J. A. Missarum Sollemnia: Origens, Liturgia, História e Teologia da Missa Romana. Tradução de Monika Ottermann. São Paulo: Paulus, 2009, 961 p.

VAGAGGINI, Cipriano. O Sentido Teológico da Liturgia. Trad. Francisco Figueiro de Moraes. São Paulo: Edições Loyola. 2009, 843 p.

SARAIVA MARTINS, Cardeal José. Eucaristia. Lisboa: Universidade Católica Editora. 2005.

A Eucaristia nutre a vida sobrenatural

Todo efeito que o alimento produz na vida corporal, a Eucaristia produz na vida sobrenatural”, ensina São Tomás. Vejamos como um famoso teólogo, Frei Ferdinand- Doratien Joret OP, discípulo do Doutor Angélico, desenvolve esta belíssima verdade de fé.

No discurso feito após a multiplicação dos pães, Nosso Senhor afirma com insistência que Ele é o Pão da Vida: “Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. Este é o pão que desceu do céu (…) Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. (…) Minha carne é verdadeiramente uma comida” (Jo 6,49-55).
E o Doutor Angélico, numa fórmula que depois o Concílio de Florença consagrou, disse: “Todo efeito que o alimento produz na vida do corpo, a Eucaristia produz na vida sobrenatural; quer dizer, ela a conserva, desenvolve, restaura e deleita” (III, q. 79, a. 1).

A Eucaristia conserva a vida sobrenatural
Ela a conserva, preservando-a da morte. Nosso Senhor garante que quem comer desse pão jamais morrerá. Evidentemente, não se trata aqui da vida do corpo, mas da vida da graça na alma, e da morte sobrenatural ocasionada pelo pecado, por isso mesmo chamado de mortal. É dessa morte que a Eucaristia preserva a alma. O Concílio de Trento afirma isso em termos precisos.A Eucaristia não torna essa morte totalmente impossível. Não! O alimento corporal tampouco nos assegura a vida corporal contra todo acidente.
Como diz São Tomás, “o efeito da Eucaristia se adapta à condição do homem que a recebe. A matéria sobre a qual se exerce a ação sempre condiciona o efeito produzido nela pela ação. No entanto, a condição do homem nesta vida é tal que seu livre arbítrio pode se inclinar para o bem ou para o mal. Assim sendo, por mais que esse Sacramento tenha, de si, a potencialidade suficiente para preservar o homem de todo pecado, nem por isso quem o recebe deixará de ser livre para pecar, se quiser, e assim morrer sobrenaturalmente”.
Contudo, notemos bem essa capacidade do Sacramento, em si mesmo, de preservar de todo pecado. Nos alimentos corporais, nada há que se possa comparar à Eucaristia. Os alimentos jamais puderam evitar a morte.
Por outro lado, na Eucaristia, é Cristo que, em pessoa, sob as aparências de pão e vinho, dá-Se a nós como alimento. De onde pode nos vir a morte? De uma afeição interna ou de uma ferida exterior. Pelos alimentos e remédios se evitam as enfermidades internas, e pelas armas a pessoa se previne contra os possíveis ataques externos. A Eucaristia cumpre perfeitamente esses dois requisitos. Cristo mesmo, intimamente unido a nosso coração, Se faz nosso alimento e remédio que nos dá vigor e previne contra todo agente morboso de corrupções internas. E revestido, como aqui se encontra, do simbolismo de sua Paixão, por meio da qual o demônio ficou definitivamente vencido, amedronta-o e afasta de nós seus diabólicos ataques. Por isso diz São João Crisóstomo que, à maneira de leões que exalam fogo e chamas pela boca, aterrorizamos os demônios quando recebemos a divina Eucaristia.

Desenvolve e aumenta
O alimento faz mais que conservar a vida, ele a aumenta. Na vida corporal, esse crescimento é limitado. Contudo, a vida espiritual tem o privilégio de crescer indefinidamente, cada vez mais, pela influência do Pão Eucarístico.

Claro que todos os sacramentos de vivos, pelo simples fato de aumentarem a graça, desenvolvem a vida sobrenatural na alma. Mas fazem-no com outro fim específico.

A Confirmação dá vigor à alma para poder lutar contra os inimigos externos; a Unção dos Enfermos a sustenta na enfermidade que a priva dos recursos normais na hora mais crítica da vida. A Ordem e o Matrimônio dão a quem os recebe a capacidade de concorrer para o bem geral da Igreja, cada qual em seu estado. Entretanto, a Eucaristia desenvolve a vida sobrenatural por si mesma, a fim de que cresçam cada vez mais em nós as energias divinas e cheguemos à perfeição espiritual pela união com Deus.

Na união com Deus, nosso último fim, encontramos a perfeição de nosso ser. Essa união terá sua consumada realização na glória celeste, na qual gozaremos da felicidade eterna. Para ela nos encaminha em linha reta a Eucaristia. “Ó Sagrado Banquete, no qual nos alimentamos de Cristo, recorda-se sua Paixão, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura!” – canta a Igreja. A Paixão, representada ao vivo na Eucaristia, abriu-nos as portas do Céu. A Comunhão nos aplica a virtude reparadora e regeneradora da Paixão, dando-nos forças para subir o caminho da Cruz, que lentamente conduz o membro de Cristo à glória celeste.

Com muita razão damos o nome de viático à Eucaristia, e ela está bem representada por aquele pão que deu ao profeta Elias o vigor necessário para chegar ao cume da montanha de Deus.

A Eucaristia é mais que um viático.
Nesse penhor da vida futura temos já um antegozo da felicidade celestial.
Ainda que misteriosamente, sem dúvida, pela Comunhão temos já em nós o objeto de nossa felicidade eterna, e comemos aquele manjar do qual falava o Anjo Rafael a Tobias: “Eu me nutro de um alimento que vós não conheceis” (Tb 12,19). O Pão dos Anjos veio para ser alimento dos homens, e estes o comem já nesta terra, real, se bem que imperfeitamente, enquanto esperam chegar ao Céu, quando Deus lhes aparecerá e, passando um por um, os irá servindo, sentados todos eles no banquete que faz a felicidade das Três Pessoas Divinas.
Nosso próprio corpo ressuscitará para participar também de Cristo, que lhe terá dado um título especial para a vida futura e depositado nele o fermento da imortalidade. Nosso Senhor prometeu formalmente que ressuscitará no último dia todo aquele que tiver comido da sua Carne e bebido do seu Sangue.

Restaura
Um terceiro efeito da nutrição além de conservar e desenvolver a vida, é o de restaurá-la, reparando as forças que incessantemente vão se gastando.
O Pão Eucarístico nos restaura também, perdoando os pecados veniais. É o seu antídoto, afirma o Concílio de Trento. Assim, convém comungar com a maior freqüência possível.

Dá bem-estar espiritual
Em quarto e último lugar, quem come desse Pão experimenta em sua alma um bem-estar análogo ao que costuma proporcionar ao corpo uma boa comida.
É um fato comprovado pela experiência. Quantas almas oprimidas pelos trabalhos e sofrimentos tiram da Comunhão matinal a resignação, a serenidade e a alegria!

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2005, n. 48, p. 22 e 23)

Três aspectos do banquete pascal

Pe. Alex Barbosa de Brito, EP

O Banquete Eucarístico é, ao mesmo tempo, Banquete de Sacrifício e Convívio, Banquete de Ação de Graças e Banquete da Nova Aliança.

A ideia do banquete nos remete ao convívio estreito, familiar e amigo de uma mesa igualmente farta de guloseimas e caridade fraterna, propriamente um ágape[1].

À mesa é que as amizades se consolidam, rendem-se graças por benefícios recebidos, decreta-se a paz, selam-se concordatas, decide-se o destino de povos ou simplesmente se solidifica a união familiar. Não raros acontecimentos sagrados se atualizam de alguma forma pela lembrança viva da festa que se celebra. No Antigo e no Novo Testamento encontram-se comovedoras passagens nesse sentido. Recorde-se Jetro, que desejando agradecer o defensor de suas filhas e rebanhos, convida o anônimo benfeitor para “que coma alguma coisa” (Ex 2,20), refeição que uniu e comprometeu, pois Moisés aceitou e ficou na casa, casando-se com a filha do pastor de Madiã. (Ex 2,21).

Abraão não ofereceu aos três misteriosos mensageiros um repasto com perfume sacrifical, pão para lhes restaurar as forças? (Gn 18, 3-5) E eles comeram. Outra vez é um mensageiro celeste que vem em socorro do fatigado e ígneo profeta do Carmelo, Elias, o qual recupera suas forças depois de comer um pão angelical sub cineribus[2]. (II Rs 19,6). Anjos comendo alimentos humanos, homens comendo alimentos angélicos. O que une naturezas tão diversas? O alimento.

Noutra passagem, encontramos o costume anual em que familiares e vizinhos se juntam a estrangeiros, suspendem temporariamente distâncias, rixas ou desavenças, para comerem juntos amargas ervas, celebrando as dores passadas, pães ázimos, para recordar aqueles cuja pressa da fuga não lhes deu tempo para fermentar; e o suave cordeiro, memorial da passagem (páscoa) da escravidão à liberdade. Ceia ritual que recorda o passado, edifica o presente e lança para o futuro a esperança de tempos melhores (Ex. 12).

E quando faltou alimento, um delicado pão cai do alto (Ex. 16) para alimentar murmuradores […] com sabores tão variados que podiam contentar a todos os caprichos dos filhos ingratos: omne delectamentum in se habentem – “contendo em si todas as delicias e adaptando-se a todos os gostos” (Sb 16, 20).

A Eucaristia, sem deixar de ser sacrifício, é também banquete sacrifical[3] “Ceia e cruz, Mesa e altar. Altar que é mesa. Mesa que é altar”. (SARAIVA MARTINS, 2005, p. 233). Por isso o Angélico doutor nos ensina que Cristo entregou à Igreja, sua esposa, a memória da sua morte sob a forma de banquete: “tertio consideratur effectus huius sacramenti ex modo quo traditur hoc sacramentum, quod traditur per modum cibus et potus”[4]. (Suma III q. 79 a. 1 ad resp).

Por isso, cumprindo os antigos ritos estabelecidos por Moisés, perto do primeiro dia dos ázimos, os discípulos perguntaram a Nosso Senhor onde deveriam fazer os preparativos para comer a Páscoa. (Mt 26,17). Aquela seria uma Páscoa diferente das outras, o sacrifício da Cruz se tornaria presente mediante dois alimentos simples e cotidianos. Nada mais íntimo entre amigos do que comer juntos à mesma mesa; nada mais simples do que aqueles dois alimentos: pão de trigo e vinho de uva; sobretudo, nada mais comovedor do que o afeto de Cristo: “tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa” (Lc 22,15).

O Senhor Jesus, que quis ficar presente nos sinais do pão e do vinho, também convidou os discípulos dizendo: “Tomai e comei, tomai e bebei”. Foi na previsão desse sublime momento que Ele disse desejar ardentemente comer essa Páscoa com seus discípulos (Cf. Lc. 22,15).

A gratidão é talvez a mais frágil das virtudes. São Lucas, ao narrar a cura de dez leprosos, recorda que apenas um retornou para agradecer. Se é verdade que os Evangelhos não registram nenhuma queixa de Nosso Senhor por tudo quanto passou nesta terra, entretanto, diante da ingratidão ululante, seus lábios divinos deixam entrever uma suave censura: “Onde estão os outros nove? Não se achou senão esse estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?” (Lc 17,17-18). Jesus conhecia bem essa debilidade humana.

Em sentido oposto, convidado Levi para o discipulado, a gratidão se fez sentir imediata e com largueza. Abandonando tudo, “deu-Lhe um grande banquete em sua casa” (Lc 5,29), ele quis marcar com aquela refeição, a sua mudança de vida, a gratidão pelo chamado de Jesus.

Também o Divino Mestre, tomando os pães, “rendeu graças”[5] e os distribuiu milagrosamente multiplicados. (Jo 6,11), e quando próximo de ser entregue pelos homens, tomando o cálice, “deu graças” [6] (Lc 22,17).

Assim se exprime eminente teólogo dominicano: “o sacrifício do altar é sacrifício eucarístico por antonomásia, porque é o mesmo Cristo quem se imola por nós e oferece a seu Eterno Pai um sacrifício de ação de graças que iguala, e até supera, os benefícios imensos que d’Ele temos recebido.” (ROYO MARIN, 1994, p. 176-177).

“Per ipsum, et cum ipso et in ipso”: é toda a ordem criada que dá louvor, honra e glória ao Pai. João Paulo II, na Encíclica Ecclesia de Eucharistia, recorda que “o Filho de Deus, fez-se homem para, num supremo ato de louvor, devolver toda a criação Àquele que a fez surgir do nada” (EE 8), sendo em verdade este o “Mysterium fidei que se realiza na Eucaristia: o mundo saído das mãos de Deus criador volta a ele redimido por Cristo”. (Ibidem).

A Teologia, inclusive a ciência moderna, assumiu os valores da tipologia bíblica (tipoV = figura), por onde todo o Antigo Testamento deve ser visto na sua perspectiva futura, como nos explica São Paulo a propósito dos exemplos dos castigos sofridos por Israel (1 Cor, 10,6 e 11; cf. PIOLANTE, 1983, p. 52).

É nessa perspectiva que devemos compreender a Aliança estabelecida entre Deus e o Povo de Israel, cuja principal festa era a Páscoa, a imolação do cordeiro, a festa dos ázimos, as ervas amargas… “Viram a Deus, depois comeram e beberam” (Ex 24,11)[7]. (Cf. Ibidem).

O termo berith, de origem hebraica, significa um pacto estabelecido entre duas pessoas, sancionado por um juramento ritual. No início consistia na troca de sangue entre as duas partes contraentes, significando “comunhão de vida e de interesses”. Com o tempo esse sacrifício foi substituído por memoriais erigidos para formalizar o acordo. (Cf. PIOLANTE, 1983, p. 61).

As duas partes contraentes na Antiga Aliança eram Deus e do outro lado as doze tribos de Israel. No Sacrifico ritual, Deus era representado pelo Altar e o Povo pelas doze pedras que se colocavam em derredor do mesmo. (Ibidem, p. 62)

Ora, quando o Senhor Jesus celebrou a Páscoa com os seus apóstolos, eram eles as doze pedras fundamentais do novo Povo, e Ele, o altar e a vítima, o pão oferecido e o cordeiro que seria imolado de modo cruento no Calvário. Diz-se Nova Aliança porque, na última ceia, Cristo, ao dizer: “isto é o meu sangue da nova aliança”, ab-rogou a aliança do Sinai estabelecida entre Deus e Moisés: “eis o sangue da aliança, que o Senhor concluiu convosco”. (Ex 24).

Na Missa, o sacerdote, ao consagrar o cálice, “anuncia o sacrifício redentor de Cristo e renova a aliança selada com o seu sangue”. (SARAIVA MARTINS, 2005, p. 248), à imagem do que se fazia na antiga aliança, quando se comemorava, todos os anos, a ceia do cordeiro pascal, sacrificado e comido pelos hebreus em banquete. Completa o ilustre Cardeal:

A Eucaristia é vista também nesta ótica, que é essencial para se ter uma ideia exata da sua verdadeira natureza. Nela não só Cristo se imola sacramentalmente e o povo cristão dá graças pelo inefável dom da salvação, mas, além disso, é renovada a nova e eterna aliança instituída na última ceia. (Id ibidem).


[1] Ágape –(agaph) é o amor próprio de Deus (1 Jo 4-8 – agaph tou Theou) Trata-se portanto de um amor desinteressado, pleno de solicitudes (Cf. DCE 3 e 7), pode ter o significado de refeição fraterna e, na concepção Cristã, o termo se tornou também nome da Eucaristia; “nesta o ágape de Deus vem corporalmente a nós, para continuar a sua ação em nós e através de nós”. (DCE, 14).

[2] Sub cineribus é o pão cozido sob as cinzas com algumas brasas vivas, não necessariamente em forno, pois no deserto não os havia, como no tempo de Abraão, que era nómade.

[3] São João Crisóstomo exortava, comovido, que se venerasse “esta mesa, na qual participam os crentes em Cristo morto por nós, sacrifício colocado sobre esta mesa”. (PG 34, 704).

[4] “A partir do fato de que ele nos é dado em forma de comida e bebida”.

[5] A grande consideração atribuída à refeição em comum continuou no hebraísmo antigo. Mas acrescentou-se lhe um elemento completamente novo: a oração antes e depois da refeição. O pai tomava o pão, levantando-o de modo que todos o pudessem ver e, em nome de todos os presentes, pronunciava sobre ele uma doxologia: “Louvor a vós, Senhor, nosso Deus, rei do mundo, que fazeis nascer o pão da terra”. Depois da refeição se recitava a oração de agradecimento [o dono ou um hóspede a quem ele quisesse fazer uma deferência] […] em seguida, com a mão direita levantava o “cálice da bênção”(1 Cor 10,16) um palmo acima da mesa e, com os olhos voltados para ele, recitava a oração final. (JEREMIAS, 2006, p. 244 e 245).

[6] “Deu graças” (eucaristein= eucaristein)

[7] A Páscoa judaica era ordinariamente comemorada todos os anos, no dia 14 de Nisã, que corresponde às luas do meses de março e abril, no período da primavera.

Benedetto XVI: visita al Seminario Romano Maggiore, alla vigilia della Festa della Madonna della Fiducia

bento-xvi[…]

In quest’Anno Sacerdotale, vogliamo essere particolarmente attenti alle parole del Signore concernenti il nostro servizio. Il brano del Vangelo ora letto parla indirettamente, ma profondamente, del nostro Sacramento, della nostra chiamata a stare nella vigna del Signore, ad essere servitori del suo mistero.

In questo breve brano, troviamo alcune parole-chiave, che danno l’indicazione dell’annuncio che il Signore vuole fare con questo testo. “Rimanere”: in questo breve brano, troviamo dieci volte la parola “rimanere”; poi, il nuovo comandamento: “Amatevi come io vi ho amato”, “Non più servi ma amici”, “Portate frutto”; e, finalmente: “Chiedete, pregate e vi sarà dato, vi sarà data la gioia”. Preghiamo il Signore perché ci aiuti ad entrare nel senso delle sue parole, perché queste parole possano penetrare il nostro cuore e così possano essere via e vita in noi, con noi e tramite noi.

La prima parola è: “Rimanete in me, nel mio amore”. Il rimanere nel Signore è fondamentale come primo tema di questo brano. Rimanere: dove? Nell’amore, nell’amore di Cristo, nell’essere amati e nell’amare il Signore. Tutto il capitolo 15 concretizza il luogo del nostro rimanere, perché i primi otto versetti espongono e presentano la parabola della vite: “Io sono la vite e voi i rami”. La vite è un’immagine veterotestamentaria che troviamo sia nei Profeti, sia nei Salmi e ha un duplice significato: è una parabola per il popolo di Dio, che è la sua vigna. Egli ha piantato una vite in questo mondo, ha coltivato questa vite, ha coltivato la sua vigna, protetto questa sua vigna, e con quale intento? Naturalmente, con l’intento di trovare frutto, di trovare il dono prezioso dell’uva, del vino buono.

E così appare il secondo significato: il vino è simbolo, è espressione della gioia dell’amore. Il Signore ha creato il suo popolo per trovare la risposta del suo amore e così questa immagine della vite, della vigna, ha un significato sponsale, è espressione del fatto che Dio cerca l’amore della sua creatura, vuole entrare in una relazione d’amore, in una relazione sponsale con il mondo tramite il popolo da lui eletto.

Ma poi la storia concreta è una storia di infedeltà: invece di uva preziosa, vengono prodotte solo piccole “cose immangiabili”, non giunge la risposta di questo grande amore, non nasce questa unità, questa unione senza condizioni tra uomo e Dio, nella comunione dell’amore. L’uomo si ritira in se stesso, vuole avere se stesso solo per sé, vuole avere Dio per sé, vuole avere il mondo per sé. E così, la vigna viene devastata, il cinghiale del bosco, tutti i nemici vengono, e la vigna diventa un deserto.

Ma Dio non si arrende: Dio trova un nuovo modo per arrivare ad un amore libero, irrevocabile, al frutto di tale amore, alla vera uva: Dio si fa uomo, e così diventa Egli stesso radice della vite, diventa Egli stesso la vite, e così la vite diviene indistruttibile. Questo popolo di Dio non può essere distrutto, perché Dio stesso vi è entrato, si è impiantato in questa terra. Il nuovo popolo di Dio è realmente fondato in Dio stesso, che si fa uomo e così ci chiama ad essere in Lui la nuova vite e ci chiama a stare, a rimanere in Lui.

Teniamo presente, inoltre, che, nel capitolo 6 del Vangelo di Giovanni, troviamo il discorso sul pane, che diventa il grande discorso sul mistero eucaristico. In questo capitolo 15 abbiamo il discorso sul vino: il Signore non parla esplicitamente dell’Eucaristia, ma, naturalmente, dietro il mistero del vino sta la realtà che Egli si è fatto frutto e vino per noi, che il suo sangue è il frutto dell’amore che nasce dalla terra per sempre e, nell’Eucaristia, il suo sangue diventa il nostro sangue, noi diventiamo nuovi, riceviamo una nuova identità, perché il sangue di Cristo diventa il nostro sangue. Così siamo imparentati con Dio nel Figlio e, nell’Eucaristia, diventa realtà questa grande realtà della vite nella quale noi siamo rami uniti con il Figlio e così uniti con l’amore eterno.

“Rimanete”: rimanere in questo grande mistero, rimanere in questo nuovo dono del Signore, che ci ha reso popolo in se stesso, nel suo Corpo e col suo Sangue. Mi sembra che dobbiamo meditare molto questo mistero, cioè che Dio stesso si fa Corpo, uno con noi; Sangue, uno con noi; che possiamo rimanere – rimanendo in questo mistero – nella comunione con Dio stesso, in questa grande storia di amore, che è la storia della vera felicità. Meditando questo dono – Dio si è fatto uno con noi tutti e, nello stesso tempo, ci fa tutti uno, una vite – dobbiamo anche iniziare a pregare, affinché sempre più questo mistero penetri nella nostra mente, nel nostro cuore, e sempre più siamo capaci di vedere e di vivere la grandezza del mistero, e così cominciare a realizzare questo imperativo: “Rimanete”.

Se continuiamo a leggere attentamente questo brano del Vangelo di Giovanni, troviamo anche un secondo imperativo: “Rimanete” e “Osservate i miei comandamenti”. “Osservate” è solo il secondo livello; il primo è quello del “rimanere”, il livello ontologico, cioé che siamo uniti con Lui, che ci ha dato in anticipo se stesso, ci ha già dato il suo amore, il frutto. Non siamo noi che dobbiamo produrre il grande frutto; il cristianesimo non è un moralismo, non siamo noi che dobbiamo fare quanto Dio si aspetta dal mondo, ma dobbiamo innanzitutto entrare in questo mistero ontologico: Dio si dà Egli stesso. Il suo essere, il suo amare, precede il nostro agire e, nel contesto del suo Corpo, nel contesto dello stare in Lui, identificati con Lui, nobilitati con il suo Sangue, possiamo anche noi agire con Cristo.

L’etica è conseguenza dell’essere: prima il Signore ci dà un nuovo essere, questo è il grande dono; l’essere precede l’agire e da questo essere poi segue l’agire, come una realtà organica, perché ciò che siamo, possiamo esserlo anche nella nostra attività. E così ringraziamo il Signore perché ci ha tolto dal puro moralismo; non possiamo obbedire ad una legge che sta di fonte a noi, ma dobbiamo solo agire secondo la nostra nuova identità. Quindi non è più un’obbedienza, una cosa esteriore, ma una realizzazione del dono del nuovo essere.

Lo dico ancora una volta: ringraziamo il Signore perché Lui ci precede, ci dà quanto dobbiamo dare noi, e noi possiamo essere poi, nella verità e nella forza del nostro nuovo essere, attori della sua realtà. Rimanere e osservare: l’osservare è il segno del rimanere e il rimanere è il dono che Lui ci dà, ma che deve essere rinnovato ogni giorno nella nostra vita.

Segue, poi, questo nuovo comandamento: “Amatevi come io vi ho amato”. Nessun amore è più grande di questo: “dare la vita per i propri amici”. Che cosa vuol dire? Anche qui non si tratta di un moralismo. Si potrebbe dire: “Non è un nuovo comandamento; il comandamento di amare il prossimo come se stessi esiste già nell’Antico Testamento”. Alcuni affermano: “Tale amore va ancora più radicalizzato; questo amare l’altro deve imitare Cristo, che si è dato per noi; deve essere un amare eroico, fino al dono di se stessi”. In questo caso, però, il cristianesimo sarebbe un moralismo eroico. E’ vero che dobbiamo arrivare fino a questa radicalità dell’amore, che Cristo ci ha mostrato e donato, ma anche qui la vera novità non è quanto facciamo noi, la vera novità è quanto ha fatto Lui: il Signore ci ha dato se stesso, e il Signore ci ha donato la vera novità di essere membri suoi nel suo corpo, di essere rami della vite che è Lui. Quindi, la novità è il dono, il grande dono, e dal dono, dalla novità del dono, segue anche, come ho detto, il nuovo agire.

San Tommaso d’Aquino lo dice in modo molto preciso quando scrive: “La nuova legge è la grazia dello Spirito Santo” (Summa theologiae, I-IIae, q. 106, a. 1). La nuova legge non è un altro comando più difficile degli altri: la nuova legge è un dono, la nuova legge è la presenza dello Spirito Santo datoci nel Sacramento del Battesimo, nella Cresima, e datoci ogni giorno nella Santissima Eucaristia. I Padri qui hanno distinto “sacramentum” ed “exemplum“. “Sacramentum” è il dono del nuovo essere, e questo dono diventa anche esempio per il nostro agire, ma il “sacramentum” precede, e noi viviamo dal sacramento. Qui vediamo la centralità del sacramento, che è centralità del dono.

Procediamo nella nostra riflessione. Il Signore dice: “Non vi chiamo più servi, il servo non sa quello che fa il suo padrone. Vi ho chiamato amici perché tutto ciò che ho udito dal Padre l’ho fatto conoscere a voi”. Non più servi, che obbediscono al comando, ma amici che conoscono, che sono uniti nella stessa volontà, nello stesso amore. La novità quindi è che Dio si è fatto conoscere, che Dio si è mostrato, che Dio non è più il Dio ignoto, cercato, ma non trovato o solo indovinato da lontano. Dio si è fatto vedere: nel volto di Cristo vediamo Dio, Dio si è fatto “conosciuto”, e così ci ha fatto amici. Pensiamo come nella storia dell’umanità, in tutte le religioni arcaiche, si sa che c’è un Dio. Questa è una conoscenza immersa nel cuore dell’uomo, che Dio è uno, gli dèi non sono “il” Dio. Ma questo Dio rimane molto lontano, sembra che non si faccia conoscere, non si faccia amare, non è amico, ma è lontano. Perciò le religioni si occupano poco di questo Dio, la vita concreta si occupa degli spiriti, delle realtà concrete che incontriamo ogni giorno e con le quali dobbiamo fare i calcoli quotidianamente. Dio rimane lontano.

Poi vediamo il grande movimento della filosofia: pensiamo a Platone, Aristotele, che iniziano a intuire come questo Dio è l’agathòn, la bontà stessa, è l’eros che muove il mondo, e tuttavia questo rimane un pensiero umano, è un’idea di Dio che si avvicina alla verità, ma è un’idea nostra e Dio rimane il Dio nascosto.

Poco tempo fa, mi ha scritto un professore di Regensburg, un professore di fisica, che aveva letto con grande ritardo il mio discorso all’Università di Regensburg, per dirmi che non poteva essere d’accordo con la mia logica o poteva esserlo solo in parte. Ha detto: “Certo, mi convince l’idea che la struttura razionale del mondo esiga una ragione creatrice, la quale ha fatto questa razionalità che non si spiega da se stessa”. E continuava: “Ma se può esserci un demiurgo – così si esprime -, un demiurgo mi sembra sicuro da quanto Lei dice, non vedo che ci sia un Dio amore, buono, giusto e misericordioso. Posso vedere che ci sia una ragione che precede la razionalità del cosmo, ma il resto no”. E così Dio gli rimane nascosto. E’ una ragione che precede le nostre ragioni, la nostra razionalità, la razionalità dell’essere, ma non c’è un amore eterno, non c’è la grande misericordia che ci dà da vivere.

Ed ecco, in Cristo, Dio si è mostrato nella sua totale verità, ha mostrato che è ragione e amore, che la ragione eterna è amore e così crea. Purtroppo, anche oggi molti vivono lontani da Cristo, non conoscono il suo volto e così l’eterna tentazione del dualismo, che si nasconde anche nella lettera di questo professore, si rinnova sempre, cioè che forse non c’è solo un principio buono, ma anche un principio cattivo, un principio del male; che il mondo è diviso e sono due realtà ugualmente forti: e che il Dio buono è solo una parte della realtà. Anche nella teologia, compresa quella cattolica, si diffonde attualmente questa tesi: Dio non sarebbe onnipotente. In questo modo si cerca un’apologia di Dio, che così non sarebbe responsabile del male che troviamo ampiamente nel mondo. Ma che povera apologia! Un Dio non onnipotente! Il male non sta nelle sue mani! E come potremmo affidarci a questo Dio? Come potremmo essere sicuri nel suo amore se questo amore finisce dove comincia il potere del male?

Ma Dio non è più sconosciuto: nel volto del Cristo Crocifisso vediamo Dio e vediamo la vera onnipotenza, non il mito dell’onnipotenza. Per noi uomini potenza, potere è sempre identico alla capacità di distruggere, di far il male. Ma il vero concetto di onnipotenza che appare in Cristo è proprio il contrario: in Lui la vera onnipotenza è amare fino al punto che Dio può soffrire: qui si mostra la sua vera onnipotenza, che può giungere fino al punto di un amore che soffre per noi. E così vediamo che Lui è il vero Dio e il vero Dio, che è amore, é potere: il potere dell’amore. E noi possiamo affidarci al suo amore onnipotente e vivere in questo, con questo amore onnipotente.

Penso che dobbiamo sempre meditare di nuovo su questa realtà, ringraziare Dio perché si è mostrato, perché lo conosciamo in volto, faccia a faccia; non è più come Mosé che poteva vedere solo il dorso del Signore. Anche questa è un’idea bella, della quale San Gregorio Nisseno dice: “Vedere solo il dorso vuol dire che dobbiamo sempre andare dietro a Cristo”. Ma nello stesso tempo Dio ha mostrato con Cristo la sua faccia, il suo volto. Il velo del tempio è squarciato, è aperto, il mistero di Dio è visibile. Il primo comandamento che esclude immagini di Dio, perché esse potrebbero solo sminuirne la realtà, è cambiato, rinnovato, ha un’altra forma. Possiamo adesso, nell’uomo Cristo, vedere il volto di Dio, possiamo avere icone di Cristo e così vedere chi è Dio.

Io penso che chi ha capito questo, chi si è fatto toccare da questo mistero, che Dio si è svelato, si è squarciato il velo del tempio, mostrato il suo volto, trova una fonte di gioia permanente. Possiamo solo dire: “Grazie. Sì, adesso sappiamo chi tu sei, chi è Dio e come rispondere a Lui”. E penso che questa gioia di conoscere Dio che si è mostrato, mostrato fino all’intimo del suo essere, implica anche la gioia del comunicare: chi ha capito questo, vive toccato da questa realtà, deve fare come hanno fatto i primi discepoli che vanno dai loro amici e fratelli dicendo: “Abbiamo trovato colui del quale parlano i Profeti. Adesso è presente”. La missionarietà non è una cosa esteriormente aggiunta alla fede, ma è il dinamismo della fede stessa. Chi ha visto, chi ha incontrato Gesù, deve andare dagli amici e deve dire agli amici: “Lo abbiamo trovato, è Gesù, il Crocifisso per noi”.

Continuando poi, il testo dice: “Vi ho costituiti perché andiate e portiate frutto e il frutto vostro rimanga”. Con questo ritorniamo all’inizio, all’immagine, alla parabola della vite: essa è creata per portare frutto. E qual è il frutto? Come abbiamo detto, il frutto è l’amore. Nell’Antico Testamento, con la Torah come prima tappa dell’autorivelazione di Dio, il frutto era compreso come giustizia, cioè vivere secondo la Parola di Dio, vivere nella volontà di Dio, e così vivere bene.

Ciò rimane, ma nello stesso tempo viene trasceso: la vera giustizia non consiste in un’obbedienza ad alcune norme, ma è amore, amore creativo, che trova da sé la ricchezza, l’abbondanza del bene. Abbondanza è una delle parole chiave del Nuovo Testamento, Dio stesso dà sempre con abbondanza. Per creare l’uomo, crea questa abbondanza di un cosmo immenso; per redimere l’uomo dà se stesso, nell’Eucaristia dà se stesso. E chi è unito con Cristo, chi è ramo nella vite, vive di questa legge, non chiede: “Posso ancora fare questo o no?”, “Devo fare questo o no?”, ma vive nell’entusiasmo dell’amore che non domanda: “questo è ancora necessario oppure proibito”, ma, semplicemente, nella creatività dell’amore, vuole vivere con Cristo e per Cristo e dare tutto se stesso per Lui e così entrare nella gioia del portare frutto. Teniamo anche presente che il Signore dice “Vi ho costituiti perché andiate”: è il dinamismo che vive nell’amore di Cristo; andare, cioè, non rimanere solo per me, vedere la mia perfezione, garantire per me la felicità eterna, ma dimenticare me stesso, andare come Cristo è andato, andare come Dio è andato dall’immensa sua maestà fino alla nostra povertà, per trovare frutto, per aiutarci, per donarci la possibilità di portare il vero frutto dell’amore. Quanto più siamo pieni di questa gioia di aver scoperto il volto di Dio, tanto più l’entusiasmo dell’amore sarà reale in noi e porterà frutto.

E finalmente giungiamo all’ultima parola di questo brano: “Questo vi dico: ‘Tutto quello che chiederete al Padre nel mio nome ve lo conceda’”. Una breve catechesi sulla preghiera, che ci sorprende sempre di nuovo. Due volte in questo capitolo 15 il Signore dice “Quanto chiederete vi do” e una volta ancora nel capitolo 16. E noi vorremmo dire: “Ma no, Signore, non è vero”. Tante preghiere buone e profonde di mamme che pregano per il figlio che sta morendo e non sono esaudite, tante preghiere perché succeda una cosa buona e il Signore non esaudisce. Che cosa vuol dire questa promessa? Nel capitolo 16 il Signore ci offre la chiave per comprendere: ci dice quanto ci dà, che cosa è questo tutto, la charà, la gioia: se uno ha trovato la gioia ha trovato tutto e vede tutto nella luce dell’amore divino. Come San Francesco, il quale ha composto la grande poesia sul creato in una situazione desolata, eppure proprio lì, vicino al Signore sofferente, ha riscoperto la bellezza dell’essere, la bontà di Dio, e ha composto questa grande poesia.

È utile ricordare, nello stesso momento, anche alcuni versetti del Vangelo di Luca, dove il Signore, in una parabola, parla della preghiera, dicendo: “Se già voi che siete cattivi date cose buone ai vostri figli, quanto più il Padre nel cielo darà a voi suoi figli lo Spirito Santo”. Lo Spirito Santo – nel Vangelo di Luca – è gioia, nel Vangelo di Giovanni è la stessa realtà: la gioia è lo Spirito Santo e lo Spirito Santo è la gioia, o, in altre parole, da Dio non chiediamo qualche piccola o grande cosa, da Dio invochiamo il dono divino, Dio stesso; questo è il grande dono che Dio ci dà: Dio stesso. In questo senso dobbiamo imparare a pregare, pregare per la grande realtà, per la realtà divina, perché Egli ci dia se stesso, ci dia il suo Spirito e così possiamo rispondere alle esigenze della vita e aiutare gli altri nelle loro sofferenze. Naturalmente, il Padre Nostro ce lo insegna. Possiamo pregare per tante cose, in tutti i nostri bisogni possiamo pregare: “Aiutami!”. Questo è molto umano e Dio è umano, come abbiamo visto; quindi è giusto pregare Dio anche per le piccole cose della nostra vita di ogni giorno.

Ma, nello stesso tempo, il pregare è un cammino, direi una scala: dobbiamo imparare sempre più per quali cose possiamo pregare e per quali cose non possiamo pregare, perché sono espressioni del mio egoismo. Non posso pregare per cose che sono nocive per gli altri, non posso pregare per cose che aiutano il mio egoismo, la mia superbia. Così il pregare, davanti agli occhi di Dio, diventa un processo di purificazione dei nostri pensieri, dei nostri desideri. Come dice il Signore nella parabola della vite: dobbiamo essere potati, purificati, ogni giorno; vivere con Cristo, in Cristo, rimanere in Cristo, è un processo di purificazione, e solo in questo processo di lenta purificazione, di liberazione da noi stessi e dalla volontà di avere solo noi stessi, sta il cammino vero della vita, si apre il cammino della gioia.

Come ho già accennato, tutte queste parole del Signore hanno un sottofondo sacramentale. Il sottofondo fondamentale per la parabola della vite è il Battesimo: siamo impiantati in Cristo; e l’Eucaristia: siamo un pane, un corpo, un sangue, una vita con Cristo. E così anche questo processo di purificazione ha un sottofondo sacramentale: il sacramento della Penitenza, della Riconciliazione nel quale accettiamo questa pedagogia divina che giorno per giorno, lungo una vita, ci purifica e ci fa sempre più veri membri del suo corpo. In questo modo possiamo imparare che Dio risponde alle nostre preghiere, risponde spesso con la sua bontà anche alle preghiere piccole, ma spesso anche le corregge, le trasforma e le guida perché possiamo essere finalmente e realmente rami del suo Figlio, della vite vera, membri del suo Corpo.

Ringraziamo Dio per la grandezza del suo amore, preghiamo perché ci aiuti a crescere nel suo amore, a rimanere realmente nel suo amore.

 12-02-2010 Bollettino Sala Stampa de la Santa Sede – Servizi di Informazione in: www.vatican.va

El Pan de Vida

“Concédenos, Dios todopoderoso,
“que de tal manera saciemos
“nuestra hambre y nuestra sed en estos sacramentos,
“que nos transformemos en lo que hemos recibido.
Por Jesucristo, nuestro Señor”.

En esta oración post-comunión de la XXVII semana del tiempo ordinario, está dicho con precisión teológica y sencillez de expresión, la meta del misterio Eucarístico.
Transformarnos en Cristo: he ahí el objetivo de la Eucaristía.
En el capítulo VI de su Evangelio, San Juan nos relata el sermón Eucarístico de Jesús, cuando Él se revela como pan vivo bajado del cielo para ser comido y garantizar así la resurrección y la vida eterna. Ese anuncio chocó profundamente a muchos discípulos que a partir de ese momento le dejaron definitivamente ¿¡Cómo puede ser eso de comer el cuerpo y beber la sangre del Maestro!? Otros, como los apóstoles, fueron confirmados en su vocación.
En esta declaración y en su posterior concretización durante la última Cena y el Calvario (que son un mismo misterio), está expresado todo el amor infinito y la intención salvífica de Jesús.
Es que la comida de este pan, es muy distinta de cualquier otro pan o alimento humano. O inclusive del propio maná prodigioso del desierto.
Analicemos. El hombre viviente mata primero lo que ha de comer e incorpora después a su vida humana la materia inerte que ingirió. Mata animales, cuece al fuego la comida, deglute plantas o frutas y todo eso, perdiendo su forma original, es ingerido e incorporado al organismo racional de quien los comió. Si los manjares tuvieran conciencia, se enorgullecerían, pues el hombre humaniza y espiritualiza la materia que lo sustenta.
En la comunión del Pan de Vida es al revés. Ese pan no es materia inerte sino viva. Es el Verbo de Dios hecho hombre que se hace alimento para ser comido. Y cuando lo comemos, no lo transformamos en vida humana, como a los demás alimentos que ingerimos, sino que nos Él transforma a nosotros en divinos. Él no se hace uno con nosotros sino que nos hace uno con Él, asimilándonos y convirtiéndonos en miembros de su cuerpo que es la Iglesia.
Recordemos que al comulgar, no recibimos a Jesús muerto sino a Jesús resucitado, vivo. Si fuese el cuerpo difunto del Salvador, le estaríamos dando vida en nuestro recuerdo, en nuestro amor o en nuestro organismo. Cuando recordamos a nuestros seres queridos en el aniversario de su muerte, por ejemplo, de alguna manera les damos vida en nuestro corazón.
Con Jesús no es así. Él está vivo y nos transforma comunicándonos su vida superior.
¡Qué prodigio de bondad es la Eucaristía que de esta forma nos diviniza! ¡Y qué locura dejar de celebrar, dejar de comulgar, para saciarnos de cosas terrenales corruptibles y hasta nocivas!
La comunión es alimento, es remedio, es misterio transformador y creador.