Da beleza à Beleza

Diác. Dartagnan Alves de Oliveira Souza, EP

As belezas contidas no Universo nos falam de uma Beleza maior, não mutável, mas da qual emanam todas as demais belezas (relativas), sujeitas à mudança.[1] Essas belezas mutáveis são apenas reflexos de uma matriz de Beleza de onde se origina esse transcendental.[2]

Santo Agostinho em um de seus sermões, tratando sobre a beleza, diz: “Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar dilatado e difuso, interroga a beleza do céu, interroga o ritmo ordenado dos astros; interroga ao sol, que ilumina o dia com fulgor; interroga a lua, que suaviza com seu resplendor a obscuridade da noite que segue ao dia; interroga aos animais que se movem nas águas, que habitam a terra e que voam no ar […] Interroga todas essas realidades. Todas elas te responderão: Olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino (confissão) de louvor. Quem fez essas coisas belas, ainda que mutáveis, senão a própria Beleza imutável?”[3]

Por meio dos atrativos bons, belos e verdadeiros encontrados na natureza material que nos rodeia a todo momento, podemos nos elevar Àquele que é propriamente o Bem, o Belo e a Verdade por excelência.

A respeito da beleza Platão já falara em seu tempo. Para ele, o princípio de uma ascensão à ideia divina de Beleza tem como ponto de partida o amor. É por meio do amor que o homem poderá contemplar as criaturas corpóreas e dar um passo rumo à beleza moral. Atingindo essa beleza posta nos costumes, o homem poderá ascender aos belos ensinamentos — que outra coisa não é, senão a beleza intelectual — para assim chegar à consideração da ideia de Beleza em si mesma — a Beleza enquanto tal — da qual as demais belezas particulares não são senão mera participação.[4] Assim sendo, segundo esse filósofo, o homem ascende como que a graus que o levam a encontrar e a conhecer, paulatinamente, belezas superiores, até chegar à Beleza em si mesma, que é incriada.[5]

Essa ideia, exposta no Banquete, nos mostra de forma claríssima o que Platão pensava sobre a beleza. Encontramos nesse pensamento a conceitualização da ideia do amor vinculada com a ideia de beleza; para ele, é por meio do amor que o filósofo chegará a uma ciência verdadeira (a contemplação da Beleza em si mesma). Platão atribuirá à ideia de Beleza qualificativos “divinos”. O próprio ser humano, ao entrar em contato com ela, poderá haurir essa “divinização”. Ele chega a afirmar que toda participação de beleza contida no Universo tem como modelo essa Beleza “inmutable, que no nace ni perece, autosuficiente, simple, incorpórea, divina y que diviniza al hombre que la posee…”.[6]

Esse pensamento platônico é uma primeira ideia, ainda não nítida, a respeito da relação da beleza por participação com a Beleza subsistente. Claro está que o pensamento em torno da beleza, em todos os seus graus e formas, foi-se desenvolvendo à medida que o próprio ser humano a foi contemplando.


[1] JOLIVET, Tratado de Filosofia III: Metafísica, Op. Cit., p. 260.

[2] BRUYNE, Edgar de. L’Esthétique du Moyen Age. Louvain: Éditions de L’Institut Supérieur de Philosophie, 1947. p. 10.

[3] SANCTUS AUGUSTINUS, Sermo 241, 2. Interroga pulchritudinem terrae, interroga pulchritudinem maris, interroga pulchritudinem dilatati et diffusi aeris, interroga pulchritudinem coeli, interroga ordinem siderum, interroga solem fulgore suo diem clarificantem, interroga lunam splendore subsequentis noctis tenebras temperantem, interroga animalia quae moventur in aquis, quae morantur in terris, quae volitant in aere […] interroga ista, Respondent tibi omnia: Ecce vide, pulchra sumus. Pulchritudo eorum, confessio eorum. Ista pulchra mutabilia quis fecit, nisi incommutabilis pulcher? (Tradução pessoal).

[4] PLATÃO. Fédon, XLIX, 100. Citado por MANDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: História da Filosofia Greco-Romana I. 2. ed. Tradução de Lycurgo Gomes da Motta. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1966. p. 13.

[5] PLATÃO. O banquete. Citado por FRAILE, Guillermo, O. P. Historia de la filosofía I: Grecia y Roma. 5. ed. Madrid: La Editorial Catolica, S. A., 1982. p. 354-355.

[6] Ibid., p. 326-327. “…imutável, que não nasce e nem morre, auto-suficiente, simples, incorpórea, divina e que diviniza ao homem que a possui…” (Tradução pessoal).

Não é qualquer beleza que salva

Pe. José Victorino de Andrade, EPaurora

O Catecismo da Igreja Católica ensina que a obra da criação se nos apresenta sob a forma de vestígios do próprio Criador,[1] a fim de a inteligência poder relacionar as coisas visíveis com o invisível. Este contínuo apelo daquilo que nos rodeia à sua causa e sustento, leva o homem a sair de si para deixar-se surpreender e enlevar, através de experiências estéticas que lhe falam no mais íntimo de realidades superiores, metafísicas, transcendentais.

Diversos autores deixaram testemunhos surpreendentes em torno de especulações perante as múltiplas manifestações de Deus, nas suas criaturas. Nesse sentido, há um célebre episódio de Napoleão no qual, certa noite, interrompe uma discussão materialista entre soldados a fim de apontar as cintilantes estrelas do céu e questioná-los: “Vós podeis falar quanto tempo quiserdes, senhores, mas quem terá feito tudo isso?”.[2]

Não só diante da magnanimidade da Criação houve reações. Também a ordem e complexidade do Universo levariam Newton, ou mesmo Voltaire, a afirmarem que não há relógio sem relojoeiro,[3] reportando-se à necessidade de um Criador, ainda que envolto em concepções filosóficas distantes da Teologia cristã.

Entretanto, encontramos ainda no homem, em meio ao secularismo de hoje, um conjunto considerável de interrogantes e disposições que o levam a sair de si e ter a capacidade de se maravilhar com os vestígios de Deus.[4] Já São Tomás de Aquino fazia uma interessante reflexão ao considerar o 13º Capítulo do Livro da Sabedoria,[5] servindo-se para isso da seguinte imagem:

Se alguém indo a uma casa e desde a porta fosse sentindo calor e cada vez mais nela penetrasse e mais calor sentisse, evidentemente perceberia que havia fogo no seu interior, mesmo que não estivesse vendo o fogo. Acontece o mesmo conosco, ao considerarmos as coisas deste mundo. Todas as coisas estão ordenadas conforme diversos graus de beleza e de nobreza, e quanto mais próximas de Deus, tanto melhores e mais belas.[6]

Vemos, desta forma, o quanto a beleza pode ser comparada a uma chama. Quem será insensível ao seu calor? Este abrasa e arrebata, alça-nos a considerações salutares, tira-nos da nossa condição, do “eu”. Esta especulação tinha sido feita por Platão, em Fedro, e não foi estranha a Santo Agostinho. O então Cardeal Ratzinger aproveitou os escritos de ambos para comparar o belo a uma flecha capaz de ferir o homem no seu íntimo, para desse modo “lhe conferir asas e o elevar às alturas”.[7] Não será esta uma solução para o mundo materialista e relativista no qual vivemos? Não se apresentará à Igreja como um instrumento preciosíssimo, desde sempre ao seu alcance, quer através da Liturgia, quer através da arte sacra? Mons. Luigi Giussani já o reconhecia ao propor, certa vez, em seus exercícios: “Noi dobbiamo lottare per la bellezza. Perché senza la bellezza non si vive. E questa lotta deve investire ogni particolare: altrimenti come faremo un giorno a riempire la piazza San Pietro?”.[8]

“A beleza salvará o mundo”, propôs Dostoiévski,[9] numa frase múltiplas vezes utilizada em variadas reflexões. O próprio Papa João Paulo II citou-a na sua Carta aos Artistas (1999), e o Pontifício Conselho para a Cultura viria a desenvolvê-la no excelente documento elaborado em torno deste assunto, que se intitula Via Pulchritudinis.

Entretanto, cabe aqui realizar uma importante precisão, de acordo com estes dois documentos: não se trata de qualquer beleza, capaz de salvar o mundo, como se coubesse ao conceito, mesmo com todo seu valor, qualquer força própria e redentora. É para Cristo, “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl 44, 3), que o nosso pensamento deve remeter; Aquele em cuja face a glória de Deus resplandece (cf. 2Cor 4, 6).

Encontra-se traçada a pedagógica via que nos conduzirá à fonte absoluta da pulcritude, de onde dimana a relativa, os vestígios, através dos quais aprendemos “quão mais belo que tudo é o Senhor, o próprio autor da beleza” (Sb 13, 3). Porque, como escreveu Bento XVI, quando ainda cardeal: “nada há que melhor nos possa pôr em contacto com a beleza do próprio Cristo do que o mundo do Belo criado pela fé, bem como a luz resplandecente no rosto dos santos, através da qual se torna visível a Sua própria Luz”.[10]

VICTORINO DE ANDRADE, José. Editorialin: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 10, Jan-Mar 2010. p. 3-5.


[1]Cf. n. 1147.

[2] Cf. BOURRIENNE, Louis. Memoirs of Napoleon Bonapart. V.1. [s.l.]: Bibliobazaar, 1891. p. 327.

[3] Ver FIORIN, José (org.). O pensamento humano na história da filosofia. Ijuí: Sapiens, 2007, p. 261. BANDET, François. Estará a ciência oposta à Fé? Lumen Veritatis, n. 6, jan-mar, 2009, p. 70.

[4] Ver, por exemplo: JOÃO PAULO II. Angelus de 21 de Julho de 1996, ed. port. de L’Osservatore Romano de 27/7/1996, p. 1.

[5] Especificamente, as seguintes passagens: “Sim, insensatos são todos aqueles homens em que se instalou a ignorância de Deus e que, a partir dos bens visíveis, não foram capazes de descobrir Aquele que É, nem, considerando as obras, reconheceram o Artífice” (Sb 13, 1); “na grandeza e na beleza das criaturas se contempla, por analogia, o seu Criador” (Sb 13, 5).

[6] AQUINO, Tomás de. Exposição sobre o Credo. 5 ed. São Paulo: Loyola, 2002, p. 27.

[7] Publicado em 30 Giorni, n. 91 (2002). Messaggio al XXIII Meeting per l’amicizia fra i popoli. Rimini, 21 agosto 2002.

[8] Esercizi a Varigotti, 1964. Apud FARINA, Renato. Ratzinger ricorda don Gius, «mio vero amico», Libero, 25 marzo 2007.

[9] Ver DOSTOÉVSKI, Fiódor. L’idiota. Trad. PACINI G. Parte III, cap. V. Milão, 2005, p. 478.

[10] RATZINGER, Joseph. A Caminho de Jesus Cristo. Coimbra: Tenacitas, 2006, p. 45.

O sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza

Ilha dos Frades 083Diác. Felipe Ramos, EP

Vemos que no mundo sensível é fato evidente a graduação das perfeições transcendentais numa maravilhosa hierarquia. É fácil compreender que todas as coisas são ontologicamente boas secundum magis et minus. A apreensão dos graus se torna ainda mais evidente quando se considera o pulchrum, escada segura de contemplação hierárquica das coisas, com a qual atinge, em seu vértice, a sua Suma Perfeição.

Tal Perfeição, absolutamente desproporcional ao homem, nos é revelada por meio desse sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza.

Ao analisar a Criação e sua multifacetada variedade podemos nos perguntar por que Deus quis criar tal imensidade de seres. Pois sendo Ele infinitamente perfeito, bastaria-se a Si mesmo, sem a absoluta necessidade de criá-los. Porém, na Sua infinita bondade e misericórdia, assim o desejou.

Ora, Seu intuito, ao criar quantidade insondável de seres, foi para que estes não somente refletissem Sua perfeição infinita, mas também a reproduzisse em seus mais variados graus. Deste modo se explica o caráter hierárquico que Deus imprimiu ao Universo.

Contudo, não poderia Deus originar uma única criatura que por si só refletisse todas as suas perfeições tão bem como o conjunto dos seres criados? Parece que isso seria metafisicamente impossível. Pois Deus criou um Universo composto de muitas criaturas para que elas, de um lado pela sua pluralidade, de outro pela sua hierarquização, espelhassem convenientemente a Sua beleza e perfeição divina. Pois assim como um acorde sonoro é belo pela formação de uma unidade harmoniosa numa “terça”, mais belo ainda quando acrescentamos apenas uma nota num acorde de “quinta”, constituindo o que se chama “consonância perfeita”. Analogamente, a ordem da criação é ainda mais bela por sua rica pluralidade, quando coesa na unidade. Portanto, o homem, ao contemplar o mundo ao seu redor pode — aliando-se com a quarta via, ou seja, a partir da observação da gradualidade dos seres criados — inferir nestes, os esplêndidos reflexos da divina Pulchritudo.

Deste modo, o espírito hierárquico dos diversos graus aliados à ordem, às desigualdades harmônicas, ao pulchrum, em suma, leva-nos de proche en proche até a demonstração da existência de Deus, à Sua consideração e, por fim, à contemplação de Sua Suma Perfeição, causa de todas as perfeições.

Sem integridade não pode haver beleza

 

 Paulo Martosbruxelas

 

 

Sem integridade não pode haver beleza. A estátua de Moisés esculpida por Michelangelo é considerada uma obra-prima. Suponhamos que um indivíduo malévolo conseguisse amputar um dos braços da mesma. A escultura perderia sua integridade e, portanto, ficaria carente de beleza.

1.1 Unidade na variedade

Bruyne (1947, p. 80) assim sintetiza as teorias de São Boaventura e Santo Alberto Magno, a respeito da estética metafísica:

Admitindo-se que o próprio espírito é belo, deve-se construir uma definição de pulchrum abarcando os seres espirituais e os materiais. Assim, duas reduções desde logo se impõem: a da cor à luz espiritual, ou seja, ao resplendor metafísico da forma; a da proporção quantitativa à ordem como tal, isto é, à unidade na multiplicidade.

Para os medievais, explica Bruyne (1947, p. 250-251), a lei estética fundamental é a unidade na variedade. A multiplicidade superabundante que se observa nas artes — por exemplo, na catedral gótica, na canção de gesta — não faz senão reproduzir as inumeráveis variedades do universo físico.

A palavra ‘universo’ provém do latim ‘universus’ (unum y versus), significando que todas as coisas convergen para o uno. Ou seja, o universo é belo, pois nele se realiza a unidade na variedade.

A unidade na variedade se observava de modo excelente na Cristandade: as nações cristãs apresentavam uma rica diversidade de idiomas, trajes, canções, costumes, modos de ser, etc., constituindo um todo guiado, instruído e governado pela Igreja Católica (cf. DANIEL-ROPS, 1993, v. 3, p. 41).

1.2 Princípio da totalidade

Santo Agostinho, quando jovem, escreveu a obra De pulchro et aptoSobre o belo e o conveniente, na qual fez referência ao princípio da totalidade. Mesmo nos corpos, individualmente considerados, há uma beleza em sentido absoluto e que se ama por ela mesma. Existe também a beleza do conjunto em que cada coisa é adaptada ao todo e apreciada em função da forma global.

O princípio da totalidade é aplicado por todos os autores medievais, quando intentam definir a beleza de um conjunto. Escreve Guilherme d’Auvergne: Imaginai uma cor ou uma forma belas em si mesmas; se mancharem um conjunto, porque não convém que estejam ali, elas próprias e a forma inteira aparecerão como feias. O vermelho é belo em si, mas não na parte do olho que deve ser branca; o olho é pulcro em si mesmo, porém não no lugar que convém à orelha (cf. BRUYNE, 1947, p. 127).

1.3 O mal, o erro e a feiura

Se todos os seres são belos, como explicar que haja no mundo a feiura? Pergunta semelhante pode ser feita quanto ao mal e ao erro, pois todas as criaturas são boas e verdadeiras. Assim, analisemos conjuntamente as questões do errado, do mau e do feio.

Quanto ao problema do mal, São Tomás na “Suma contra os gentios” (AQUINO, 1953, v. 2, p. 96) afirma:

O mal não é senão privação do que um ser tem e deve ter por natureza; pois este é o sentido com que todos usam a palavra mal. Ora, a privação não é uma essência, mas negação na substância. Logo, o mal não é nenhuma essência na realidade.

Raciocínio análogo pode ser feito em relação ao erro e à feiura: são privações da verdade e da beleza.

Ulrico de Strasbourg escreveu um tratado intitulado De Pulchro, no qual declara: “A feiura é uma ausência de beleza […] A feiura e o mal resultam da privação” (apud BRUYNE, 1959, v. 3, p. 264 e 287).

A sentença: “Bonum ex integra causa, malum ex quocumque defecto O bem provém de uma íntegra causa, o mal de qualquer defeito” pode, com as devidas alterações, ser aplicada à verdade e à beleza. Estas derivam de una íntegra causa, enquanto que o erro e a fealdade, de qualquer defeito.

É preciso considerar o universo como um todo. O cosmos, ou seja, o conjunto ordenado de seres é bom, verdadeiro e belo. Ensina Santo Agostinho: O mundo é um maravilhoso quadro onde inumeráveis matizes são harmoniosamente traçados; os sombreados postos em lugar apropriado realçam o esplendor das cores brilhantes. Esta é a imagem do universo, onde as faltas morais realçam os atos virtuosos e os monstros servem para destacar a beleza (cf. BRUYNE, 1947, p. 128).

O problema da fealdade foi explicado, entre outros, pelo Doutor Irrefragável, Alexandre de Hales (1185-1245), teólogo franciscano inglês que ensinou Filosofia e Teologia em Paris e fundou a escola franciscana (cf. Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, v. 1, p. 184). Em sua “Suma”, na qual consagra um capítulo à beleza do mundo, escreve:

O universo é belo porque leva em si o rastro da beleza divina […] É perfeito em seu gênero, porque nada lhe falta de quanto lhe é essencial. Constitui um grande Todo e, por consequência, exige ser considerado antes de tudo em seu conjunto “secundum formam Totius”. Quando se o recorre em suas diversas partes é preciso referir cada detalhe à estrutura geral: o que parece feio, ao ser visto isolado do conjunto, surge belo no Todo (apud BRUYNE, 1959, v. 3, p. 119).

E, fundamentando-se em Santo Agostinho, assevera o mestre franciscano: as coisas deformadas e feias são necessárias à ordem universal, pois Deus fez tudo com número, peso e medida (cf. BRUYNE, 1959, v. 3, p. 120).

Afirma o Doutor da Igreja São João Damasceno que a beleza das estrelas se torna ressaltada, quanto mais escura é a noite (apud BRUYNE, 1959, p. 143).

1.4 O sofrimento pode ter sublime grandeza

A perfeita saúde física e mental de um indivíduo supõe que haja harmonia em seu corpo e sua alma. Ora, a dor é causada por alguma desarmonia na pessoa humana. Além disso, devemos considerar que o sofrimento entrou no mundo devido ao pecado original, em virtude do qual Adão perdeu o dom de integridade. Assim, a dor, sendo consequência da desarmonia e da falta de integridade, não tem nenhuma beleza.

Entretanto, é preciso analisar esse tema à luz da visão de conjunto, conforme esclarece Bruyne (1947, p.132):

Na perspectiva do Todo imenso e eterno — ou seja, Deus —, a própria dor adquire uma sublime grandeza, quer porque provoca a beleza moral infinitamente superior à beleza física, quer porque intensifica, por contraste, os matizes e as profundidades da alegria.

De fato, se uma pessoa sofre com resignação, serenidade e, sobretudo, por amor a Deus, sua dor adquire uma pulcritude particular. Compreende-se, assim, como a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo tem uma Beleza de infinitas proporções.

in: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 10, Jan-Mar 2010. p. 45-47.

Victimae Paschali laudes – Testimonianza secolare dell’efficacia evangelizzatrice del Pulchrum

Pe. Eduardo Caballero, EP

In mezzo alla giocondità, il pensiero sacro della festa correnteTesto

«Prendevano posto a mensa imbandita nel gran triclinio di Leone III1, il cui mosaico absidale esiste tuttavia sulla piazza lateranense […] Intorno al Papa sedevano a mensa in abiti sacri, a destra i cardinali vescovi e preti, a sinistra l’arcidiacono, il primicerio cogli alti ufficiali di corte. Nel mezzo dell’aula era il leggio coll’omiliario, donde a metà del banchetto un diacono leggeva un tratto dei Santi Padri. Ma la lettura non durava a lungo: il Pontefice mandava un accolito ad invitare la schola, perché eseguisse qualche Sequenza del suo repertorio in onore del Natale […] e dopo che i cantori avevano dato prova della loro valentia musicale, erano ammessi a baciare il piede al Papa, il quale bonariamente offriva a ciascuno una coppa di vino ed un bisante2»3.

Con questa suggestiva descrizione – ambientata nel giorno di Natale, al rientro del Papa dalla celebrazione della terza Messa della solennità – il cardinal Schuster racconta il ruolo della Sequenza nella corte papale ai tempi di gloria del vecchio Palazzo Apostolico Lateranense. Sequenze simili a questa del Natale venivano eseguite volentieri per rallegrare il banchetto fraterno che il Papa (ed anche i Vescovi), offriva a tutti i ministri dell’altare al termine della sua Messa pontificale in diversi momenti dell’anno liturgico; banchetto «a cui erano invitati durante la stessa azione liturgica prima della Comunione. I cantori vi eseguivano le facili strofe sequenziali che insinuavano ancora una volta, anche in mezzo alla giocondità di quelle agapi, il pensiero sacro della festa corrente»4.

2. Genesi storica e uso liturgico

La Sequenza ha la sua origine probabilmente in alcune comunità monastiche francesi sotto l’influsso del vivace movimento liturgico carolingio della fine del secolo VIII e l’inizio del IX. Essa nacque dal vocalizzo esistente sull’ultima sillaba dell’Alleluia – cioè dal solfeggio cantato eseguitovi sull’ultima vocale (vedere figura) – e che, con termine musicale greco era detto appunto sequentia, “quello che segue”, all’Alleluia. Dai prolissi melismi dello jubilus alleluiatico – di origine probabilmente bizantina o siro-palestinese – si passò alla creazione di un nuovo testo melodico sottoponendolo agli interminabili vocalizzi neumatici5 orientali. Le sequenze sangalliane6, che per molto tempo furono ritenute come primitive, mostrarono poi d’essere lo sviluppo ulteriore di un tipo preesistente in Francia e in Inghilterra, forse fin dal secolo VII. I versus di queste sequenze erano disuguali e senza alcuna forma ritmica, causa l’irregolarità del vocalizzo alleluiatico che ne serviva di base. Normalmente, questi versetti venivano raggruppati in coppie di strofe uguali e parallele, che si cantavano da due cori alternati di voci bianche e voci d’uomo.

Nel secolo XI si verifica un significativo sviluppo della Sequenza. Essa comincia a staccarsi totalmente dal canto dell’Alleluia, abbandonando le forme irregolari. Le strofe acquistano un maggior equilibrio di ritmo, i versi sono più rotondi, ed incomincia ad apparire la rima. È un tipo di transizione, rappresentato assai bene dalla Sequenza Victimae Paschali laudes.

Il periodo aureo poi della Sequenza comincerà con il secolo XII, in cui verrà elevata ad una singolare perfezione artistica. È allora che appaiono alcune tra le più famose: Lauda Sion Salvatorem (1264), composta da S. Tommaso d’Aquino; Veni Sancte Spiritus, attribuita a Innocenzo III (1198-1216); e lo Stabat Mater, composto dal francescano italiano Jacopone da Todi († 1306). In tutti i paesi d’Europa le sequenze fino al secolo XVI ebbero grandissima diffusione; basti dire che le sole pubblicate raggiungono ormai il numero di circa cinquemila. Il popolo le preferiva per la loro forma semplice, che si prestava facilmente al canto collettivo in chiesa e fuori della chiesa. Nella vita della Chiesa romana però il ruolo della Sequenza fu durante molto tempo esclusivamente estra-liturgico. Ciò non vuol dire che queste composizioni poetico-musicali non piacessero anche Roma, specialmente se brillavano per artistica perfezione, anzi, la schola cantorum le eseguiva volentieri, come mostrato sopra, ma fuori delle basiliche e della Messa, in sintonia con «l’antica austerità dell’Urbe, che escludeva dalla liturgia tutti i canti che non provenivano dalla Sacra Scrittura»7. Per questo motivo, fino al secolo XIII, Roma si mostrò restia ad ammettere nell’uso strettamente liturgico un simile canto popolare d’ispirazione privata. Dopo diverse inclusioni ed esclusioni, associate a ricorrenze liturgiche specifiche, la riforma di S. Pio V finì per definire le sole quattro che sarebbero consacrate dall’edizione tipica del Messale Romano del 1570: Victimae paschali laudes (Pasqua); Veni, Sancte Spiritus (Pentecoste); Lauda, Sion, Salvatorem (Corpus Domini); Diesirae, dies illa (Defunti). La quinta sequenza finora ad uso liturgico, Stabat mater dolorosa, è stata introdotta da Benedetto XIII nel 1727, per la festa mariana dei Sette Dolori8.

3. Descrizione della Sequenza Pasquale

La Sequenza di Pasqua – la più antica ad uso liturgico attualmente – è attribuita a Vipone o Wipo di Burgundia († d. 1048), cappellano alla corte degli imperatori Corrado II9 e Enrico III10, e dal quale si conosce poco. Nei tempi antichi, era eseguita, come abitualmente le sequenze, a due cori, come detto sopra, in modo da mettere in risalto il dialogo che ne è dimensione costitutiva. Alcune delle sue caratteristiche formali attuali sono le seguenti:

a) Il testo che compare nel Messale è incompleto, giacché «manca […] alla quinta strofa la sua corrispondente [come si può apprezzare nel quadro in seguito], che diceva:

Credendum est magis soli

Mariae veraci,

Quam iudeorum

Turbae fallaci»11.

b) «L’originario praecedet suos [IV strofa], all’epoca della revisione Piana del Messale venne cangiato, per svista probabilmente paleografica, in praecedet vos»12, errore che però non evitò che questa forma rimanesse consacrata dal nuovo Messale.

c) L’Amen e l’Alleluia sono posteriori. Ecco il testo separato per ogni coro:

1) Victimae paschali laudes immolent Christiani.

2) Agnus redemit oves;

Christus innocens Patri

reconciliavit peccatores.

2ª) Mors et vita duello

conflixere mirando:

Dux vitae mortuus

regnat vivus.

3) Dic nobis Maria:

Quid vidisti in via?

3ª) Sepulcrum Christi viventis,

et gloriam vidi resurgentis;

4) Angelicos testes,

Sudarium et vestes.

4ª) Surrexit Christus spes mea,

Praecedet vos (suos)

in Galilaeam.

5) 5ª) Scimus Christum surrexisse

a mortuis vere.

Tu nobis, Victor Rex,

miserere.

Amen. Alleluia.

4. Lettura teologica della Sequenza Victimae Paschali laudes

Uno degli aspetti che risulta più evidente dal punto di vista teologico nel considerare il testo di questa sequenza è la continuità con il pensiero dei Padri nel senso che la festa pasquale non è semplicemente quella della Risurrezione ma più largamente quella della nostra Redenzione, compiuta attraverso tutti gli avvenimenti che vanno dalla Passione di Cristo fino alla sua Risurrezione, senza escludere nessuno. «Non c’è Pasqua senza l’Agnello che effonda il suo sangue»13. Le parole iniziali della prima strofa, che danno nome alla sequenza, sono ben significative in questo senso: Victimae Paschali. I due aspetti dunque sono inseparabili. Si parla sempre più della missione evangelizzatrice della Chiesa come del suo compito essenziale poiché si è ripresa coscienza, dopo il concilio Vaticano II, di come la Chiesa sia essenzialmente missionaria in tutte le circostanze14. D’altra parte, sappiamo che il kêrygma, la catechesi e la parenesi sono «le tappe di un unico processo di evangelizzazione fin dagli inizi della chiesa»15. È interessante notare che possiamo ritrovare queste categorie nella Sequenza Pasquale non certo come tappe cronologicamente succedute ma come momenti logicamente articolati in essa, esprimendo in questo modo il suo intimo legame con la vita della Chiesa, che ha accompagnato per lunghi secoli.

4.1 La catechesi: Verum

La catechesi si caratterizza per le spiegazioni delle Scritture alla luce dell’evento cristiano al fine di approfondire maggiormente la fede dei credenti. Si tratta cioè di uno sviluppo ermeneutico di esse allo scopo di coglierne il sensus plenior, cioè la verità intera e più profonda. Esempi di questa categoria sono i seguenti:

Agnus redemit oves; Christus innocens Patri reconciliavit peccatores.

Solo il vero Agnello, sgozzato, è in grado di redimere tutto il gregge; è per l’opera di Cristo innocente che si realizza la riconciliazione dei peccatori col Padre.

Mors et vita duello conflixere mirando: Dux vitae mortuus regnat vivus.

C’è in questo racconto un misterioso rapporto fra vita e morte, che S. Agostino esplicita ammirevolmente: «Rese partecipi della sua vita quelli di cui aveva condiviso la morte. Noi infatti non avevamo di nostro nulla da cui aver la vita, come lui nulla aveva da cui ricevere la morte. Donde lo stupefacente scambio: fece sua la nostra morte e nostra la sua vita»16. Specialmente al santo Vescovo d’Ipona dobbiamo tra l’altro la «basilare sintesi cristologica»17 tra la tradizione asiatica della Pasqua-passione e quella alessandrina della Pasqua-passaggio, ambedue esplicitamente rappresentate nel testo della Sequenza Pasquale: «Victimae paschali», «Agnus redemit oves», «Mors et vita duello» e «Dux vitae mortuus» nel primo caso, e «Christus innocens Patri reconciliavit peccatores», «regnat vivus», «Christi viventis», «gloriam […] resurgentis», «Surrexit Christus» e «Christum surrexisse a mortuis vere» nel secondo.

Sepulcrum Christi viventis, et gloriam vidi resurgentis.

Ecco i due segni classici di credibilità della risurrezione: il sepolcro vuoto e le apparizioni del Cristo risorto.

Credendum est magis soli Mariae veraci, quam iudeorum turbae fallaci.

Il testo della strofa mancante lascia trasparire un certo sdegno proveniente dalla pietà popolare. Riferimento evidente al racconto di Matteo: «Così questa diceria si è divulgata fra i Giudei fino ad oggi» (Mt 28, 11-15), e forse anche a quelle parole di Paolo riferite da Luca: «Ho servito il Signore con tutta umiltà, tra le lacrime e tra le prove che mi hanno procurato le insidie dei Giudei» (At 20, 19).

4.2 La parenesi: Bonum

La parenesi differisce dalla catechesi per l’orientamento, che è quello del comportamento morale, e per il tono, che è quello dell’esortazione: l’appello a portare una buona condotta. I cristiani, chiamati da Dio a divenire suoi figli, devono vivere conformemente a questa vocazione, che comporta determinati precetti. È l’obbedienza a quei precetti quella che determina il buon comportamento morale. Nella Sequenza di Pasqua il precetto, l’appello viene espresso nella prima strofa:

Victimae paschali laudes immolent Christiani.

Più che un semplice invito alla lode di Dio, si tratta di una vera sollecitazione. Implicitamente si propone questa lode come degna retribuzione al Redentore nella ricorrenza della solennità pasquale, come atteggiamento condegno nei confronti di un tanto grande amore di Dio per noi.

4.3 Il kêrygma: Pulchrum

È la predicazione globale della buona notizia della salvezza ad opera di Cristo: l’annuncio di questo evento e l’invito alla conversione e alla fede. Kêrygma significa esplosione, potenza diffusiva, ed è il punto di partenza e di riferimento continuo sia per la catechesi sia per la parenesi. Nella Sequenza di Pasqua ne costituisce l’oggetto materiale; è il contenuto esplicito o il sottofondo implicito di tutte le proposizioni ivi contenute, ma che acquisisce tonalità di gioiosa esultanza quando si fa riferimento espresso alla risurrezione:

Surrexit Christus spes mea.

La nostra speranza si fondamenta sulla risurrezione di Cristo!

Scimus Christum surrexisse a mortuis vere.

La proclamazione dell’evento pasquale da parte della Chiesa rende l’opera della salvezza eternamente presente. Il kêrygma attuale deve risuonare affinché Gesù sia riconosciuto e identificato come Cristo, Signore, Salvatore universale.

4.4 Conclusione eucologica

Tu nobis, Victor Rex, miserere.

Consapevoli della nostra miseria, supplichiamo l’assistenza del nostro Re Vittorioso per crescere sempre più nella fede, nella speranza e nell’amore. Non è grazie al nostro sforzo che riusciamo ad associarci al Mistero Pasquale ma per opera della misericordia di Dio.

5. Conclusione

Nonostante la riforma piana del Messale abbia eliminato dall’uso liturgico quasi tutte le sequenze ad eccezione di cinque, esse occupano indubbiamente, dal punto di vista letterario, un posto ben onorevole nella letteratura medioevale. Si può dire che, artisticamente, esse esercitarono un ruolo di grande importanza per lo sviluppo del canto popolare. In senso liturgico, risulta chiaro che le sequenze furono una delle più calde e genuine espressioni della vitalità religiosa del popolo cristiano. Siamo davanti ad un tipico esempio di utilizzo della liturgia non tanto come fonte testuale autorevole per la riflessione teologica, bensì come autocoscienza della Chiesa in preghiera, la quale costituisce in un certo qual modo, per il popolo fedele che la esegue o ascolta volentieri, una via di accesso alla Rivelazione e, quindi, un vero locus theologicus18. Non meraviglia, dunque, che la riforma di S. Pio V non abbia dubitato di conservare ad uso liturgico una simile testimonianza di fede, speranza e amore. Testimonianza, tra l’altro, corroborata dal consenso nella Chiesa universale nel suo camminare per lunghi secoli. Né si può sottovalutare la testimonianza che questa sequenza suppone alla diversità legittima nell’espressione della fede, cioè, l’inculturazione della fede tramite la pietà popolare. Ma la dimensione che, a mio avviso, dal punto di vista teologico, scaturisce in modo più illuminante dalla riflessione sulla Sequenza Pasquale si riferisce al suo rapporto con il Bello Assoluto. Il Pulchrum è, secondo l’espressione tomista, splendor veritatis, splendor bonitatis. Non c’è niente di eccezionalmente vero che, per quella stessa ragione, non partecipi in modo eminente dalla Bellezza Assoluta, né niente di esemplarmente buono che non sia parimenti bello. Così, ci si presenta ragionevole il paragone: è da uno splendente Verum catechetico e da un emblematico Bonum parenetico che scaturisce – non come cause bensì come condizioni di possibilità – il Pulchrum di un kêrygma autenticamente efficace perché affascinante. Se evangelizzare è la grazia e la vocazione propria della Chiesa e la sua identità più profonda, se essa esiste per evangelizzare19, la Sequenza di Pasqua può in questo senso essere intesa come una testimonianza per lunghi secoli dell’efficacia evangelizzatrice del Pulchrum kêrygmatico nella missione della Chiesa.

CABALLERO, Eduardo. La Tradizione come fonte della teologia sistematica: Elaborato sulla Sequenza Victimae Paschali laudes – Testimonianza secolare dell’efficacia evangelizzatrice del Pulchrum. Roma, (Gregoriana) 26 Maggio 2008.

1 Sala regia da pranzo, una delle più famose del grandioso antico Palazzo Apostolico Lateranense, residenza abituale dei Papi per un periodo di oltre mille anni che finì con l’esilio avignonese.

2 Moneta d’oro dell’Impero bizantino.

3 A.I. SCHUSTER, Liber sacramentorum. Note storiche e liturgiche sul Messale Romano, II, Torino 1922, 166.

4 M. RIGHETTI, Storia liturgica. III. La Messa, Milano 1966, 292.

5 Neumatici, cioè propri del canto gregoriano, e non pneumatici, propri dello spirito.

6 San Gallo: grande e importante abbazia in Svizzera, vicino a Costanza, fondata in 613 ca., per il suo influsso nel canto gregoriano durante tutto i Medioevo.

7 A.I. SCHUSTER, Liber sacramentorum. Commento ascetico, storico, liturgico al MessaleRomano. Edizione rifusa e aggiornata da Mons. Cesario d’Amato O.S.B., I, Torino 1963, 382.

8 M. RIGHETTI, Storia liturgica. III. La Messa, Milano 1966, 292.

9 Corrado II “il Salico” (ca. 990-1039), re della Germania (1024-1039) e Imperatore del Sacro Impero Romano Germanico (1027-1039).

10 Enrico III “il Nero” (1017-1056), figlio di Corrado II “il Salico”. Fu re della Germania (1028-1056) e succedette suo padre come Imperatore del Sacro Impero Romano Germanico (1039-1056). Suo figlio Enrico IV è quello del famoso episodio a Canossa nel 1077 con S. Gregorio VII.

11 M. RIGHETTI, Storia liturgica. II. L’Anno liturgico, Milano 1969, 284.

12 A.I. SCHUSTER, Liber sacramentorum. Note storiche e liturgiche sul Messale Romano, IV, Torino 1922, 75-76.

13 I. ORTIZ DE URBINA, «La pasqua nel pensiero teologico primitivo», in Orientalia Christiana Periodica 36 (1970) 452.

14 J. DUPUIS, “Evangelizzazione e missione”, in LATOURELLE, R. – FISICHELLA, R., Dizionario di Teologia Fondamentale, Assisi 1990, 406-407.

15 R. LATOURELLE, “Kêrygma / Catechesi / Parenesi”, in LATOURELLE, R. – FISICHELLA, R., Dizionario di Teologia Fondamentale, Assisi 1990, 627.

16 AGOSTINO, Disc. Guelf. 3, PLS 2, 545-546.

17 M. MARITANO, «La Pasqua nei primi secoli cristiani», in Rivista Liturgica 88 (2001) 99.

18 Una spiegazione più approfondita si può trovare in: Y. CONGAR, La tradizione e le tradizioni. II. Saggio teologico, Roma 1965, 215-235.353-366.

19 PAOLO VI, Evangelii Nuntiandi 14.

Pulchrum e mundo hodierno

bruxelasDartagnan Alves de Oliveria Souza, EP

Vemos que o homem pode iniciar sua ascensão tendo como ponto de partida suas próprias obras (Belas Artes)[1], ou a partir da contemplação das criaturas sentir-se atraído a Deus.[2] Isso ocorre pelo fato de ele possuir uma sede de absoluto infundida pelo próprio Absoluto.[3] Essa sede verdadeiramente existe e o convida, por vias naturais, a conhecer o Criador.

No mundo hodierno pode parecer que essa sede tenha desaparecido em todos os homens, mas isso não é real, ela se conserva nos que mantiveram em sua alma a inocência. Certo está de que em alguns ela praticamente não se manifesta, ou melhor, eles não mais sentem suas manifestações, mas isso se dá pelo fato de os homens terem deixado esmaecer em si o reflexo de Deus.[4] Por mais que vivamos cercados de edifícios de concreto que toldam nossas vistas em relação à sublimidade existente na natureza e nos prendam a uma visão materialista e mecanicista das coisas, podemos ainda ter um gáudio de alma contemplando, por exemplo, um pôr-do-sol que atrai nossa atenção e faz com que nos perguntemos a respeito de sua causa e de seu significado.

Vemos, assim, que essa sede de conhecimento, mesmo nos dias atuais, apesar de estar muitas vezes amortecida, não desapareceu, mas, constantemente, leva o homem a transcender as aparências materiais das criaturas para chegar à Causa.[5] Diz o Livro da Sabedoria: “… a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor”,[6] “pois foi a própria fonte da beleza que as criou”.[7]

OLIVEIRA SOUZA, Dartagnan.  Pulchrum: Caminho para o Absoluto? in: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 8, jul-set 2009. p. 100-101.

[1] JOLIVET, Tratado de Filosofia III: Metafísica, Op. Cit., p. 264.

[2] S. Th. I, q. 39. a. 8.

[3] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. La fidelidad a la Primera Mirada: Un periplo desde la aprehensión del ser hasta la contemplación de lo Absoluto. São Paulo, 2008. p. 137. Trabalho de pós-graduação (Humanidades). PUCMM. Facultad de Ciencias y Humanidades.

[4] Ibid., p. 5.

[5] Ibid., p. 135.

[6] Sb 13,5.

[7] Sb 13,3.

A Via Pulchritudinis

                                       Mons. João Clá Diasbento-xvi-missa

Como meio de evangelização, a beleza na liturgia tem sido ao longo dos séculos a causa de incontáveis conversões. Não são raros os homens de letras que deixaram consignada em alguma de suas obras a influência exercida pelo pulchrum litúrgico no processo de seu retorno à Igreja. Um desses é Joris Karl Huysmans, autor das célebres obras “En route” e “La Cathédrale”.

Eles mencionam a atração irresistível que exerce a vista dos celebrantes vestindo belos paramentos, movendo-se por entre a névoa do incenso e o tilintar das campainhas, do resplandecer dos vitrais colorindo as paredes e o chão, dos acordes do órgão fazendo solo ou acompanhando o canto gregoriano e o polifônico, enchendo de sonoras harmonias os espaços entre os arcos góticos das catedrais.

Na Liturgia, o pulchrum não é um elemento secundário, com o qual se deve ou não contar, segundo circunstâncias e conveniências, mas ele tem um papel essencial. É o que Bento XVI afirma de modo claro, e por suas palavras vemos como é preciso proporcionar à beleza um lugar de honra nas celebrações:

A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. A beleza da Liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra. O memorial do sacrifício redentor traz em si mesmo os traços daquela beleza de Jesus testemunhada por Pedro, Tiago e João, quando o Mestre, a caminho de Jerusalém, quis transfigurar-Se diante deles (Mc 9, 2). Concluindo, a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à ação litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza.[1]

Por fim, cumpre lembrar a Assembléia Plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, realizada nos dias 27 e 28 de março de 2006. Nela, colocou-se em evidência precisamente o papel da beleza na evangelização. Como acentuou o Cardeal Paul Poupard, presidente desse dicastério, “mais que o estudo dos aspectos filosóficos, bíblicos e teológicos da temática”, aquela Assembléia teria “uma finalidade eminentemente pastoral”, propondo-se a “oferecer aos bispos e às comunidades cristãs estratégias, projetos e propostas concretas para fazer que a via pulchritudinis seja percebida e vivida como uma via privilegiada e eficaz de evangelização, de transmissão da fé cristã e de diálogo com todos os homens e mulheres de boa vontade, mesmo que não-crentes”.

CLÁ DIAS, João. Oportunidades para a Igreja no século XXI. Elaboração do projeto de pesquisa: elementos constitutivos – 1ª. Parte. Centro Universitário Ítalo Brasileiro. São Paulo, 2007. p. 85-86.


[1] Exortação Apostólica pós-Sinodal “Sacramentum Caritatis”, n. 35.

A importância do Pulchrum na Evangelização

600x800-marMons. João Scognamiglio Clá Dias

No primeiro capítulo do Gênesis, contemplamos a Deus criando as maravilhas do universo ao longo de seis dias, e a cada entardecer, antes da noite, exclama o narrador: “E viu Deus que isso era bom” (Gn 1, 25). Ao concluir todas as maravilhas, “viu Deus tudo o que tinha feito, e tudo era muito bom” (Gn 1, 31). E o Livro dos Salmos canta: “Como são magníficas tuas obras, Senhor!” (Sl 91, 6). “Fizeste-as todas com sabedoria!” (Sl 103, 24).

Esta formosura de todo o universo criado é particularmente atraente para o homem. A beleza — o pulchrum, segundo a expressão latina, definido pela filosofia escolástica como o “esplendor da verdade” ou o “esplendor do bem” — atrai o homem. “Em virtude do próprio fato da criação, todas as coisas possuem consistência, verdade, bondade e leis próprias”.[1] O homem é chamado a degustar, apreciar e admirar essa maravilha que a ordem da criação lhe apresenta.

Nossa época, mais do que qualquer outra, tem necessidade desse conhecimento e dessa sabedoria:

Finalmente, a natureza espiritual da pessoa humana encontra e deve encontrar a sua perfeição na sabedoria, que suavemente atrai o espírito do homem à busca e ao amor da verdade e do bem, e graças à qual ele é levado por meio das coisas visíveis até as invisíveis […] Está ameaçado, com efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria […] Pelo dom do Espírito Santo, o homem chega a contemplar e saborear, na fé, o mistério do plano divino.[2]

A contemplação amorosa de Deus e das criaturas desabrocha no desejo de comunicá-la aos outros, de evangelizar, como ressaltava o Concilio:

O amor para com Deus e para com os homens é a alma de todo apostolado.[3]

Assim, a consideração do universo sobrenatural e natural serve como instrumento para que as pessoas saiam de seu egoísmo, dominem suas paixões desordenadas e contemplem os sinais de Deus em tudo quanto existe — incluindo as belas obras feitas pelos homens — e assim cheguem até Ele, O conheçam e amem tanto quanto é possível nesta terra.

Em vista disso, é preciso utilizar na evangelização os meios adequados.

A literatura e as artes são também, segundo a maneira que lhes é própria, de grande importância para a vida da Igreja […] Conseguem assim elevar a vida humana, que exprimem sob formas muito diferentes, segundo os tempos e lugares […] Desse modo, o conhecimento de Deus é mais perfeitamente manifestado; a pregação evangélica torna-se mais compreensível ao espírito dos homens e aparece como integrada nas suas condições normais de vida.[4]

Ao nosso alcance estão instrumentos de valores diversos, mas todos muito úteis, como as cerimônias litúrgicas, procissões, peças de teatro, cinema, concertos, e o próprio sermão… Este, sobretudo, deve ser pulcro, atraente, tendente a dar glória a Deus da melhor forma possível.

Também os estudos têm de ser feitos em função do pulchrum, e não apenas para adquirir conhecimentos. E o próprio conhecimento deve ser amoroso, esforçando-se por ver em cada aspecto o intuito de Deus, de modo a “contemplar e saborear o mistério do plano divino”.[5]

 

CLÁ DIAS, João. Oportunidades para a Igreja no século XXI. Elaboração do projeto de pesquisa: elementos constitutivos – 1ª. Parte. Centro Universitário Ítalo Brasileiro. São Paulo, 2007. p. 89-90.



[1] Gaudium et Spes, 36.

[2] Gaudium et Spes, 15.

[3] Lumen Gentium, 33.

[4] Gaudium et Spes, 62.

[5] Gaudium et Spes, 15.