Pe. Ignácio Montojo, EP
Um dos maiores argumentos que apresentam os detratores dos sacramentais é alegar o desconhecimento de sua origem. Entretanto, diz Gaume (1873: 20) que “se se fala da origem histórica, os sacramentais remontam aos tempos apostólicos, e mesmo além”. Efetivamente, encontram-se diversos documentos que testemunham a existência de muitos deles – como são a oração do Pai Nosso e diversas bênçãos – já nos primeiros tempos do Cristianismo. O próprio Papa Pio IX (1866: 1 apud GAUME, 1873: XIII), em carta ao autor da citação acima, falava com sua Autoridade Apostólica da “veneranda antiguidade” de alguns deles.
O conceituado canonista Luigi Chiappetta (1994: 1086, tradução nossa) não duvida em afirmar que “os sacramentais remontam aos primeiros tempos da Igreja; os mais antigos (o sinal da Cruz e a água benta) aos apóstolos. Os exorcismos foram instituídos pelos próprio Cristo” , o que de fato nos é atestado pela Sagrada Escritura .
Mais ainda, como assinala Abad (2000: 494, tradução nossa) já “no Antigo Testamento, as bênçãos ocupavam um lugar muito destacado na vida e no culto de Israel e eram expressão dum vínculo espiritual do homem com Deus” .
Também é preciso assinalar que já anteriormente ao Nosso Senhor e fora da religião judaica:
“As religiões não cristãs chamavam misterio ou sacramento […] a tudo aquilo que unia o relacionava os mortais com a divindade […]. Este conceito o acolheu o cristianismo e, num princípio, deu-lhe um significado vastíssimo: sacramento era tudo quanto entrava, dum modo ou outro no plano divino da salvação e tinha um sentido oculto e uma virtude transcendente”. (MARTÍN, 2002: 1166, tradução nossa) .
Tal foi o que aconteceu, por exemplo, com a água benta que segundo lembra Martimort (1992: 223) “é um água lustral, como a que usavam as religiões pagãs, destinada a ser derramada sobre os locais, mas santificada por uma oração da Igreja com o fim de exorcizar e purificar […]. Com a água se misturava sal, quiçá para imitar o gesto de Eliseu” ; entroncando deste modo sua origem com o Antigo Testamento no qual já existiam certos ritos, à maneira dos sacramentais.

Ignacio Montojo Magro, EP
Entretanto, deve-se sempre levar em consideração que a oração da Igreja, Esposa Mística de Nosso Senhor Jesus Cristo, não pode deixar de ser plenamente aceita pela Divindade e, por tanto, se bem que o sacramental não é totalmente infalível como o sacramento (desde que devidamente recebido) senão que segue, as regras habituais da oração, e ainda que opera mais por via de misericórdia que de justiça, não deixa de ser evidente que sua eficácia supera de longe a duma obra boa feita sem ser sacramental, tanto quanto pode ter de aceito e sumamente agradável à Divina Majestade a oração da Esposa amantíssima, indefectivelmente santa, castíssima e fidelíssima de Jesus Cristo. Isto mais se aplicará, se couber, quanto a principal finalidade é contribuir à santificação dos fieis.