A Cátedra de São Pedro

catedra

Nenhum transeunte parecia dar qualquer atenção àquele judeu de aspecto grave que subia com passo firme uma rua do Monte Aventino, em Roma, no ano 54 da Era Cristã. Entretanto, poucos séculos depois, de todas as partes do mundo acorreriam a essa cidade imperadores, reis, príncipes, potentados e, sobretudo, multidões incontáveis de fiéis para oscular os pés de uma imagem de bronze desse varão até então desconhecido e quase desprezado pela Roma pagã. Pois fora a ele que o próprio Deus dissera: “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19).

Sim, era o Apóstolo Pedro que retornava à Capital do Império para ali estabelecer o governo supremo da Santa Igreja.

Provavelmente o acompanhavam alguns cristãos, entre os quais Áquila e sua esposa Prisca, batizados por ele poucos anos antes. Na Epístola aos Romanos, São Paulo faz a este casal a seguinte referência altamente elogiosa: “Saudai Prisca e Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus; pela minha vida eles expuseram as suas cabeças. E isso lhes agradeço, não só eu, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a comunidade que se reúne em sua casa” (Rom 16,3-5).

Irrigada pelo sangue dos primeiros mártires, a evangelização deitava fundas raízes nas almas e se difundia rapidamente por todo o orbe.

Mas não existiam ainda edifícios sagrados para a celebração do culto divino, de modo que esta se fazia em residências particulares.

Assim, Áquila e Prisca tiveram o privilégio incomparável de acolher em seu lar a comunidade cristã. Ali São Pedro pregava, instruía, celebrava a Eucaristia. Dessa modesta casa governava ele a Igreja, por toda parte florescente, apesar dos obstáculos levantados pelos inimigos da Luz.

Tomada de enlevo e veneração pelo Príncipe dos Apóstolos, Prisca reservou para uso exclusivo dele a melhor cadeira da casa. Nela sentava-se o Santo para presidir as reuniões da comunidade.

Após a morte do Apóstolo, essa cadeira tornou-se objeto de especial veneração dos cristãos, como preciosa evocação do seu ensinamento. Passaram logo a denominá-la de “cátedra”, termo grego que designa a cadeira alta dos professores, símbolo do magistério.

Era primitivamente uma peça bem simples, de carvalho. No correr do tempo, algumas partes deterioradas foram restauradas ou reforçadas com madeira de acácia. Por fim, foi ornada com alto-relevos de marfim, representando diferentes temas profanos.

Há testemunhos e documentos suficientes para acompanhar sua história desde fins do século II até nossos dias.
Tertuliano e São Cipriano atestam que em seu tempo (fim do séc. II e início do séc. III) essa cátedra era conservada em Roma como símbolo da Primazia dos Bispos da urbe imperial.

Por volta do século IV, colocada no batistério da Basílica de São Pedro, era exposta à veneração dos fiéis nos dias 18 de janeiro e 22 de fevereiro.

Durante toda a Idade Média ela foi conservada na Basílica do Vaticano, sendo usada para a entronização do Soberano Pontífice.

Em 1657 o Papa Alexandre VII encomendou ao escultor e arquiteto Bernini um monumento para exaltar tão preciosa relíquia. Empenhando todo o seu gênio, construiu ele o magnífico Altar da Cátedra de São Pedro, considerado por muitos sua obra-prima.

Nesse altar cheio de simbolismo, o mármore da Aquitânia e o jaspe da Sicília, sobre os quais se apóia o monumento, representam a solidez e a nobreza dos fundamentos da Igreja. As quatro gigantescas estátuas que sustentam a cátedra – representando Santo Ambrósio, Santo Agostinho, Santo Atanásio e São João Crisóstomo, Padres da Igreja Latina e da Grega – recordam a universalidade da Igreja e a coerência entre o ensinamento dos teólogos e a doutrina dos Apóstolos.

No centro do altar foi colocada em 1666 a cátedra de bronze dourado dentro da qual se encerra, como num relicário, a bimilenar cadeira de São Pedro.

Nos documentos eclesiásticos, a expressão Cátedra de Pedro tem o mesmo significado de Trono de São Pedro, Sólio Pontifício, Sede Apostólica.

Num sentido figurativo, equiparase ela a Papado e até mesmo a Igreja Católica.

Afirmaram os Padres do IV Concílio de Constantinopla (ano 859): “A Religião católica sempre se conservou inviolável na Sé Apostólica (…) Nós esperamos conseguir manter-nos unidos a esta Sé Apostólica sobre a qual repousa a verdadeira e perfeita solidez da Religião cristã”.

Nessa mesma época o Papa São Nicolau I pôde com inteira razão sustentar que “nos concílios não se reconheceu como válido e com força de lei senão aquilo que foi ratificado pela Sede de São Pedro, não tendo sido tomado em consideração aquilo que ela recusou”.

Em uma de suas cartas, São Bernardo usa a expressão “Santa Sé Apostólica” para se referir à pessoa do Papa e afirma que a infalibilidade é privilégio “da Sé Apostólica”.

Após a solene definição do dogma da Infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, todos os católicos, eclesiásticos ou leigos, são unânimes em proclamar que o Papa é e sempre será isento de erro em matéria de fé e de moral, de acordo com as palavras de Jesus ao Príncipe dos Apóstolos: “Eu roguei por ti a fim de que não desfaleças; e tu, por tua vez, confirma teus irmãos” (Lc 22,32).

A Cátedra de Pedro é, o mais eloqüente símbolo dessa Infalibilidade, do Papado, da pessoa do Papa e da própria Santa Igreja de Cristo. Mais ainda, pois na Exortação Apostólica Pastores Gregis, Sua Santidade João Paulo II afirma que nela se encontra “o princípio perpétuo e visível, bem como o fundamento da unidade da fé e da comunhão”.

Por este motivo, para ela se volta nossa entusiástica admiração de modo especial no dia de sua Festa litúrgica, 22 de fevereiro.

(Victor Hugo Toniolo in:Revista Arautos do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 32 e 33)

A inveja

Diác. Inácio Almeida, EP
Etimologicamente, a palavra “inveja” vem do verbo latino videre que indica a ação de ver, e da partícula in. Desta forma, invidere significa olhar com maus olhos, projetar sobre o outro um olhar malicioso.
Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1986) inveja é: 1- desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem; 2- Desejo violento de possuir o bem alheio. O Dicionário Houaiss (2003), define inveja como: “sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto, e que é provocado pela felicidade ou a prosperidade de outrem. É o desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusivo, o que é possuído ou gozado por outrem”.
Para Tanquerey (1955, p. 531), a inveja é ao mesmo tempo: “paixão e vício capital. Como paixão é uma espécie de tristeza profunda que se experimenta na sensibilidade à vista do bem que se observa nos outros; esta impressão é acompanhada duma constrição do coração que lhe diminui a atividade e produz um sentimento de angústia…”
Segundo a Enciclopédia Europeo-Americana (1930, p. 203) a inveja, no seu conceito filosófico, “É uma paixão que é ao mesmo tempo, filha do orgulho e da malquerença. É um profundo pesar do bem que o outro goza e que se volta contra as pessoas a quem quer mal porque possuem o que ele por inveja quisera para si”.
As definições sobre a inveja que oferecem os diversos filósofos no decorrer da História concordam notavelmente entre si. Na tradição aristotélica, ela é uma dor causada pela boa fortuna que goza alguns de nossos semelhantes. Para São Tomás de Aquino (Suma Teológica II-II, q. 36, a. 1.) a inveja é: “A tristeza do bem alheio enquanto se considera como mal próprio, porque diminui a própria glória ou excelência”.

Ciência e ideologia

Pe. François Bandet, EP
A autêntica ciência não tem a necessidade de formar uma ideologia em torno de controvérsias com outras disciplinas. Assim sendo, o conflito da ciência não é com a Fé, mas com as interpretações filosóficas da Fé. A ciência e a Fé não estão em contradição. Afirmar que são inimigas uma da outra é uma das grandes distorções culturais dos tempos modernos. A vulgarização da ciência é o problema e é, geralmente, fruto de uma questão ideológica.
Essas distorções devem-se ao fato de os pseudo-cientistas caírem em certos esquemas, promovidos muitas vezes por interesses econômicos ou políticos. A descrença não é fruto das novas descobertas e do progresso, mas de ideologias.
“Nós devemos defender a liberdade religiosa contra a caracterização de uma ideologia que se apresenta como se fosse a única expressão da razão […]”(J. RATZINGER, La Repubblica, 19 November 2004, Interview of Cardinal Ratzinger with Marco Politi).
Na verdade, hoje, para entender o homem, a humanidade volta-se para a ciência, embora esta não pareça dizer nada acerca do homem: suas preocupações, suas alegrias, seus medos etc.
A Fé e a sua experiência transcendental poderá ajudar a ciência a ultrapassar essa dimensão utilitarista do conhecimento e se abrir à verdade que é, ao mesmo tempo, esperança e fidelidade.