A eficácia das obras com Fé

Pe. José Victorino de Andrade, EP

Na segunda metade do séc. IV, Juliano pretendeu que o Império Romano promovesse algumas ações caritativas em detrimento das eficientes e inovadoras práticas sociais cristãs. Não pretendia somar esforços, mas dividir ou mesmo totalizar, por isso, não tardou em perseguir os seguidores de Jesus. Entretanto, seria Juliano a sair desta vida precocemente, à semelhança de suas obras, morrendo numa desastrosa campanha contra os persas. E as obras sociais por ele estimuladas, imitações das ações caritativas impulsionadas pelo amor, revelaram a fragilidade e inconstância das ações puramente humanas.

Também hoje, a solidariedade que não tem seus fundamentos em Deus e no amor ao próximo, corre sempre o risco de ser instrumentalizada e reduzida a uma prestação de serviços. Para não ser manipulada por interesses que se desviam do bem comum e da dignidade humana, é sempre necessária uma referência que transcenda o homem e o seu egoísmo. Ora, o mandamento novo dado por Jesus (Jo 13, 34) leva os cristãos a um dinamismo próprio, pois continuamente estão chamados a conciliar, coerentemente, a Fé e as obras (Tg 2, 14).

A caridade praticada por uma coletividade tem sempre tendência a ser mais eficaz do que a dos indivíduos, mas esta corre sempre o risco de ser sufocada pelas exigências e desafios contemporâneos se não contar com uma colaboração ativa e efetiva de todas as instituições empenhadas na construção de um mundo mais justo e pacífico. Neste sentido, a Igreja tem um forte aporte a dar ao Estado: transforma a Fé num “serviço ao bem comum” fazendo com que a sociedade caminhe para um “futuro de esperança” (Lumen Fidei, n. 51). Sabe, ademais, que o que é de Deus permanece…

À ordem temporal, a Igreja lembra em seu Compêndio de Doutrina Social a responsabilidade de “tornar acessíveis às pessoas os bens necessários materiais, culturais, morais, espirituais”, tendo presente que o “fim da vida social é o bem comum historicamente realizável” (n. 168). E continua o documento: “O bem comum da sociedade não é um fim isolado em si mesmo; ele tem valor somente em referência à obtenção dos fins últimos da pessoa e ao bem comum universal de toda a criação. Deus é o fim último de suas criaturas e por motivo algum se pode privar o bem comum da sua dimensão transcendente” (n. 170).

Chamados por Deus a anunciar o Evangelho – Homilia do Papa Francisco na Catedral do Rio de Janeiro

Amados Irmãos em Cristo,

Vendo esta catedral lotada com Bispos,  sacerdotes, seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso  nas palavras do Salmo da Missa de hoje: «Que as nações vos glorifiquem, ó  Senhor» (Sl 66). Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o  fazemos reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não  somente algumas nações mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma parresia –  coragem, ousadia – de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens  para que encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores de um  mundo mais fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três  aspectos da nossa vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o  Evangelho; chamados a promover a cultura do encontro.

1. Chamados por Deus. É importante reavivar  em nós esta realidade que, frequentemente, damos por descontada em meio a tantas  atividades do dia-a-dia: «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos  escolhi», diz-nos Jesus (Jo 15,16). Significa retornar à fonte da nossa chamada.  No início de nosso caminho vocacional, há uma eleição divina. Fomos chamados por  Deus, e chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um  modo tão profundo que nos permite dizer com São Paulo: «Eu vivo, mas não eu, é  Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Este viver em Cristo configura realmente  tudo aquilo que somos e fazemos. E esta “vida em Cristo” é justamente o que  garante a nossa eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: «Eu vos  designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça» (Jo  15,16). Não é a criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que  garantem os frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência:  «Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4). E nós sabemos bem o  que isso significa: Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através  da nossa fidelidade à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente  na Eucaristia e nas pessoas mais necessitadas. O “permanecer” com Cristo não é  se isolar, mas é um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça  umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: «Devemos estar muito  orgulhosas da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos  pobres. É nas favelas, nos «cantegriles» nas Villas miseria, que nós devemos ir  procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima do  altar, cheio de alegria» (Mother Instructions, I, p.80). Jesus, Bom Pastor, é o  nosso verdadeiro tesouro; procuremos fixar sempre mais n’Ele o nosso coração  (cf. Lc 12, 34).

2. Chamados para anunciar o Evangelho.  Queridos bispos e sacerdotes, muitos de vocês, senão todos, vieram acompanhar  seus jovens à Jornada Mundial. Eles também ouviram as palavras do mandato de  Jesus: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações» (cf. Mt 28,19). É nosso  compromisso ajudá-los a fazer arder, no seu coração, o desejo de serem  discípulos missionários de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite,  poderiam sentir-se um pouco atemorizados, imaginando que ser missionário  significa deixar necessariamente o País, a família e os amigos. Recordo o meu  sonho da juventude: partir missionário para o longínquo Japão. Mas Deus me  mostrou que o meu território de missão estava muito mais perto: na minha pátria.  Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo missionário é uma consequência  de ser batizado, é parte essencial do ser cristão, e que o primeiro lugar onde  evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de trabalho, a família e  os amigos.

Não poupemos forças na formação da  juventude! São Paulo usa uma bela expressão, que se tornou realidade na sua  vida, dirigindo-se aos seus cristãos: «Meus filhos, por vós sinto de novo as  dores do parto até Cristo ser formado em vós» (Gal 4, 19). Também nós façamos  que isso se torne realidade no nosso ministério! Ajudemos os nossos jovens a  descobrir a coragem e a alegria da fé, a alegria de ser pessoalmente amados por  Deus, que deu o seu Filho Jesus para nossa salvação. Eduquemo-los para a missão,  para sair, para partir. Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve  colados a si, como uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos  ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente  esperando o Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher,  mas de sair pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a  pastoral a partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que  habitualmente não freqüentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa  do Senhor.

3. Chamados a promover a cultura do  encontro. Em muitos ambientes, infelizmente, ganhou espaço a cultura da  exclusão, a “cultura do descartável”. Não há lugar para o idoso, nem para o  filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da  estrada. Às vezes parece que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por  dois “dogmas” modernos: eficiência e pragmatismo. Queridos Bispos, sacerdotes,  religiosos e também vocês, seminaristas, que se preparam para o ministério,  tenham a coragem de ir contra a corrente. Não renunciemos a este dom de Deus: a  única família dos seus filhos. O encontro e o acolhimento de todos, a  solidariedade e a fraternidade são os elementos que tornam a nossa civilização  verdadeiramente humana.

Temos de ser servidores da comunhão e da  cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase obsessivos neste  aspecto! Não queremos ser presunçosos, impondo as “nossas verdades”. O que nos  guia é a certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e  transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de anunciá-la (cf. Lc  24, 13-35).

Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por  Deus, chamados para anunciar o Evangelho e promover corajosamente a cultura do  encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida, Ela deu «exemplo  daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na  missão apostólica que a Igreja, tem de regenerar os homens» (Conc. Ecum. Vat.  II, Cost. dogm. Lumen gentium, 65). Seja Ela a Estrela que guia com segurança  nossos passos ao encontro do Senhor. Amém.

In: http://www.gaudiumpress.org/content/49131-Leia-aqui-a-integra-da-homilia-do-Papa-na-Catedral-neste-sabado#ixzz2aNDa7AJf

Habemus Papam: Francisco

Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 13-03-2013, Gaudium Press)

Os olhos da multidão tinham presenciado, às 19:06 horas de Roma, o anuncio da escolha do novo Pontífice: ainda há pouco a chaminé da Capela Sistina tinha colocado no ar tufos de fumaça branca que formavam densos e caprichosos desenhos e os sinos de Roma já tinham iniciado sua sinfonia de repiques variados.

Do balcão central da Basílica de São Pedro, pouco tempo depois, o Cardeal Proto Diácono Jean-Louis Tauran, cumprindo as atribuições próprias ao primeiro Cardeal da ordem dos diáconos, anunciou aos fiéis e ao mundo a eleição do novo Pontífice com a célebre fórmula: “Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam!” (Anuncio-vos uma grande alegria: temos Papa) E o Cardeal Proto Diácono continuou a proclamação da tradicional e protocolar fórmula pronunciada em latim: “O Eminentíssimo e reverendíssimo Dom Jorge Mário, Cardeal Bergolio, que terá o nome de Francisco.

A multidão que lotava a Praça de São Pedro passou de atenta a eufórica e aplaudiu longamente. Os aplausos não foram menores e nem menos entusiasmados quando, pela primeira vez, apareceu em público o novo sucessor de Pedro. O Cardeal Bergolio, agora Papa Francisco I com um gesto, fez com que o silêncio voltasse à praça. Os milhares de peregrinos ouviram compenetrados e atentos, piedosos e plenos de alegria, a voz do novo Pontífice pronunciando as palavras de sua primeira bênção para a “Cidade e para o Mundo”.

Ao final da Benção “Urbi et Orbi”, o silencio voltou a ser quebrado: a multidão aplaudia, cantava, bradava, comentava, opinava: Temos Papa! Viva o Papa! Viva Francisco, bradava a maioria. Outros definiam sua satisfação: Que alegria, como é bom ter um pastor. Outros até pareciam rezar: Que satisfação é poder dizer: Minha alma é vossa, meu coração é Vosso! Concomitantemente, os meios de comunicação levaram a notícia para todos os países e nações. O mundo estava ansioso para saber quem seria o sucessor de Pedro, aquele a quem se aplicam as promessas de Nosso Senhor: “Tu és Pedro, e sob esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela”.

Sinceramente -e não é só por mimetismo- na alma nasce o desejo de dizer também com os fiéis católicos da Terra inteira: Temos Papa! Que alegria é ter pastor! Que satisfação poder dizer: Minha alma é vossa, meu coração é Vosso! Viva o Papa! Viva Francisco I!

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