Uma longa e persistente indagação

Mons. João Scognamigliopescador Clá Dias, EP

Perguntar por que alguma coisa é, ou existe, é uma questão instigante para o pensamento humano desde o tempo em que os gregos, caminhando pelas sendas nevadas das montanhas da Hélade, sentados diante de colunas dóricas tendo ao fundo um belo bosque, ou navegando em frágeis barquinhos por entre as ilhas do Egeu sob o luminoso sol de outono, ruminavam sobre a essência das coisas.

Por sua própria natureza, o homem é um animal metafísico.[1] Nos últimos 25 ou 26 séculos, uma longa plêiade de pensadores tentou penetrar o mais recôndito fundamento do ser.

Platão, Aristóteles e São Tomás foram aqueles que mais perto chegaram da pura experiência filosófica, conforme mostra Gilson ao longo de sua famosa obra sobre a “unidade da experiência filosófica”. Eles entenderam que só em torno da metafísica do ser se pode fazer filosofia.

Se os pensadores se desviam desses trilhos, e tentam descrever o todo da humanidade por outras vias, o ceticismo cresce, a dúvida triunfa, o subjetivismo se estabelece. Negligenciando-se o ser, perde-se o princípio unificador da filosofia. É a situação na qual nos encontramos hoje.

Por isso, do lado da cultura moderna, o primeiro olhar não encontra ambiente favorável. A ele se vê negada qualquer objetividade e capacidade de captar a realidade das coisas.

O processo que nos trouxe até essa situação tem profundas raízes históricas e ideológicas. Sua gênese remonta às teses de Guilherme de Ockham, no século XIV, e mais ainda à doutrina do cogito, de Descartes. O turvo rio do pensamento ocidental, brotado dessas fontes, redundou em um oceano de incertezas e subjetividade, todo hostil ao ser e, consequentemente, contra o primeiro olhar.

O passo radical e decisivo para o obscurecimento do ser foi dado por Kant, com sua revolução copernicana do pensamento. Ele mesmo qualificou assim sua gnoseologia, no prefácio para a segunda edição da Crítica da razão pura. Semelhantemente ao sucedido na astronomia com a teoria de Nicolau Copérnico, a mente humana (o sol) não mais gravita em torno do objeto (a terra), mas, ao contrário, são “os objetos” que “devem se regular segundo nosso conhecimento … no que diz respeito à intuição dos objetos”, afirma Kant. Era preciso revirar os conceitos adquiridos pela filosofia perene.

Como observa Abelardo Lobato, “o homem toma o lugar que antes era ocupado pelo ser e havia sido reservado na história para Deus ou a physis”.[2] Com o homem colocado assim no centro do processo cognoscitivo, a experiência subjetiva toma o poder e praticamente empurra de lado o conhecimento metafísico, fazendo cessar o longo primado da ontologia. A metafísica, a moral e a religião são transformadas por Kant em meras servidoras da antropologia. É destronado o ser, e até Deus, e em seu lugar é elevado o “eu pensante”.

A partir de então, a percepção do mundo palpável que nos rodeia vai depender não mais da realidade, mas do desejo humano.[3] Daí poder-se falar apropriadamente do esquecimento do ser como um dos maiores desastres da história do pensamento ocidental — para usar expressão de Heidegger, embora aplicando-a a uma quadra histórica diferente e rejeitando o sentido obscuro e hostil à metafísica que ele lhe dava.

Às filosofias alheias à realidade do mundo cabe bem a crítica do italiano vivaz e observador: “La filosofia è quella cosa con la quale e senza la quale il mondo va tale e quale”.

Fato é que, apesar de todos os equívocos e erros falaciosos ao longo da história, os homens nunca abandonaram a indagação sobre o âmago do ser. De fato, conforme observou Gilson, em todas as doutrinas metafísicas, verifica-se esta nota constante: “Por mais divergentes que possam ser, elas concordam na necessidade de descobrir a primeira causa de tudo o que é” .[4]

Aquele que foi descrito como o mais sábio dos santos, e o mais santo dos sábios — São Tomás de Aquino —, foi quem levou mais longe e mais alto essa inquirição metafísica, partindo do menor e mais humilde ser material, concreto, até deparar com o próprio Ser.

A partir das coisas — que são imediatamente dadas à intuição sensitiva —, passa-se, por meio da atuação da inteligência, ao conhecimento do ser ou sua essência imaterial, para em seguida alcançar, a partir desse ser material, a essência e existência dos seres espirituais, da alma humana, em primeiro lugar, e finalmente a Existência em si, o Esse per se subsistens, fundamento último — Causa primeira eficiente e Causa final suprema — de todo ser.[5]

A filosofia de São Tomás está toda fundada e articulada sobre o ser. Todo o pensamento “razoável” do Ocidente, a partir do fim do século XIII, é devedor à grande obra realizada por quem merecidamente recebeu o título de Doutor Comum — da filosofia e da teologia também. Obra comparável, em grandeza, ousadia, harmonia e pulcritude, à arquitetura gótica que lhe foi contemporânea.

In: Lumen Veritatis, nº12, jun./set. 2010.


[1] GILSON, Étienne. The Unity of Philosophical Experience. New York: Charles Scribner’s Sons, 1937. p. 307.

[2] LOBATO, Abelardo. El hombre en cuerpo y alma. Tratado I: El cuerpo humano. In: El Pensamiento de Tomás de Aquino para el hombre de Hoy. vol. 1. Valencia: Edicep, 1994. p. 78.

[3] A filosofia de Max Scheler, que ambicionava aprofundar a antropologia kantiana, “não só deixava de lado o ser”, mas “não tinha uma adequada concepção da função da inteligência na compreensão do real”, e “diluía o espírito do homem em uma nebulosa com o espírito absoluto, cuja característica era a impotência e a debilidade” (LOBATO, Abelardo. Ibidem, p. 79).

[4] GILSON, Étienne. Op. Cit. p. 306.

[5] DERISI, Octavio Nicolás. Tratado de Teología Natural. Buenos Aires: Educa, [s.d.]. p. 134.

Maurice Blondel e la domanda di senso

Pe. Eduardo Caballero, EP

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            Blondel è molto interessato nel mettere in relazione la rivelazione e la necessità immanente della natura umana. In questo senso, le parole iniziali della sua tesi dottorale, L’azione (1893), sono un’espressione concreta del suo metodo d’immanenza:

 

Sì o no? Ha la vita umana un senso, e l’uomo un destino? […] Il problema non può essere eluso. L’uomo lo risolve inevitabilmente, e questa soluzione, vera o falsa, ma volontaria e, nel contempo, necessaria, ciascuno la porta nelle proprie azioni. È questo il motivo per cui è necessario studiare l’azione.[1]

 

            Più avanti, nella sua Lettera sull’apologetica (1896) confermerà: «se è vero che le esigenze della rivelazione sono fondate, non si può dire che a casa nostra siamo completamente a casa nostra; e di questa insufficienza, o impotenza, vi deve essere traccia nell’uomo soltanto uomo, ed eco nella filosofia più autonoma».[2] Poche pagine dopo, nella stessa opera, propone esplicitamente il suo metodo d’immanenza.

            Evidentemente, l’impostazione di Blondel è molto influenzata dalla tappa postkantiana, nella quale è preminente il principio dell’immanenza della coscienza. Insieme alla corrente anti-intellettualistica e sentimentale – che non è altro che un’eredità di Kant – questo orientamento rese possibile il modernismo.

            Il nostro autore vuole evitare questi pericoli analizzando la dinamica dell’azione umana e stabilendo un metodo pienamente sviluppato che garantisca l’esclusione della dottrina della pura immanenza, condannata dal Magistero. Perciò, il centro della sua riflessione è l’azione, che concepisce come una sintesi del volere, del conoscere e dell’essere, come vincolo di unione del composto umano, che è impossibile scindere senza distruggerlo. L’azione non è altro che il punto di confluenza del mondo del pensiero, il mondo morale e il mondo della scienza.

            In base a queste premesse Blondel distingue fra volontà volente e volontà voluta, concetti che stanno al nucleo dell’analisi dell’azione e della sua dialettica. La volontà volente equivale alla voluntas ut natura della scolastica. Si tratta dell’aspirazione infinita verso la felicità, presente e implicita in tutto come desiderium naturale videndi Deum. La volontà voluta invece è la volontà esplicita e libera, la quale, abusando della sua libertà, può deviarsi dalla tendenza fondamentale verso la felicità, perdendo così il fine. Da questa definizione scaturisce spontaneamente la sproporzione fra l’una e l’altra – inadeguatezza fondamentale la chiamerà lui – e che è fonte dei conflitti esistenziali dell’uomo.

            La dialettica dell’azione viene focalizzata nello sviluppo dell’azione umana in onde concentriche nel suo tendere verso Dio. Usa l’immagine di una pietra lanciata in un lago, che produce onde sempre più larghe e che tendono a espandersi ad infinitum. L’azione umana non è come una pietra che cade sulla sabbia, senza alcuna ripercussione, ma ha una risonanza in un certo qual modo infinita. Non esiste niente privato; esistono invece cose personali.

            Lui analizza le principali onde dell’azione dell’uomo e trova che in tutte è insufficiente. Prima onda: l’azione umana vuole armonizzare la relazione tra l’uomo e l’universo materiale. Seconda onda: è la vita interiore dell’uomo. Terza onda: è il desiderio di realizzazione della vita personale nell’amore verso gli altri. Quarta onda: l’amore si trasforma in fonte di vita familiare. Quinta onda: la coltivazione della vita comunitaria. Sesta onda: l’aspirazione di realizzare una comunità universale. Settima onda: la dinamica dell’azione tende ad affermare i valori morali, uscendo dagli orizzonti del tempo e del mondo. Ottava onda: la continua aspirazione a superare i limiti dello spazio e del tempo. Nona onda: raggiunge la dimensione religiosa come risultato dell’aspirazione di un superamento spazio-temporale.

            La caratteristica costitutiva di questa dinamica è l’esperienza di insufficienza. In ogni onda, infatti, l’azione è, essa stessa, fonte di una nuova perfezione che però non arriva mai alla perfezione completa. L’ultima onda è, di fatti, lo sforzo della volontà che esce dalla immanenza dell’operare a livello morale per congiungere l’azione al trascendente.

 

CABALLERO, Eduardo. La credibilità della rivelazione cristiana. Roma, 28 Maggio 2008

 


[1] M. BLONDEL, L’azione, Firenze 1921, 3.

[2] M. BLONDEL, Lettera sull’apologetica. Lettera sulle esigenze del pensiero contemporaneo in materia d’apologetica e sul metodo della filosofia nello studio del problema religioso, Brescia 1990, 71.