Riqueza simbológica nas igrejas

Adaptado da apostila composta pelo Pe. Marciano Gonçalves Siqueira (Belo Horizonte, 29/6/1976), baseado no livro “El por qué de todas las ceremonias de la Iglesia y sus misterios”.

 

int-BasilicaDiz Durando: “Os templos ou igrejas são símbolo ou figuras do corpo humano; e assim como este, em cada parte, representa um prodígio, uma maravilha de seu Criador, na igreja cada parte representa um prodígio, porque não há, nela coisa alguma em que não se inclua um profundíssimo mistério” (livro I, cap. I).

O alta mor é a cabeça, os laterais são os braços e suas mãos. O resto da igreja é o corpo. A igreja tem 4 dimensões: longitude, latitude, altitude e profundidade. Essas quatro dimensões simbolizam os quatro evangelistas. Também simbolizam as virtudes cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, e ainda a paciência, a caridade, a esperança e a humildade, virtudes que Deus muito aprecia.

Quem mandou edificar a igreja mais comprida do que larga foi o Papa São Clemente. A nave simboliza a caridade que se estende até o amor aos inimigos. A porta da igreja simboliza Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Eu sou a porta… Ninguém se salvará se não entrar por esta porta. Esta também simboliza a obediência aos Mandamentos, que são a porta da vida eterna.

O assoalho simboliza a humildade, como também os pobres de espírito e os que desprezam o mundo, os que trabalham para a manutenção da Igreja, seus ministros e todos os fiéis que cuidam dela varrendo, tirando o pó dos altares, adornando as paredes etc. Porque todos estes são os assoalhos da igreja por sua humildade, devoção, amor e zelo.

As paredes e colunas da igreja simbolizam os apóstolos, evangelistas e doutores. Também simbolizam o belo exército dos inumeráveis mártires. O teto simboliza a caridade, porque assim como o teto cobre todo o edifício material, assim a caridade oculta e encobre tudo. São Paulo a considera a maior de todas as virtudes: “Nunc manent fides, spes et charitas; horum autem major charitas est”. O livro dos Provérbios diz que ela encobre uma multidão de pecados (cap. X). São Pedro diz o mesmo (1ª, cap IV). Ela abre a porta do Céu.

Os cravos, ferros, madeiras e vigas da igreja, simbolizam e significam os confessores, pregadores e serventes da igreja, porque eles “com sua união, zelo e caridade conservam o edifício da Igreja espiritual”, diz Titelman. As vigas simbolizam os religiosos, os varões virtuosos e justos, porque com sua vida exemplar a sustentam e conservam.

A arquitetura e beleza exterior da igreja simboliza os pregadores, porque “com sua doutrina e ensino, ilustram, adornam e embelezam a Igreja” (Durando). As janelas, quando nelas o Sol não bate, simbolizam o Evangelho puro, sem comentário. Quando nelas o Sol bate, simbolizam o Evangelho comentado.

campanA torre simboliza os Bispos e pregadores, porque são eles a torre que defende a Igreja militante com seu zelo e sua doutrina, e se faz a mesma Igreja torre inexpugnável por sua constância e fortaleza. O capitel da torre “representa a vida e o entendimento do Bispo”, diz Durando, porque o Bispo tem de que ser “irrepreensível”, diz São Paulo, escrevendo a Timóteo (cap. III). A torre está sob a cruz, denotando ser a casa e palácio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Antigamente era costume pôr um galo na torre, símbolo do prelado e do pregador. Em torno de uma vareta, girava para todos os lados quando o vento a tocava, simbolizando o Papa, o Bispo e o vigário que devem olhar para os quatro pontos cardeais do mundo, da diocese ou da paróquia, para verem de que lado o lobo (o demônio) vem para atacar as ovelhas do Senhor, e eles as defenderem.

A palavra sacristia vem de “sacris” e “todia”. É o lugar onde se guardam e conservam as vestimentas sagradas, todos os vasos e ornamentos necessários ao culto divino. Chama‑se “sacris” porque o sacerdote sai dela para celebrar, vestido com as vestimentas sagradas. Das sacristias houve figura na lei de Moisés. Nesta havia um lugar da vítima ou sacrifício e outro onde se guardavam as vestimentas do sumo sacerdote.

A sacristia simboliza “o ventre da Virgem Maria onde o Verbo Divino tomou a natureza humana (S. Paulo aos Filipenses, cap. IV, e Durando, livro I, cap. I, nº 43). O sacerdote saindo da sacristia paramentado publicamente, simboliza o Senhor nascendo de Maria Santíssima para remir a humanidade.

O relógio na igreja ou na torre simboliza o cuidado e diligência que os ministros devem ter nas orações das horas canônicas, fazendo‑o nas horas marcadas, como diz Durando (ubi supra, nº 15). Isto David simbolizou dizendo: “Sete vezes, Senhor, eu disse ou cantei vossos louvores” (Salmos C XVIII).

Também simboliza o cuidado que Maria Santíssima teve durante a vida com seu Divino Filho. Escutar o toque do relógio simboliza a brevidade da vida, a transitoriedade deste mundo e a inconstância de nosso ser, de um minuto a outro. O mesmo significado têm as cordas, rodas, movimento, e as outras partes que o compõem.

O púlpito tem sua origem no que Salomão, no Antigo Testamento, pôs no templo que ele edificou para o Senhor (2, Paralipomeno, cap. VI) na forma de um círculo, feito com metal, com o pé de coluna. O mesmo se lê em Esdras (II, cap. VIII), que fez um com escada de madeira, em que subia para falar ao povo publicamente, por ser o lugar mais alto. Na Lei Evangélica prosseguiu o costume de pregar de lugar mais elevado. Assim o Senhor ensinou subindo ao alto da montanha para pregar.

O púlpito simboliza a sabedoria; por isso se chama cátedra do Espírito Santo. Simboliza também a luz, por ser o lugar donde se declara e se explica o Evangelho. Durando diz que está em lugar mais alto por simbolizar “a vida dos perfeitos no exercício de suas virtudes” (ubi supra, nº 33). Está na nave principal da igreja, e no meio dela, para todos ouvirem igualmente a doutrina do Evangelho, pois não ignorar a doutrina é meio necessário para ir para o Céu.

Presbitério era, antigamente, o lugar em que os sacerdotes se juntavam para cantar o ofício divino. É a mesma coisa que coro. Hoje só se juntam com o Bispo, na Quinta Feira Santa, para a bênção dos santos óleos. No passado, em certos dias de festa, o Papa ia à basílica de São João de Latrão e, pondo‑se no presbitério como lugar próprio, dava grandes esmolas aos cardeais, clero, senado e ao povo romano, como consta que fizeram Bonifácio V, Eugênio I e Clemente III. Estas esmolas chamavam‑se donativos ou esmolas presbiteriais. Daqui veio a chamar‑se presbitério.

A credência é o lugar em que se põem os vasos sagrados necessários para a Missa. Antigamente havia um guarda ou zelador encarregado de evitar a aproximação de qualquer pessoa deste lugar privilegiado. Chamava‑se credenciário. Simboliza ter Nosso Senhor voluntarimente morrido para salvar a humanidade.

Os assentos na igreja têm sua origem no templo de Salomão, quando mandou fazer aquele reclinatório de ouro, diz Durando (livro I, nº 30). Na Lei Evangélica, começaram no tempo de São Clemente. Os assentos e reclinatórios simbolizam a Fé formada, embelezada pela caridade. Também simbolizam os justos e fiéis que estão adornados com a fé e a caridade.

Zelem os sacerdotes pelo silêncio nas igrejas. Desta falta de silêncio os sacerdotes darão contas estreitas a Deus. Exijam‑no, sem distinção de pessoas.

A Unção dos Enfermos pode apagar os pecados mortais e veniais?

uncao                Júlio Hayashi

A Unção dos Enfermos é um sacramento específico para a enfermidade e não para a morte. O rito da unção foi concebido e disposto, em suas leituras, orações para o restabelecimento da saúde do enfermo. Segundo a nova pastoral da Igreja, o sacramento da morte é o Viático.

Não obstante, é preciso não confundir a unção, situando-a no mesmo nível dos cuidados médicos prodigalizados ao enfermo – embora o sentido de cura que ela encerra não seja alheio nem aos esforços técnicos nem ao pessoal sanitário.

A luta pela saúde não esgota o sentido da unção. Ela é um sacramento de vida, mas, na doença, deve ajudar o enfermo a viver sua enfermidade no sentido de sua fé cristã e aceitar a morte, se a morte vier, igualmente com sentido cristão (Rito, Orientações).

O Vaticano II não tratou especificamente da unção, a não ser dentro de um contexto, na constituição dogmática sobre a Igreja:

“Pela Sagrada Unção dos Enfermos e oração dos Presbíteros, toda a Igreja        recomenda aos doentes ao Senhor que sofreu e foi glorificado, para aliviá-los e salvá-los… e exorta-os a unirem-se espontaneamente á Paixão e Morte de Cristo… assim contribuindo para o bem do povo de Deus” (Lúmen Gentium nº 11).

Aliviar e salvar é o mesmo que oferecer saúde e perdão.

O ritual, que absorve o espírito do Concílio e o esclarece, afirma: “Mesmo assim concede-lhe, quando necessário, o perdão dos pecados e a plenitude da penitência cristã (Rito nº 6).

O ministério da cura é um compromisso da Igreja com Jesus no combate vitorioso contra as potencias do mal.

A unção tem como finalidade salvar o homem total.

Comumente, à administração da unção precede o sacramento da Penitência.

A unção não só perdoa os pecados como ajuda o enfermo a se situar em atitude de conformidade com Jesus, segundo o conselho do apóstolo Paulo: “Tende em vós o mesmo sentimento de Jesus Cristo” (Fl 2,5)

Isto seria aceitar a vontade do Pai, como Jesus a aceitou, o que não é fácil, não o tendo sido mesmo para Jesus. O enfermo, diminuído em suas forças e em sua clarividência pela enfermidade, não percebe claramente como um pai pode permitir tal sofrimento para seu filho. É a tentação de desconfiança. A força de ver e aceitar isto vem ao enfermo pela graça especifica deste sacramento. Assim, ele pode vencer a tentação de rebeldia e desespero, configurando a si mesmo com Jesus, que também aceitou sua paixão e morte.

Em virtude da debilidade produzida pela enfermidade, o paciente está exposto ao perigo de ceder a outras tentações. A unção será um apoio para sua debilidade e lhe proporcionará a força para manter sua fidelidade ao Senhor até o momento derradeiro.

Não se trata, porém, apenas disso: o cristão não se pode situar apenas em postura negativa; deve passar a uma atitude positiva, de livre aceitação, de aceitação consciente e responsável e, por isso mesmo, meritória, da enfermidade e da morte, também assim configurando-se com Jesus.

Para dar este passo adiante e ganhar, na enfermidade e na morte, grandes méritos perante o Senhor, o enfermo terá o auxilio da unção, juntamente com a graça especifica deste sacramento.

Quando o paciente, como Jesus no Getsemani, entrega-se à vontade do Pai, sentirá a paz na luta pela vida.

Pela sua generosa entrega à vontade de Deus, o cristão converte-se à comunidade cristã num testemunho de fé.

Seus irmãos aprendem a valorizar a vida em sua dimensão de passagem e preparação para a outra.

A Unção dos Enfermos é o sacramento da vida, é um sinal de esperança, apontando para o futuro, para a entrada no reino e para o encontro com o Pai.

A Unção dos Enfermos pode apagar os pecados mortais e veniais?

Padre Antonio Royo Marin (1994,p.510-511) dá a resposta no livro Teologia Moral para Seculares II, tratando sobre os Sacramentos:

“Perdoa os pecados mortais e veniais, se os há. “Posto que o dito fortalecimento é produzido pela graça, que é incompatível com o pecado; conseqüentemente, quando há algum pecado mortal ou venial, o  apaga quanto à culpa, desde   que a pessoa não se ponha obstáculo naquele que o recebe, como já dissemos, tratando da eucaristia e  confirmação. Por esse motivo, Santiago fala condicionalmente da remissão do pecado, afirmando que, “se tivesse pecados, lhe serão perdoados” quanto à culpa. No entanto, nem sempre apaga o  pecado, porque nem sempre encontra no sujeito; o que sempre se  tira é a citada debilidade, que alguns chamam  “resíduos do pecado”.

Em resumo: devemos afirmar que o efeito principal deste sacramento é   apagar os resíduos dos  pecados, e secundariamente, também a culpa, se existe, na alma.

   Como já explicamos em seu lugar correspondente, o sacramento dos vivos deve ser recebido em estado de graça, sob pena de sacrilégio. Assim, se um pecador recebe de boa fé (ou seja, sem dar conta de que se está em pecado mortal), tendo atrição sobrenatural de seus pecados, o sacramento dos vivos infunde a graça como se  tratasse de um sacramento dos mortos. Tal é, cabalmente, o caso da extrema unção.” (Antonio Royo Marin – Teologia Moral para Seglares II – Los Sacramentos – Biblioteca de Autores Cristianos, Madri 1994 – nov/94, p. 510)

“Pergunta:  o sacramento da extrema-unção dispõe a pessoa  para a entrada imediata na gloria dos céus?

Assim crêem alguns autores que citam a seu favor vários Santos Padres, muitos teólogos (entre os quais, São Alberto Magno, Santo Tomás, São Boaventura, Escoto, Suarez, Gonet, São Afonso Ligorio, etc), varias fórmulas litúrgicas antiqüíssimas, a doutrina da Igreja oriental e incluindo as citações do mesmo Concilio de Trento. Contudo, é questão obscura e duvidosa, que está muito longe de poder afirmar com certeza. – Cf. Cappello, De extrema unctione n. 135-149, donde se defende  com intrepidez a sentença afirmativa. Mais adiante adverte com prudência que nem sempre consegue libertar-se do purgatório aquele que recebeu a extrema-unção, senão unicamente quando obtém o pleno fruto do sacramento, o qual depende de sua intima disposição (ibid, n. 168)”  ( Marin – 1994 – nov/94 , p. 511)

No Catecismo  Romano  do  Padre  Valdomiro  Pires  Martins    ainda os seguintes comentários a respeito do mesmo assunto: 

“Perdão dos pecados – Ensinem, pois, os pastores que a graça, conferida pelo Sacramento, apaga os pecados, principalmente os mais leves, os que se conhecem pela designação comum de veniais; as faltas mortais são eliminadas pelo Sacramento da Penitência. A Extrema-Unção não foi instituída com o fito primordial de extinguir pecados graves; somente o Batismo e a Penitência é que o fazem, em virtude de sua propria finalidade. Acidentalmente, a Extrema-Unção confere a graça primeira, quando já não é possível a Confissão, contanto que haja contrição e o desejo de confessar-se, se fôra possível – CRO não realça um efeito importante da Extrema-Unção. Quando recebida em boas disposições, a Extrema-Unção extingue os castigos temporais do pecado; livra, portanto, do Purgatório.” (Catecismo Romano do Padre Valdomiro Pires Martins s , 1962 , p. 310).

HAYASHI, Júlio. O Sacramento da Unção dos Enfermos. Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Curso de Pós-Graduação em Teologia Tomista. São Paulo, 2007. p. 39-41.