Só Deus sacia por completo todos os desejos do coração humano

L'AngelusPe. José Victorino de Andrade, EP

Dificilmente se encontrará alguém que não anseie e procure a felicidade. Esta demanda foi posta por Deus no coração de todos os homens que, à semelhança de Santo Agostinho, apenas descansam quando O encontram e n’Ele “repousam” (Confissões I, 1). O início do Catecismo da Igreja Católica começa exactamente com esta temática, lembrando que o homem é capaz de Deus. Entretanto, esta insaciabilidade leva não só ao desejo de uma realização pessoal, no âmbito da vocação específica de cada um, como também da sociedade doméstica à qual pertence, e mesmo da comunidade, na qual se insere e vive.

Ensina-nos o Compêndio de Doutrina Social da Igreja que “o bem comum da sociedade não é um fim isolado em si mesmo; ele tem valor somente em referência à obtenção dos fins últimos da pessoa e ao bem comum universal de toda a criação” (n. 170). Ou seja, a realização pessoal nunca se faz de um modo isolado, mas num contexto, numa sociedade, peregrinação nesta terra herdada para o Homem a dominar através do seu trabalho, e colher os frutos, obtendo o alimento com o suor do rosto (Gn 1, 28-29; 3, 19).

Assim, a felicidade terrena, imperfeita, não se torna “num mar de alegrias, de contínua beatitude, que, durará sempre” (Is 35, 10), pois falta-lhe a visão beatífica – totus sed non totaliter -, de Deus. Peregrinando pelo mundo, a felicidade será sempre relativa, mas essa busca incessante estará por trás de tudo aquilo que o homem opera.

É impossível que a criatura racional dê um só passo voluntário que não esteja encaminhado, de uma ou outra forma, para a sua própria felicidade, já que, […] todo agente racional obra por um fim, que coincide com um bem (aparente ou real) e, pelo mesmo, conduz à felicidade (ROYO MARÍN, Antonio. Teología Moral para Seglares. 7. ed. Madrid: BAC, 2007. Vol. I. p. 22).

Por isso, explica São Tomás de Aquino que todos desejam alcançar a beatitude, entretanto, diferem nos meios para obtê-la, procurando-a através de riquezas, prazeres, ou outras coisas. Porém, o fim, ainda que implicitamente, permanece o sumo bem para o qual tendem todos os homens (S. Th. I-II, q. 1. a. 7.). Ora, este é identificado pelo Pe. Royo Marín, OP como sendo o próprio Deus:

Não é nem pode ser outro que o próprio Deus, Bem infinito, que sacia por completo o apetite da criatura racional, sem que absolutamente nada possa desejar fora dele. É o Bem perfeito e absoluto, que exclui todo o mal e enche e satisfaz todos os desejos do coração humano (Op. cit.  p. 23).

O hedonismo sofredor e a caridosa felicidade

Dom Miguel de Mañara fundador Santa Caridad Sevilla

Pe. José Victorino de Andrade, EP

Sócrates falava da eudaimonia, referindo-se ao homem que procura a felicidade como um princípio de vida. Na verdade, estamos sempre à procura dela. É muito raro, ou praticamente inexistente, aquele que não deseja ser feliz, ou que não quer ver o salutar sentimento de alegria estampada no rosto daqueles que o rodeiam. Porém, ser verdadeiramente feliz, não significa a permanente ausência de dificuldades nesta vida, mas conviver com elas, superá-las, deixar-se purificar e vencer pelo constante apelo à conversão.

Imagine qual destas duas personagens poderiam ser objeto de maior admiração: Um marinheiro que passou por tempestades e tormentas, com o rosto marcado pela aventura e pelas dificuldades que enfrentou… ou um barqueiro de água doce que rema em águas mansas e adormece embalado… A vida passa pelas dificuldades do nosso marinheiro, e há que remar contra a maré, contra o vento e as tempestades, que são os sofrimentos da vida. Entretanto, a mentalidade hedonista do homem contemporâneo, tende mais a identificar-se com o segundo elemento, o barqueiro… cuja vida mansa não quer ser interrompida por nada que quebre as delícias e os prazeres, em que até mesmo remar um pouco, custa muito.

Mas, a fuga ao infortúnio provoca geralmente um fenômeno adverso e incontornável. Pergunte-se, a quem tem mais experiência na vida, se nunca passou por uma doença, infelicidade, problemas… Entretanto, raramente procurados. Uma vez que o homem se depara diante deles, não se tornam vãos, e têm a capacidade de tornar as pessoas mais maduras, e por vezes até mesmo mais felizes. A patente alegria quando uma dor passou, é maior do que quando permanecemos sem o quadro doloroso; uma enfermidade debelada, acarreta uma satisfação acrescida. O desafio ultrapassado, maior júbilo. O que significa que a dificuldade passageira poderá ser uma ponte para um estado de felicidade maior do que a estabilidade permitiria.

Afinal, a dor e o sofrimento também parecem ser necessários a fim de que se manifestem alguns dos sentimentos mais elevados do ser humano, tais como o amor e a alteridade. Por exemplo, a atenção que é devotada a alguém quando está doente ou sofrendo. Fisicamente, a pessoa pode não estar bem, mas é sensível ao fato de que o carinho e a atenção a ela aumentaram. Por outro lado, o nosso amor pelos outros também dilata, quando vemos que estão necessitados ou com sofrimentos. E a solidariedade torna-se realidade, ou melhor, caridade, diante da perspectiva de todos aqueles pequeninos, aos quais Jesus devota o seu pedido de atenção (Mt 25, 40), fazendo-se além de servo, sofredor com eles (cf. Isaías 53).

O homem deve ter razões para viver e para morrer, e não será a ciência a dá-lo a ele

Florença - Galileu GalileiPe. François Bandet, EP

“O homem deve ter razões para viver e para morrer, e não será a ciência a dá-lo a ele”, afirmou o prêmio Nobel para a Medicina, François Jacob. 1

A missão da Igreja é oferecer um compromisso ético aos modernos cientistas para o bem da humanidade. É uma questão de dignidade e respeito para a existência humana.

A cristandade — e especialmente a Fé católica — é a religião que dá o verdadeiro significado ao mundo material porque é a religião que é baseada na criação e na encarnação, na qual o mundo é entendido como fruto de um Deus inteligente e pessoal. “Aquele que conservar a vida para si há de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim há de salvá-la” (Mt 10, 39). Perder a vida na procura de Deus significa o abandono à Verdade. A Revelação cristã, embora sobrenatural, não paralisa o crente, mas o encoraja à procura pela Verdade, pelo uso da razão iluminada pela Fé. A missão da teologia é manter o espaço do transcendente aberto num mundo cada vez mais pragmático e materialista. A pior coisa que poderia acontecer seria o cientificismo poder fechar a possibilidade do transcendente e a redução da realidade ao que apenas pode ser mensurado e observado.

A teologia deve promover o diálogo com a ciência a fim de não perder o seu lugar na conquista pelo entendimento. A revolução científica é insuficiente para mostrar o significado da vida e incutir uma esperança concreta. Após o escurecer da consciência, o homem necessita entender o seu lugar na criação para não cair em desespero. A teologia e a Fé podem providenciar uma realista e razoável explicação para o lugar do homem na terra. Porque há uma realidade na vida do homem que não é sujeito a ser mesurado ou verificado: o mundo das ideias, afeições, amizade e amor.

Muitos anos atrás, Santo Anselmo (†1109) descreveu a pesquisa teológica como fides quaerens intellectum,2 a Fé procurando entender. Acreditando em Deus, nós aprofundamos o nosso correto entendimento da realidade tal como nos é apresentada. A experiência é realidade, e ambas, Fé e ciência, podem trabalhar juntas para melhorar o entendimento, mas apenas se souberem respeitar-se mutuamente.

Traduzido do original em inglês por José Victorino de Andrade  com autorização e revisão do autor.

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1 Cf. Apud B. Matteucci, Scienza, Fede e Ideologie, in Scienza e Fede, 1983, n. 9. 39.

2 St. Anselm of Canterbury, Proslogion, Prooemium, in ALAMEDA,  J., ed., Obras completas de San Anselmo. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1952. 82.

A educação católica, educação de valores

105-0594_IMGPe. Ricardo Basso, EP

A educação, desde os filósofos gregos até o século XVIII, visava a formação do homem como um todo, procurando desenvolver suas habilidades e capacidades, explorando suas apetências, seguindo um currículo muito flexível, quase que adaptado a cada aluno. As aulas das universidades ocorriam com frequência em espaços públicos, com acesso a qualquer um. A respeito dessa informalidade, conta-se, até, na vida de São Clemente Maria Hofbauer um fato significativo. Na sua juventude, sendo aprendiz de padeiro, sentou-se na praça em Viena, Áustria, para assistir a uma aula de famoso teólogo. Em determinado momento ele interrompeu a exposição observando: “Mestre, não sei explicar por quê, mas o que o Sr. acaba de falar está errado!” Indignado, o professor expulsa o jovem da aula. Anos depois, encontrando-se com São Clemente, agora sacerdote, o mestre lhe agradece aquela intervenção, explicando que fora tirar a limpo e, realmente, estava ensinando algo equivocado. Era o senso católico prevalecendo sobre a mera erudição.

Competia nessa época ao mestre ou preceptor atender às legítimas curiosidades e pontos vivos de interesse do discípulo, pois se compreendia que cada indivíduo é único e tem uma visão do universo personalíssima, originalíssima e riquíssima. E São Tomás de Aquino (século XIII) “introduz um princípio pedagógico moderno e revolucionário para seu tempo: o de que o conhecimento é construído pelo estudante e não simplesmente transmitido pelo professor” (Revista Nova Escola, julho de 2008, p. 22, sem autor). Vê-se por aí que Piaget e o construtivismo não representaram nenhuma novidade pedagógica na História, como tantas vezes são apresentados. Hoje fala-se de inter e transdisciplinaridade. Até a Revolução Francesa se ensinava assim… O conhecimento era uno, coeso, formava um todo coerente, harmônico entre as partes, baseado na mesma concepção religiosa do universo. Todos os conhecimentos se relacionavam entre si. Hoje fala-se que a criança deve aprender brincando ou que o aprendizado deve ser prazeroso. Na pesquisa bibliográfica, pudemos constatar que São Tomás de Aquino já ensinava isso na Suma Teológica (II-II, q. 168, art. 2, 3 e 4), no século XIII, tendo inclusive escrito um Tratado sobre o brincar. E São João Bosco (século XIX) tinha como pedra fundamental de seu sistema preventivo na educação a “amorevolezza”: a benquerença; a criança deveria ser benquista e sentir-se benquista pelo professor que, assim, conquistava a confiança do discípulo. Nos recreios salesianos havia uma só regra: é proibido estar triste. Hoje dá-se muita importância aos laboratórios, às experiências (John Dewey, 1978); os antigos da Escola peripatética, de Aristóteles, a qual possuía uma orientação empírica, já procediam assim pelo ano 320 a.C. …

Ou seja, as melhores tendências da pedagogia atual vão no sentido de restaurar o que a educação cristã vem fazendo há séculos. A chamada pedagogia “tradicional” – distinta da católica de que tratamos acima – é da idade moderna, fruto da Revolução Francesa. Um dos filósofos dessa escola foi Johann Friedrich Herbart (1776-1841), considerado o organizador da Pedagogia como ciência. O conhecimento humano ficou compartimentado, fragmentado com o iluminismo e o racionalismo, gerando as incontáveis especializações estanques modernas.

Por se basear no princípio de que a mente humana apenas apreende novos conhecimentos e só participa do aprendizado passivamente, o herbartianismo resultou num ensino que hoje qualificamos de tradicional. “[…] um ensino totalmente receptivo, sem diálogo entre professor e aluno e com aulas que obedeciam a esquemas rígidos e preestabelecidos” (Revista Nova Escola, dezembro de 2004, p. 24, sem autor).

O sistema de ensino prevalente nas universidades medievais era baseado na intensa participação dos alunos através da “disputatio”, o debate, que se seguia à apresentação de um tema, a “lectio”, no qual cada um defendia sua opinião. Nem o mais ousado sistema educacional hodierno chega a ser tão participativo como o medieval.

Como entrar em contato com o Criador

_MG_5343Pe. José Victorino de Andrade, EP

Deus criou o homem com a capacidade de se comunicar1 e, através de manifestações exteriores, exprimir aquilo que vai no seu íntimo. Poderá fazê-lo através de palavras, gestos, sinais, ou mesmo expressões fisionômicas que expressem uma reação, atitude, desejo ou postura diante de algo ou alguém. Esta disposição leva mesmo a que ele se desprenda do egoísmo e da auto-suficiência, e a uma abertura relativamente àquilo que o rodeia, e mesmo ao sobrenatural.2

Deste modo, entre todos os seres vivos, ele é o único dotado de uma tal criatividade que, a partir de um número finito de palavras passíveis de serem contidas num determinado dicionário, é capaz de elaborar infinitos sistemas, sem contar o recurso à criatividade e a sentenças que podem mesmo chegar à agramaticalidade3 porém, facilmente reconhecíveis e até decifráveis por parte de outro falante ouvinte que partilhe a mesma língua ou domine idêntico conjunto de códigos linguísticos. E até ao fim de sua vida, ele poderá emitir ou receber formulações sempre novas e fecundas, capazes de surpreender e abrir novas perspectivas, contribuindo deste modo para um renovado impulso da comunicatividade e abertura tanto ao próximo como ao transcendente.

Porém, foi o próprio Deus que tomou a iniciativa e quis comunicar-se aos homens. Fê-lo por meio da criação, estabeleceu uma aliança com os homens, “muitas vezes e de muitos modos falou aos nossos pais, nos tempos antigos”, e nestes tempos, que são os nossos, “falou-nos por meio do Filho” (cf. Hb 1, 1-2). Aliás, ninguém melhor do que Ele para dizer-nos quem é o Pai. A Exortação Apostólica Verbum Domini lembra-nos também o papel da sua esposa mística, a Igreja, enquanto transmissora da Revelação, “através da obra do Espírito Santo e sob a guia do Magistério”:

“A Igreja vive na certeza de que o seu Senhor, tendo falado outrora, não cessa de comunicar hoje a sua Palavra na Tradição viva da Igreja e na Sagrada Escritura. De facto, a Palavra de Deus dá-se a nós na Sagrada Escritura, enquanto testemunho inspirado da revelação, que, juntamente com a Tradição viva da Igreja, constitui a regra suprema da fé” (n. 18).

Quanto a outras formas do Senhor comunicar-se aos homens, o Catecismo da Igreja Católica não deixa de assinalar os sacramentos, sendo Cristo que neles age e comunica a graça que significam (cf. n. 1127). E para não delimitar a questão, que jamais se encerra aqui, bastaria considerar que o Espírito faz ouvir a sua voz e age onde quer, conforme explica o próprio Jesus por ocasião de sua conversa noturna com Nicodemos (cf. Jo 3, 8).

Ora, uma vez que Deus é pródigo em comunicar-se, cabe ao homem estar atento, não só vigilante, mas também orante, (cf. Mt 26, 41) ou seja, respondendo à interpelação que lhe é dirigida e cuja fé exige, além do mais, as obras (cf. Tg 2, 14-26). É inerente ao homem, enquanto ser simultaneamente corporal e espiritual, uma necessidade de entrar em contato com o Criador. Deverá fazê-lo por meio de “sinais e símbolos materiais”, conforme nos explica o Catecismo: “Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus” (CIC 1146).

São Tomás de Aquino afirma ser a nossa peculiar linguagem obra própria da razão, uma porta para o homem manifestar o que vai no seu íntimo.4 E descreve o reto processo da linguagem desta forma:

“[A potência intelectiva] primeiro, apreende simplesmente algo e esse ato se chama inteligência. Depois, ordena o que ela apreendeu para conhecer ou operar alguma outra coisa, e é a intenção. Enquanto persiste na investigação daquilo a que se propõe, pensa. Ao examinar o que refletiu em função de princípios certos, conhece ou sabe; então a sabedoria leva a julgar […] Quando já possui alguma coisa como certa, porque foi comprovada, pensa na maneira de comunicá-la aos demais: e é a disposição da palavra interior, da qual procede a linguagem”.5

De modo semelhante, mesmo quanto ao processo, surge a elevação da mente a Deus, ou seja, a oração, que poderá ser vocal, e manifesta a fé do crente enquanto “rationabile obsequium” (cf. Rm 12, 1). O primeiro termo aparece também na oração eucarística do Cânone Romano, onde se reza para que Deus aceite a oferenda como “rationabile“. Mas esta disposição interior parece não ser suficiente, íntegra ou mesmo coerente, se não se manifestar e comunicar aos demais, através do testemunho e da autenticidade na vida e nos atos do crente. Entende-se então a necessidade de prestar a Deus um culto que não seja meramente interno, o que o tornaria incompleto, mas de um culto externo, que deve repercutir na esfera pública, dado que toda a sociedade é devedora de Deus, e desta forma, deve render-lhe um culto público.6

E como lembrava Paulo VI, baseando-se na Sacrosanctum Concilium (n. 13), já no último ano de seu pontificado: “O que é a liturgia senão o culto público da Igreja, sua voz comunitária dirigida ao mistério de Deus Pai, por meio de Cristo, no Espírito Santo?”.7 E acrescenta a necessidade não só da expressão colectiva das vozes dos fiéis, como também a “obrigação e possibilidade do diálogo pessoal com Deus”.8 A interatividade que deve existir no diálogo entre Deus que interpela, e a resposta do crente, deverá levar a que a “semente do Reino produza seu fruto na terra fértil”. E por isso “as ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus exprime: a iniciativa gratuita de Deus e ao mesmo tempo a resposta de fé de seu povo” (CIC 1153).

Ainda que a nossa linguagem pareça ser insuficiente, não só para explicarmos quem é Deus, como também para nos dirigirmos a Ele, não nos esqueçamos de que o “Verbo fez-se carne” (Jo 1, 14), e assumindo a condição humana (cf. Fl 2, 7), semelhante a nós em tudo exceto no pecado (Hb 4, 14), falou aos homens (cf. Hb 1, 2). Por isso afirma a Dei Verbum: “As palavras de Deus com efeito, expressas por línguas humanas, tornaram-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens tomando a carne da fraqueza humana” (n. 13).

“Assim falando de Deus, nossa linguagem se exprime, sem dúvida, de maneira humana, mas ela atinge realmente O próprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo em sua infinita simplicidade” (CIC 43). E para São Tomás de Aquino, esta simplicidade não fica comprometida quando a Deus se atribuem algumas coisas, uma vez que partem do conhecimento que possui nosso intelecto relativamente aos efeitos divinos, cuja relação têm Nele seu fim.9

E quanto a dirigir-nos a Deus, é sempre possível, mesmo recorrendo ao emprego de palavras humanas, pois a melhor referência e o exemplo foram oferecidos pela segunda pessoa da Santíssima Trindade, que assim nos ensinou a orar: “Pai nosso…” (Cf. Mt 6, 5-15; Lc 11, 1-4).

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1 Adão nomeia todos os seres vivos (cf. Gn 2, 20), dirige-se a Eva, mulher que lhe foi dada para não ficasse só e que constituía com ele uma só carne (cf. Gn 2, 23-24) e ela, por sua vez, responde à indagação da serpente (Gn 3, 2). Estão compreendidas, nestas três passagens, as primeiras palavras registradas nas Sagradas Escrituras.

2 São Tomás de Aquino refere-se várias vezes à natureza social do homem e da sua necessidade. Ver, por exemplo, S. Th. I, q. 96, a. 4; S. Th. I-II, q. 61, a. 5. Cont. Gent. III, c. 128; 129; 131.

3 Quanto a essa questão, ver o excelente capítulo a ela dedicada no manual de GOUVEIA, Carlos et al. Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. 2. ed. Lisboa: Caminho, 2006.

4 Cf. S. Th. I-I, q. 91, a. 3; S. Th. I-I q. 107, a. 1.

5 S. Th. Q. 79, a. 10, resp. 3.

6 Tanto os autores clássicos como Jolivet, Collin, nos seus manuais de Filosofia de inspiração tomista, quanto os mais recentes, como CHALMETA, Gabriel. Ética social: familia, profesión y ciudadanía. 2a. ed. Pamplona: Eunsa, 2003 defendem esta necessidade do culto público. Também a constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, como os decretos Apostolicam Actuositatem e Christus Dominus dedicam alguns parágrafos a esta temática.

7 PAOLO VI. Udienza Generale, 12 abr. 1978. Disponível em: <www.vatican.va>. Último acesso em 5 set. 2011. (Tradução nossa).

8 Loc. cit.

9 Cf. Cont. Gent. II, c. 13-14, 3-4.

A dignidade da vida humana e a família neste início de Séc. XXI

Pe. Jorge Filipe Teixeira Lopes, EPParis nocturna

A nossa época da pós-modernidade chegou ao auge de uma grande crise humanista, sendo que o ponto-chave de toda esta problemática está em que, parafraseando Touraine, a ordem social deixou de se basear no princípio do bem e do mal como derivações de uma ordem divina ou natural. Por outras palavras, é fácil aperceber-se que houve uma ruptura filosófica com a sabedoria escolástica, particularmente de S. Tomás de Aquino, por onde, em termos de jusnaturalismo, se originou uma filosofia dos direitos humanos que não dá vazão a uma defesa fundamental desses mesmos direitos.

Entre os vários paradigmas da pós-modernidade está este: o relativismo ético, fruto da profunda crise moral do homem contemporâneo que instrumentaliza a pessoa humana, desconsiderando a sua objectiva dignidade. Por essa razão, a reflexão antropológica não pode partir de um ponto qualquer. É prioritário reconhecer a existência de uma lei sinderética, concorde com a consciência racional humana, uma lei natural que assinala a bondade ou maldade dos actos humanos, a qual tem um fundamento objectivo e converte-se numa referência segura para a vida pessoal e social humana. É com base nessa lei, e da noção de uma certa ordem essencial imbricada na natureza humana, tomada como princípio geral na abordagem dos mais variados temas morais e éticos, que se pode ter uma maior precisão e ajuste nas condutas humanas em busca de uma “verdade prática”.

Retomando a expressão de S. Paulo a letra mata mas o espírito vivifica, pode-se indagar sobre a razão pela qual se está a encadear cada vez mais a humanidade em legalismos jurídicos, em “letras” formais. Eles são o rastro evidente da crise insolúvel pela qual passa a actualidade. Entretanto, a resposta parece simples: porque se subtraiu a ideia de um Espírito imutável e eterno o qual inscreveu na natureza racional humana uma lei, por uma natureza escrita e regida por mãos humanas, pela razão. O objectivo é claro: alcançar a paz e a ordem mundiais. Entretanto, a sua esterilidade em termos práticos coloca em dúvida a liceidade dessas “letras”.

Toda a temática dos direitos humanos engloba uma infinitude de temas controversos. Exigem uma particular atenção a dignidade da vida humana face aos avanços e imposições da tecnociência – particularmente estudada pela Bioética – e a família, célula básica da sociedade. Se neste início de século XXI a dignidade humana está em perigo, isso deve-se à ausência de uma visão objectiva e esclarecida sobre o que realmente é a natureza do homem e quais as suas exigências, para efeitos de um autêntico progresso.

O sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza

Ilha dos Frades 083Diác. Felipe Ramos, EP

Vemos que no mundo sensível é fato evidente a graduação das perfeições transcendentais numa maravilhosa hierarquia. É fácil compreender que todas as coisas são ontologicamente boas secundum magis et minus. A apreensão dos graus se torna ainda mais evidente quando se considera o pulchrum, escada segura de contemplação hierárquica das coisas, com a qual atinge, em seu vértice, a sua Suma Perfeição.

Tal Perfeição, absolutamente desproporcional ao homem, nos é revelada por meio desse sublime reflexo de Deus nas criaturas: a beleza.

Ao analisar a Criação e sua multifacetada variedade podemos nos perguntar por que Deus quis criar tal imensidade de seres. Pois sendo Ele infinitamente perfeito, bastaria-se a Si mesmo, sem a absoluta necessidade de criá-los. Porém, na Sua infinita bondade e misericórdia, assim o desejou.

Ora, Seu intuito, ao criar quantidade insondável de seres, foi para que estes não somente refletissem Sua perfeição infinita, mas também a reproduzisse em seus mais variados graus. Deste modo se explica o caráter hierárquico que Deus imprimiu ao Universo.

Contudo, não poderia Deus originar uma única criatura que por si só refletisse todas as suas perfeições tão bem como o conjunto dos seres criados? Parece que isso seria metafisicamente impossível. Pois Deus criou um Universo composto de muitas criaturas para que elas, de um lado pela sua pluralidade, de outro pela sua hierarquização, espelhassem convenientemente a Sua beleza e perfeição divina. Pois assim como um acorde sonoro é belo pela formação de uma unidade harmoniosa numa “terça”, mais belo ainda quando acrescentamos apenas uma nota num acorde de “quinta”, constituindo o que se chama “consonância perfeita”. Analogamente, a ordem da criação é ainda mais bela por sua rica pluralidade, quando coesa na unidade. Portanto, o homem, ao contemplar o mundo ao seu redor pode — aliando-se com a quarta via, ou seja, a partir da observação da gradualidade dos seres criados — inferir nestes, os esplêndidos reflexos da divina Pulchritudo.

Deste modo, o espírito hierárquico dos diversos graus aliados à ordem, às desigualdades harmônicas, ao pulchrum, em suma, leva-nos de proche en proche até a demonstração da existência de Deus, à Sua consideração e, por fim, à contemplação de Sua Suma Perfeição, causa de todas as perfeições.

A beleza nos símbolos e sua importância

pescadorMons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

A mente divina é infinitamente rica de seres possíveis e, embora Deus os possa criar todos, somente alguns Ele torna realidade. Assim, cada um de nós existiu como um possível na consideração de Deus, desde toda a eternidade1. Apesar d’Ele não ter querido criar todos os seres possíveis, é enorme a quantidade de criaturas vindas à existência pelo seu poder. Essa superabundância, como ocorre com todos os atos de Deus, foi intencional; entre outras razões, procedeu Ele dessa forma para espelhar uma maior quantidade de perfeições,2 ou mesmo evitar a sensação de monotonia que poderia facilmente se produzir na alma humana. Nessa imensa obra que O levou a descansar no sétimo dia, o Criador quis colocar uma nota de altíssima beleza: o simbolismo. Sobre isso, ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica:

“Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais para se comunicar com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus (n. 1146)”.

Nesta terra de exílio, um dos melhores modos de nos comunicarmos com Deus e termos, assim, algum antegozo da visão beatífica é contemplar os símbolos do Criador postos no universo, pois “as perfeições invisíveis de Deus, o Seu sempiterno poder e divindade, tornam-se visíveis à inteligência, por suas obras” (Rm 1, 20). Ou seja, desde que queiramos, é-nos dado discernir o Invisível no visível, o Infinito no finito, o Criador nas criaturas.

Não há dúvida que a beleza estética pura e simples tem grande valor, mas a intelecção desse valor não atingirá sua plenitude enquanto não remeta, de alguma forma, através de seu simbolismo, para o próprio Deus. Daí que a beleza simbólica tenha uma categoria muito superior à estritamente física.

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1 Cf. S. Th. I, q. 15, a. 2-3.

2 Cf. S. Th. I, q. 47, a. 1.

O conflito entre a ciência e a Fé

água LourdesPe. François Bandet, EP

No começo o século XIX existiu um sério conflito entre a ciência e a Fé. Foi o período do iluminismo, no qual a razão foi honrada como a única intérprete do conhecimento. Naquele período, o movimento contrário à religião apelidado de positivismo defendeu que a dimensão metafísica da vida era contrária ao senso comum. Hoje, essa mentalidade reducionista reemergiu como uma nova forma de cientificismo,1 no qual valores e a noção do ser são descartados como um mero produto das emoções e da imaginação. As questões básicas da vida: o que eu posso saber? O que devo eu fazer? O que devo esperar?2 são consideradas por uma tal mentalidade científica como um lamentável fruto da irracionalidade e da fantasia.

Entretanto, o conflito entre Fé, religião e ciência ainda existe hoje apesar do fato de essas matérias não se oporem, pelo contrário, complementarem-se harmoniosamente. Até Galileu explicitamente declarou que a Fé e a ciência, como duas fontes de verdade, não se podem opor uma à outra.3 O que é necessário para uma harmonia apropriada entre os dois é que cada uma permaneça no seu respectivo campo. O conflito começa quando uma ou outra, arbitrariamente, estende o seu campo de ação, projetando-se no campo específico ou na matéria do outro.

A harmonia, a paz e a coexistência são favorecidas quando cada disciplina tem uma ideia clara da sua própria natureza e objetivo.4 Um cientificismo militante e positivo, onde as disciplinas de teologia e filosofia são absorvidas pela ciência, é por certo uma fonte de tensão e conflito. Por exemplo, o cosmologista Stephen Hawking é renomado por extrapolar da sua disciplina científica para teorias filosóficas, a fim de defender suas cosmológicas conclusões sob o pretexto da “estética”. Por basear as suas teorias numa tal evidência não científica, Hawking tenta excluir Deus do seu cosmos, tornando-o um “Deus de vácuo” numa dimensão deística.

Assim como o universo teve um começo, nós podemos supor que teve um criador. Mas se o universo está realmente autocontido, não tendo limite ou borda, sem qualquer princípio ou fim: existindo simplesmente, que lugar teria então um criador?5

Diante de tal atitude, a teologia não se deve afastar da ciência, e, pior ainda, da razão. Deve continuar o diálogo através da filosofia, como um tipo de moderador já sugerido por João Paulo II:

Como em épocas precedentes, também hoje — e talvez mais ainda — os teólogos e todos os homens de ciência na Igreja são chamados a unirem a Fé com a ciência e a sapiência, a fim de contribuírem para uma recíproca compenetração das mesmas […].6

A ciência física, entretanto, deve ser pragmática e baseada em reais observações. A teologia deve continuar comunicante e provocando transcendência, a fim de não perder o seu alvo específico.7 Uma espécie de atitude de “regresso ao essencial” é necessária, para evitar cair no erro de sobrepor ou, pior ainda, isolar-se sob a forma de “fideísmo”.

Outra fonte de dificuldade no diálogo entre a Fé e a ciência surge quando há certa manipulação dos autores ao tentar vulgarizar a ciência. Einstein, por exemplo, conta na sua autobiografia como, aos 17 anos, ele deixou de ser religioso devido à leitura de livros de ciência populares. Como resultado, até o momento da sua morte ele nunca foi capaz de se libertar da constante desconfiança em relação a qualquer forma de autoridade.8 De fato, as dificuldades entre as duas disciplinas são geralmente resultado ou da falsa ciência ou da má teologia. O cientista tem a sua autonomia que o teólogo deve respeitar, enquanto este também não deve se virar para a ciência de maneira a serem-lhe iluminados os mistérios da sua Fé.

Apenas na media e em escritos científicos populares e polêmicos, o mito da luz da verdade puramente científica prevalece. Na verdade, escritores como Richard Dawkins e Daniel Dennet9 são responsáveis por perpetuar o mito de que a ciência não pode coexistir com a religião e, a partir daí, a ciência deve continuar a lutar à sombra do obscurantismo religioso impreciso.

A autêntica ciência não tem a necessidade de formar uma ideologia em torno de controvérsias com outras disciplinas. Assim sendo, o conflito da ciência não é com a Fé, mas com as interpretações filosóficas da Fé. A ciência e a Fé não estão em contradição. Afirmar que são inimigas uma da outra é uma das grandes distorções culturais dos tempos modernos. A vulgarização da ciência é o problema e é, geralmente, fruto de uma questão ideológica.10 Essas distorções devem-se ao fato de os pseudo-cientistas caírem em certos esquemas, promovidos muitas vezes por interesses econômicos ou políticos. A descrença não é fruto das novas descobertas e do progresso, mas de ideologias. “Nós devemos defender a liberdade religiosa contra a caracterização de uma ideologia que se apresenta como se fosse a única expressão da razão […]”.11

Traduzido do original em inglês por José Victorino de Andrade (IFAT) para a Revista Lumen Veritatis n. 6 (jan./mar. 2009) com autorização e revisão do autor.

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1 Cf. Pope John Paul II, Fides et Ratio, 88.

2 Cf. Kant, Critique of Pure Reason, Bohn, London, 1855, 488.

3 «Sacred Scripture and the natural world proceeding equally from the divine Word, the first as dictated by the Holy Spirit, the second as a very faithful executor of the commands of God» wrote Galileo in his letter to Father Benedetto Castelli on 21 December 1613. Pope John Paul II, Fides et Ratio, footnote 29.

4 Cf. P. Haffner, Creazione e scienze, Millstream Productions, Rome, 2008, 125.

5 S. W. Hawking, A Brief History of Time, Bantam Press, London, 1988, 140-141; cit. in P. Haffner, The Mystery of Reason, Gracewing, Herefordshire, 2001, 162.

6 Pope John Paul II, Redemptor Hominis, 19.

7 Cf. L. Oviedo, Whom to blame for the charge of secularization?, in Zygon, 2005, vol. 40, no. 2, 360.

8 Cf. A. Einstein, Pensieri degli anni difficili, Torino, Boringhieri, 1955. In: Benvenuto Matteucci, Scienza, Fede e Ideologie, in Scienza e Fede, 1983, n. 9. 35.

9 Cf. J. Polkinghorne, Belief in God in an Age of Science, Yale, New Haven, 1998, 77.

10 Cf. Scienza e non credenza, the plenary assembly of The Secretariat for Non-Believers, March 31 – April 3, 1981; P. Haffner, The Mystery of Reason, Gracewing, Herefordshire, 2001, 160,161.

11 J. Ratzinger, La Repubblica, 19 November 2004, Interview of Cardinal Ratzinger with Marco Politi.

O senso do maravilhoso capaz de regenerar o homem

auroraMons. João S. Clá Dias, EP

O homem é um todo substancial, harmonioso, constituído de um corpo cuja forma é a alma, e potências: vegetativa, sensitiva e intelectiva, que interatuam. Assim, se alguém, durante um passeio pelo campo, se encontra com um touro furioso, produz-se no organismo uma série de reações em cadeia: a glândula suprarrenal injeta imediatamente adrenalina no sangue, o coração se acelera, os brônquios se dilatam e a respiração também se acelera. A sensação de medo provoca reações fisiológicas que colocam o corpo em um estado correspondente à alma. Existem, pois, os estados físicos de medo, vaidade, coragem e muitos outros.

Entretanto, existe também o estado físico provocado pelo maravilhoso, que produz enorme bem estar e dispõe para o esforço e para a dedicação ao bem. A saúde se beneficia, uma série de indisposições orgânicas entram em ordem e se enfrentam melhor os estados de aflição e angústia. O deleite produzido pelo senso do maravilhoso é insuperável. Uma “experiência do maravilhoso” está ao alcance do homem e, quando bem assimilada, produz no organismo um efeito que poderá ser comparado a alguns medicamentos e antidepressivos. O que não quer dizer que os medicamentos não devam ser utilizados, mas a “maravilho-terapia” poderá favorecer uma recuperação mais rápida e eficaz.

Bosques, campinas, montanhas, as variações do céu diurno e noturno, as auroras e os ocasos, o mar majestoso… são remédios naturais postos por Deus à nossa disposição. Mas não são os únicos; também as obras humanas, as netas de Deus, segundo expressão de Dante.1

Faz parte da arte de bem viver o aproveitar tudo o que possa ser objeto de contemplação. O maravilhoso é o melhor da realidade, e aponta para o Absoluto. Os medievais eram especialistas nesta arte e fomentavam com naturalidade a “celestialização” das coisas; tudo o que faziam tendia ao ápice do maravilhoso. Comentava Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que “a alma maravilhável é uma alma maravilhosa, capaz de fazer maravilhas”.2

O homem de hoje não perdeu a capacidade de admirar, por mais que a sociedade lhe faça muitos outros convites. É preciso proporcionar-lhe ocasiões para, maravilhando-se, discernir nas coisas aquilo que elas têm de belo, de bom e de verdadeiro, ou sua ausência, e com isto poder voltar-se para o essencial: Deus.

D. Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, descreve a adesão daquele que deixa “seduzir-se” pela Beleza que salva:

“É no interior da evidência objetiva, que se deixa perceber a partir do sujeito com a  primeira reação do ‘espanto’ e da ‘admiração’, que se encontra já a força que leva o homem a reconhecê-la como bela e, portanto, boa e verdadeira e por isso mesmo cheia de sentido para ser amada e seguida”.3

1 ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. X vol. Trad. de Pinto de Campos J.; Augusto Falcão C. e Della Ninna A., São Paulo [s. d.]. Vol. II.  Inferno, canto XI, verso 105.

2 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A admiração é a nossa estrela de Belém: Pronunciamento. São Paulo, 13 maio 1988.

3 FISICHELLA, Rino. Introdução à Teologia Fundamental. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2006. p. 142.