Os Sete Gozos de Nossa Senhora no Paraíso por São João Eudes

(“La infancia admirable de la Santísima Madre de Dios”

La Editorial Viscaina, Bilbao, 1935, pp. 112‑114.)

 

 

Todos conhecem os Sete Gozos de Nossa Senhora. De acordo com São João Eudes, existem também outros Sete Gozos principais, que Ela desfruta no Paraíso,600x800-nazare e que são:

O primeiro, o gozo que tem ao ver‑se tão elevada na glória e tão próxima do trono da Santíssima Trindade, que só Deus está acima dEla, e tudo que não é Deus está debaixo de seus pés;

O segundo, aquele que só pela sua virgindade possui uma coroa mais rica e mais preciosa do que todas as coroas dos habitantes do Céu;

O terceiro, por ser o segundo sol do paraíso, que enche de gozo so coros todos dos anjos e dos santos;

O quarto, porque todos os cidadãos da celestial Jerusalém louvam‑nA e honram‑nA incessantemente como a sua rainha e como a Mãe de seu Redentor;

O quinto, por haver‑Lhe Deus dado um poder absoluto no céu e na terra e sobre todas as criaturas;

O sexto, porque lhe deu um poder especial de bendizer, proteger e favorecer de todas as maneiras os que lhe têm particular devoção;

O sétimo, porque todos estes gozos, não diminuirão jamais, antes, sempre crescerão até o dia do juízo e serão eternos”.

La belleza favorece las buenas disposiciones de alma

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in www.cathedrale-reims.com

 

Paulo Francisco Martos

 

Uno de los mayores males del mundo actual es la depresión que, entre otras cosas produce tristeza. Y la difusión de lo feo es el caldo de cultivo apropiado para provocar tristeza, perjudicando así a una humanidad que tiende cada vez más para el desánimo y la depresión. Por el contrario, la belleza favorece las buenas disposiciones de alma, otorgando alegría y gusto de vivir. Los medievales – procurando siempre la belleza en sus modos de pensar, querer, sentir y actuar – eran alegres.

 

 

A las manifestaciones artísticas de la alegría, Bruyne llama de optimismo estético, que se expresa sobretodo en las catedrales. Ejemplo característico de esta alegría la encontramos en la escultura conocida como el “Ángel de la sonrisa”, colocada en la fachada de la catedral de Reims (Francia).

 

FRANCISCO MARTOS, Paulo. Pedagogía de la belleza – Visión del universo: un modo de ser. Maestría en Ciencias de la Educación. Universidad Metropolitana de Asunción. Paraguay, 2009. p. 98.

Os Carismas

Mons. João Clá Dias, EP

espirito

Os carismas, “quer extraordinários quer simples, são graças do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo” (CIC, n. 799; 800).[1]

Por meio deles, o Povo de Deus participa do múnus profético de Cristo, através do Espírito Santo que santifica e conduz a Igreja. Ele não apenas se beneficia com as riquezas doadas pela magnificência de Deus, mas assume as responsabilidades inerentes a essa participação em proveito da Igreja, como ensina o Concílio Vaticano II:

A todos os fiéis incumbe, portanto, o glorioso encargo de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens em toda a terra. […] A recepção destes carismas, mesmo dos mais simples, confere a cada um dos fiéis o direito e o dever de atuar na Igreja e no mundo, para bem dos homens e a edificação da Igreja, na liberdade do Espírito Santo, que ‘sopra onde quer’ (Jo 3, 8) e, simultaneamente, em comunhão com os outros irmãos em Cristo, sobretudo com os próprios pastores (Apostolicam Actuositatem, n. 3).

 

Caberá, evidentemente, a critério superior das autoridades eclesiásticas fazer o julgamento sobre a autenticidade desses dons e ordenar seu exercício, provando-os e ficando com aqueles que sejam bons (cf. LG 12; 1 Tes 5, 12), pois o próprio Espírito submeteu à autoridade dos Apóstolos até os carismáticos (LG 7; 1 Cor 14). A esse propósito, assim se exprimiu João Paulo II:

Como conservar e garantir a autenticidade do carisma? É fundamental, a respeito disso, que cada movimento se submeta ao discernimento da autoridade eclesiástica competente. Por essa razão, nenhum carisma dispensa da reverência e da submissão aos Pastores da Igreja.[2]

 

Cumpridas essas condições, os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento e generosidade, não só por quem os recebe, mas também por todos os membros do Corpo Místico de Cristo. E se, por um lado, cabe aos pastores discernir a autenticidade divina desses dons e carismas, compete-lhes, por outro lado, zelar especialmente para não se extinguir a ação do Espírito, buscando a cooperação de todos em sua diversidade e complementaridade (cf. LG 12).[3]

Tais carismas, que manifestam a presença atuante do Espírito Santo, não são atributos de funções eclesiásticas particulares — segundo George e Grelot (1966, p. 120) — mas podem encontrar-se em qualquer batizado, seja qual for seu ministério ou função na Igreja. São concedidos com o objetivo de dar o poder e a graça para corresponder à própria vocação e ser útil à comunidade, a fim de que seja edificado o Corpo de Cristo.

 

CLÁ DIAS, João. Os novos movimentos: Quando espírito e jurisprudência se encontram…

 in: LUMEN VERITATIS. São Paulo: Associação Colégio Arautos do Evangelho. n. 6, jan-mar 2009. p. 11-13.


[1] A esse respeito também interessa a afirmação de João Paulo II no discurso aos participantes do Congresso Mundial dos Movimentos, em 30 de maio de 1998: “Não esqueçais que cada carisma é dado para o bem comum, isto é, em benefício de toda a Igreja!”

[2] Discurso aos participantes do Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais, de João Paulo II, em 30 de maio de 1998. Disponível em: <www.vatican.va>. Acesso em: <15 maio 2008>.

[3] “Esses carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis à necessidades da Igreja. […] O juízo sobre a autenticidade e seu ordenado exercício compete aos que governam a Igreja. A eles, em especial, cabe não extinguir o Espírito, mas provar as coisas e ficar com o que é bom (cf. 1Tes 5, 12 e 19, 21)” (LG 12).

Riqueza simbológica nas igrejas

Adaptado da apostila composta pelo Pe. Marciano Gonçalves Siqueira (Belo Horizonte, 29/6/1976), baseado no livro “El por qué de todas las ceremonias de la Iglesia y sus misterios”.

 

int-BasilicaDiz Durando: “Os templos ou igrejas são símbolo ou figuras do corpo humano; e assim como este, em cada parte, representa um prodígio, uma maravilha de seu Criador, na igreja cada parte representa um prodígio, porque não há, nela coisa alguma em que não se inclua um profundíssimo mistério” (livro I, cap. I).

O alta mor é a cabeça, os laterais são os braços e suas mãos. O resto da igreja é o corpo. A igreja tem 4 dimensões: longitude, latitude, altitude e profundidade. Essas quatro dimensões simbolizam os quatro evangelistas. Também simbolizam as virtudes cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, e ainda a paciência, a caridade, a esperança e a humildade, virtudes que Deus muito aprecia.

Quem mandou edificar a igreja mais comprida do que larga foi o Papa São Clemente. A nave simboliza a caridade que se estende até o amor aos inimigos. A porta da igreja simboliza Nosso Senhor Jesus Cristo que disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Eu sou a porta… Ninguém se salvará se não entrar por esta porta. Esta também simboliza a obediência aos Mandamentos, que são a porta da vida eterna.

O assoalho simboliza a humildade, como também os pobres de espírito e os que desprezam o mundo, os que trabalham para a manutenção da Igreja, seus ministros e todos os fiéis que cuidam dela varrendo, tirando o pó dos altares, adornando as paredes etc. Porque todos estes são os assoalhos da igreja por sua humildade, devoção, amor e zelo.

As paredes e colunas da igreja simbolizam os apóstolos, evangelistas e doutores. Também simbolizam o belo exército dos inumeráveis mártires. O teto simboliza a caridade, porque assim como o teto cobre todo o edifício material, assim a caridade oculta e encobre tudo. São Paulo a considera a maior de todas as virtudes: “Nunc manent fides, spes et charitas; horum autem major charitas est”. O livro dos Provérbios diz que ela encobre uma multidão de pecados (cap. X). São Pedro diz o mesmo (1ª, cap IV). Ela abre a porta do Céu.

Os cravos, ferros, madeiras e vigas da igreja, simbolizam e significam os confessores, pregadores e serventes da igreja, porque eles “com sua união, zelo e caridade conservam o edifício da Igreja espiritual”, diz Titelman. As vigas simbolizam os religiosos, os varões virtuosos e justos, porque com sua vida exemplar a sustentam e conservam.

A arquitetura e beleza exterior da igreja simboliza os pregadores, porque “com sua doutrina e ensino, ilustram, adornam e embelezam a Igreja” (Durando). As janelas, quando nelas o Sol não bate, simbolizam o Evangelho puro, sem comentário. Quando nelas o Sol bate, simbolizam o Evangelho comentado.

campanA torre simboliza os Bispos e pregadores, porque são eles a torre que defende a Igreja militante com seu zelo e sua doutrina, e se faz a mesma Igreja torre inexpugnável por sua constância e fortaleza. O capitel da torre “representa a vida e o entendimento do Bispo”, diz Durando, porque o Bispo tem de que ser “irrepreensível”, diz São Paulo, escrevendo a Timóteo (cap. III). A torre está sob a cruz, denotando ser a casa e palácio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Antigamente era costume pôr um galo na torre, símbolo do prelado e do pregador. Em torno de uma vareta, girava para todos os lados quando o vento a tocava, simbolizando o Papa, o Bispo e o vigário que devem olhar para os quatro pontos cardeais do mundo, da diocese ou da paróquia, para verem de que lado o lobo (o demônio) vem para atacar as ovelhas do Senhor, e eles as defenderem.

A palavra sacristia vem de “sacris” e “todia”. É o lugar onde se guardam e conservam as vestimentas sagradas, todos os vasos e ornamentos necessários ao culto divino. Chama‑se “sacris” porque o sacerdote sai dela para celebrar, vestido com as vestimentas sagradas. Das sacristias houve figura na lei de Moisés. Nesta havia um lugar da vítima ou sacrifício e outro onde se guardavam as vestimentas do sumo sacerdote.

A sacristia simboliza “o ventre da Virgem Maria onde o Verbo Divino tomou a natureza humana (S. Paulo aos Filipenses, cap. IV, e Durando, livro I, cap. I, nº 43). O sacerdote saindo da sacristia paramentado publicamente, simboliza o Senhor nascendo de Maria Santíssima para remir a humanidade.

O relógio na igreja ou na torre simboliza o cuidado e diligência que os ministros devem ter nas orações das horas canônicas, fazendo‑o nas horas marcadas, como diz Durando (ubi supra, nº 15). Isto David simbolizou dizendo: “Sete vezes, Senhor, eu disse ou cantei vossos louvores” (Salmos C XVIII).

Também simboliza o cuidado que Maria Santíssima teve durante a vida com seu Divino Filho. Escutar o toque do relógio simboliza a brevidade da vida, a transitoriedade deste mundo e a inconstância de nosso ser, de um minuto a outro. O mesmo significado têm as cordas, rodas, movimento, e as outras partes que o compõem.

O púlpito tem sua origem no que Salomão, no Antigo Testamento, pôs no templo que ele edificou para o Senhor (2, Paralipomeno, cap. VI) na forma de um círculo, feito com metal, com o pé de coluna. O mesmo se lê em Esdras (II, cap. VIII), que fez um com escada de madeira, em que subia para falar ao povo publicamente, por ser o lugar mais alto. Na Lei Evangélica prosseguiu o costume de pregar de lugar mais elevado. Assim o Senhor ensinou subindo ao alto da montanha para pregar.

O púlpito simboliza a sabedoria; por isso se chama cátedra do Espírito Santo. Simboliza também a luz, por ser o lugar donde se declara e se explica o Evangelho. Durando diz que está em lugar mais alto por simbolizar “a vida dos perfeitos no exercício de suas virtudes” (ubi supra, nº 33). Está na nave principal da igreja, e no meio dela, para todos ouvirem igualmente a doutrina do Evangelho, pois não ignorar a doutrina é meio necessário para ir para o Céu.

Presbitério era, antigamente, o lugar em que os sacerdotes se juntavam para cantar o ofício divino. É a mesma coisa que coro. Hoje só se juntam com o Bispo, na Quinta Feira Santa, para a bênção dos santos óleos. No passado, em certos dias de festa, o Papa ia à basílica de São João de Latrão e, pondo‑se no presbitério como lugar próprio, dava grandes esmolas aos cardeais, clero, senado e ao povo romano, como consta que fizeram Bonifácio V, Eugênio I e Clemente III. Estas esmolas chamavam‑se donativos ou esmolas presbiteriais. Daqui veio a chamar‑se presbitério.

A credência é o lugar em que se põem os vasos sagrados necessários para a Missa. Antigamente havia um guarda ou zelador encarregado de evitar a aproximação de qualquer pessoa deste lugar privilegiado. Chamava‑se credenciário. Simboliza ter Nosso Senhor voluntarimente morrido para salvar a humanidade.

Os assentos na igreja têm sua origem no templo de Salomão, quando mandou fazer aquele reclinatório de ouro, diz Durando (livro I, nº 30). Na Lei Evangélica, começaram no tempo de São Clemente. Os assentos e reclinatórios simbolizam a Fé formada, embelezada pela caridade. Também simbolizam os justos e fiéis que estão adornados com a fé e a caridade.

Zelem os sacerdotes pelo silêncio nas igrejas. Desta falta de silêncio os sacerdotes darão contas estreitas a Deus. Exijam‑no, sem distinção de pessoas.

A Unção dos Enfermos pode apagar os pecados mortais e veniais?

uncao                Júlio Hayashi

A Unção dos Enfermos é um sacramento específico para a enfermidade e não para a morte. O rito da unção foi concebido e disposto, em suas leituras, orações para o restabelecimento da saúde do enfermo. Segundo a nova pastoral da Igreja, o sacramento da morte é o Viático.

Não obstante, é preciso não confundir a unção, situando-a no mesmo nível dos cuidados médicos prodigalizados ao enfermo – embora o sentido de cura que ela encerra não seja alheio nem aos esforços técnicos nem ao pessoal sanitário.

A luta pela saúde não esgota o sentido da unção. Ela é um sacramento de vida, mas, na doença, deve ajudar o enfermo a viver sua enfermidade no sentido de sua fé cristã e aceitar a morte, se a morte vier, igualmente com sentido cristão (Rito, Orientações).

O Vaticano II não tratou especificamente da unção, a não ser dentro de um contexto, na constituição dogmática sobre a Igreja:

“Pela Sagrada Unção dos Enfermos e oração dos Presbíteros, toda a Igreja        recomenda aos doentes ao Senhor que sofreu e foi glorificado, para aliviá-los e salvá-los… e exorta-os a unirem-se espontaneamente á Paixão e Morte de Cristo… assim contribuindo para o bem do povo de Deus” (Lúmen Gentium nº 11).

Aliviar e salvar é o mesmo que oferecer saúde e perdão.

O ritual, que absorve o espírito do Concílio e o esclarece, afirma: “Mesmo assim concede-lhe, quando necessário, o perdão dos pecados e a plenitude da penitência cristã (Rito nº 6).

O ministério da cura é um compromisso da Igreja com Jesus no combate vitorioso contra as potencias do mal.

A unção tem como finalidade salvar o homem total.

Comumente, à administração da unção precede o sacramento da Penitência.

A unção não só perdoa os pecados como ajuda o enfermo a se situar em atitude de conformidade com Jesus, segundo o conselho do apóstolo Paulo: “Tende em vós o mesmo sentimento de Jesus Cristo” (Fl 2,5)

Isto seria aceitar a vontade do Pai, como Jesus a aceitou, o que não é fácil, não o tendo sido mesmo para Jesus. O enfermo, diminuído em suas forças e em sua clarividência pela enfermidade, não percebe claramente como um pai pode permitir tal sofrimento para seu filho. É a tentação de desconfiança. A força de ver e aceitar isto vem ao enfermo pela graça especifica deste sacramento. Assim, ele pode vencer a tentação de rebeldia e desespero, configurando a si mesmo com Jesus, que também aceitou sua paixão e morte.

Em virtude da debilidade produzida pela enfermidade, o paciente está exposto ao perigo de ceder a outras tentações. A unção será um apoio para sua debilidade e lhe proporcionará a força para manter sua fidelidade ao Senhor até o momento derradeiro.

Não se trata, porém, apenas disso: o cristão não se pode situar apenas em postura negativa; deve passar a uma atitude positiva, de livre aceitação, de aceitação consciente e responsável e, por isso mesmo, meritória, da enfermidade e da morte, também assim configurando-se com Jesus.

Para dar este passo adiante e ganhar, na enfermidade e na morte, grandes méritos perante o Senhor, o enfermo terá o auxilio da unção, juntamente com a graça especifica deste sacramento.

Quando o paciente, como Jesus no Getsemani, entrega-se à vontade do Pai, sentirá a paz na luta pela vida.

Pela sua generosa entrega à vontade de Deus, o cristão converte-se à comunidade cristã num testemunho de fé.

Seus irmãos aprendem a valorizar a vida em sua dimensão de passagem e preparação para a outra.

A Unção dos Enfermos é o sacramento da vida, é um sinal de esperança, apontando para o futuro, para a entrada no reino e para o encontro com o Pai.

A Unção dos Enfermos pode apagar os pecados mortais e veniais?

Padre Antonio Royo Marin (1994,p.510-511) dá a resposta no livro Teologia Moral para Seculares II, tratando sobre os Sacramentos:

“Perdoa os pecados mortais e veniais, se os há. “Posto que o dito fortalecimento é produzido pela graça, que é incompatível com o pecado; conseqüentemente, quando há algum pecado mortal ou venial, o  apaga quanto à culpa, desde   que a pessoa não se ponha obstáculo naquele que o recebe, como já dissemos, tratando da eucaristia e  confirmação. Por esse motivo, Santiago fala condicionalmente da remissão do pecado, afirmando que, “se tivesse pecados, lhe serão perdoados” quanto à culpa. No entanto, nem sempre apaga o  pecado, porque nem sempre encontra no sujeito; o que sempre se  tira é a citada debilidade, que alguns chamam  “resíduos do pecado”.

Em resumo: devemos afirmar que o efeito principal deste sacramento é   apagar os resíduos dos  pecados, e secundariamente, também a culpa, se existe, na alma.

   Como já explicamos em seu lugar correspondente, o sacramento dos vivos deve ser recebido em estado de graça, sob pena de sacrilégio. Assim, se um pecador recebe de boa fé (ou seja, sem dar conta de que se está em pecado mortal), tendo atrição sobrenatural de seus pecados, o sacramento dos vivos infunde a graça como se  tratasse de um sacramento dos mortos. Tal é, cabalmente, o caso da extrema unção.” (Antonio Royo Marin – Teologia Moral para Seglares II – Los Sacramentos – Biblioteca de Autores Cristianos, Madri 1994 – nov/94, p. 510)

“Pergunta:  o sacramento da extrema-unção dispõe a pessoa  para a entrada imediata na gloria dos céus?

Assim crêem alguns autores que citam a seu favor vários Santos Padres, muitos teólogos (entre os quais, São Alberto Magno, Santo Tomás, São Boaventura, Escoto, Suarez, Gonet, São Afonso Ligorio, etc), varias fórmulas litúrgicas antiqüíssimas, a doutrina da Igreja oriental e incluindo as citações do mesmo Concilio de Trento. Contudo, é questão obscura e duvidosa, que está muito longe de poder afirmar com certeza. – Cf. Cappello, De extrema unctione n. 135-149, donde se defende  com intrepidez a sentença afirmativa. Mais adiante adverte com prudência que nem sempre consegue libertar-se do purgatório aquele que recebeu a extrema-unção, senão unicamente quando obtém o pleno fruto do sacramento, o qual depende de sua intima disposição (ibid, n. 168)”  ( Marin – 1994 – nov/94 , p. 511)

No Catecismo  Romano  do  Padre  Valdomiro  Pires  Martins    ainda os seguintes comentários a respeito do mesmo assunto: 

“Perdão dos pecados – Ensinem, pois, os pastores que a graça, conferida pelo Sacramento, apaga os pecados, principalmente os mais leves, os que se conhecem pela designação comum de veniais; as faltas mortais são eliminadas pelo Sacramento da Penitência. A Extrema-Unção não foi instituída com o fito primordial de extinguir pecados graves; somente o Batismo e a Penitência é que o fazem, em virtude de sua propria finalidade. Acidentalmente, a Extrema-Unção confere a graça primeira, quando já não é possível a Confissão, contanto que haja contrição e o desejo de confessar-se, se fôra possível – CRO não realça um efeito importante da Extrema-Unção. Quando recebida em boas disposições, a Extrema-Unção extingue os castigos temporais do pecado; livra, portanto, do Purgatório.” (Catecismo Romano do Padre Valdomiro Pires Martins s , 1962 , p. 310).

HAYASHI, Júlio. O Sacramento da Unção dos Enfermos. Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Curso de Pós-Graduação em Teologia Tomista. São Paulo, 2007. p. 39-41.

“Catecismo” do escrupuloso

1) O escrúpulo é uma doença física e moral, que produz uma espécie de loucura na consciência da pessoa e lhe faz recear, por motivos fúteis, ter ofendido a Deus.

2) O escrúpulo não traz nenhuma vantagem para a pessoa.

3) Suas 4 principais desvantagens são:

– os escrúpulos desequilibram gradualmente o sistema nervoso;

– cegam o espírito e falseiam o juízo (julgamento das coisas);

– causam falta de devoção verdadeira, aumentando o egoísmo;

– desanimam a prática da virtude.

4) Quatro matérias sobre as quais costuma haver escrúpulos:

– tornar a confessar pecados passados;

– maus pensamentos contra a pureza;

– comunhão (dúvida se pode comungar ou não);

– orações (se rezou direito, se pronunciou errado, se “valeu” ou não).

5) Os escrúpulos provém:

a) de causas naturais: propensão para o desequilíbrio nervoso, tendência a depressão (“baixa”), falta de energia no organismo.

b) de causas morais: orgulho (desejar ser isento de pecados por amor-próprio), desobediência às orientações de um bom confessor, egoísmo, detalhismo, preguiça de consultar um bom diretor espiritual e de estudar a Doutrina Católica para formar a própria consciência, obstinação (achar que sua opinião é que vale, não dar atenção às orientações); deixar-se levar pelas impressões e não pela razão; falta de força de vontade.

c) de causas preternaturais: o demônio também pode estimular os escrúpulos, se assim lhe for mais fácil perturbar a pessoa.

d) de causas sobrenaturais: Deus permite que a pessoa fique escrupulosa e sofra com isso, para ajudá-la a querer combater as causas do escrúpulo: o orgulho, o egoísmo, a preguiça, etc.

6) Os graus dos escrúpulos são 3: leves; passageiros; graves ou persistentes.

7) A diferença entre a consciência delicada e a consciência escrupulosa está no ponto de partida: uma pessoa tem consciência delicada por amor de Deus; uma pessoa é escrupulosa por amor de si mesmo, por orgulho e egoísmo. A consciência delicada aceita as orientações. O escrupuloso não aceita, preferindo suas próprias idéias ou opiniões.

8) O único remédio prático para o escrúpulo é a obediência cega a um bom confessor/diretor espiritual. Note-se que não é o escrupuloso que vai julgar se o confessor é bom ou não. Ele deve basear-se na opinião geral de outros bons e autênticos católicos, que lhe indicarão qual confessor procurar.

9) O penitente será tratado por um bom confessor com bondade e firmeza. Ele lhe mostrará dedicação, paciência, mas será inflexível em exigir o cumprimento das orientações que der.

10) O princípio geral que deve nortear a consciência do escrupuloso é a evidência. Só há pecado mortal se é evidente que há pecado mortal, se a pessoa pode jurar por Deus que há pecado mortal. (Note-se que jurar sem ter certeza seria pecado mortal).

11) A freqüência das confissões do escrupuloso é determinada pelo confessor. Em geral, e se não há pecado mortal evidente, só uma vez por mês.

12) O escrupuloso não deve nunca examinar as confissões que fez, pois isso o precipita num círculo vicioso de novos escrúpulos. Deve guiar-se pelas orientações do bom confessor e ficar em paz..

13) O escrupuloso não deve julgar as determinações do (bom) confessor. Deve obedecê-las cegamente pois é o único remédio para ele se curar do escrúpulo. Relembre-se que ele também não deve julgar se o confessor é bom ou não (coisa muito freqüente nos escrupulosos) mas basear-se na opinião de outros bons católicos. E tratar de permanecer com o mesmo confessor, sem procurar outros que lhe permitam, por inadvertência, dar desenvolvimento a seus escrúpulos.

14) O escrupuloso nunca pode discordar ou discutir as determinações do bom confessor. Deve abrir-se com ele com sinceridade e obedecer-lhe em tudo. Se ele mandar comungar diariamente, comunga. Se mandar confessar só uma vez por mês, obedece, etc.

15) Para um pecado ser perdoado basta confessá-lo e receber a absolvição apenas uma vez, com as boas disposições habituais (verdadeiro arrependimento, declarando as condições agravantes e/ou que mudem a natureza do pecado, se houver, e com propósito de emenda).

16) Os pecados que devem ser confessados são:

– os pecados certamente mortais;

– os pecados certamente cometidos;

– os pecados certamente não confessados.

Se não houver uma dessas 3 condições, o escrupuloso, como regra geral, não deve confessá-los.

17) Quando está em dúvida, o escrupuloso pode e deve comungar (exceto se o confessor orientar o contrário).

18) Em dúvida (se cometeu pecado mortal ou não), o escrupuloso não deve confessar.

19) O “privilégio dos escrupulosos” consiste em fazer uma acusação dos pecados muito simplificada: “Acuso-me de todos os pecados cometidos desde a minha última confissão e de todos os da minha vida passada”[1]. O confessor saberá quando permitir ou mesmo exigir o uso desse privilégio. A decisão é exclusivamente do confessor. A Igreja o permite por misericórdia, para os casos em que o escrúpulo é muito intenso.

20) O objetivo do demônio ao estimular os escrúpulos é deformar a vida espiritual da pessoa, roubar-lhe a paz interior, desanimá-la, fazê-la desesperar da Salvação e acabar fazendo-a entregar-se aos vícios e pecados, “já que está perdida mesmo”. É por isso que muitos escrupulosos acabaram tornando-se depois pecadores desbragados.

21) O escrupuloso não deve fazer exame de consciência sobre matéria de escrúpulos. Por exemplo: não deve ficar pensando se consentiu ou não em tal mau pensamento, ou em tal mau olhar, porque vai se lembrar deles, e as más idéias voltarão a atormentá-lo.

22) O ponto sobre o qual o escrupuloso deve fazer exame de consciência é aquele que o bom confessor lhe indicar. Varia de pessoa para pessoa. Em geral, será sobre seu vício capital, que no caso do escrupuloso costuma ser o orgulho e/ou o egoísmo.

23) O escrupuloso tem escrúpulos sobre certas matérias e sobre outras não porque ele é escrupuloso por egoísmo. Por exemplo: ele fica preocupado se consentiu num mau pensamento, porque pode condenar a sua “alminha”. Mas pode não ter escrúpulos em desorganizar uma sala, porque não é ele quem vai ter de arrumá-la depois; ou pode não lhe pesar na consciência pegar mais alimentos para si em prejuízo de outros, e assim por diante.

24) O escrupuloso não tem noção clara sobre seu estado. Pode tender a negá-lo, ou pode tender a impacientar-se consigo mesmo e desanimar. Quanto às suas dúvidas, a única pessoa que pode lhe orientar com segurança é o seu diretor espiritual.

25) Conselho do Prof. Corrêa de Oliveira para o escrupuloso:

“Com o escrúpulo a gente faz como o homem puro em relação à mulher impura: não olha para ela, não lhe responde nada, interior e exteriormente faz como se ela não existisse”.       Ou seja, não dar nenhuma atenção aos pensamentos escrupulosos.

26) Tentação é a inclinação para cometer um pecado. Pecado é uma ofensa feita a Deus pela violação advertida e voluntária de Seus Mandamentos, ou dos da Sua Igreja.

27) Teoricamente, uma tentação pode ter duração indefinida sem se transformar em pecado, desde que a pessoa não dê pleno consentimento, não tenha plena advertência, nem deixe de tomar as providências necessárias para fazê-las cessar.

28) As 3 condições sem as quais não há pecado mortal são: 1) Matéria grave, 2) Plena advertência “pre-factum” (dar-se conta de que está sendo tentado para um pecado mortal, antes de cometê-lo), 3) Pleno consentimento (apesar de saber que é mortal, praticá-lo).

29) Sob tentação a pessoa deve:

Primeiramente rezar, pedindo graças para vencer à tentação, permanecer no estado de graça e na paz de espírito. Servir-se, com calma e discrição, de Água Benta, de uma relíquia ou de algum objeto bento. Praticar a oração mental, lembrando-se dos Novíssimos, do amor e dos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo por nós e de outros temas piedosos.

Em segundo lugar, afastar-se prontamente do que lhe provoca a tentação, por meio da distância física se for o caso, e da distância psíquica, ocupando a atenção com uma conversação, trabalho ou distração sadia e, se possível, santificante.

Em terceiro lugar, cessada a tentação, procurar conhecer-se melhor de modo a evitar que as circunstâncias que o levaram à tentação se repitam. Aqui se incluem o evitar com diligência as ocasiões próximas, o exame de consciência, a guarda do coração e o revigoramento da vida interior. É o que o Padre Tissot chamava de “a arte de utilizar as próprias faltas”.

30 – O principal remédio para os escrúpulos, tentações e demais problemas da vida espiritual é o amor de Deus, que na linguagem prática se traduz pelo entusiasmo com que a pessoa se entrega à admiração dos reflexos de Deus na Criação, e ao serviço de Deus através do serviço da Igreja, da Civilização Cristã, e do próximo em suas necessidades espirituais e materiais.

 

Bibliografia

Esta compilação foi baseada em fontes diversas, dentre elas: Ad. Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Edições do Apostolado da Imprensa, Porto, 1932. M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano, Lello e Irmão Editores, Porto, 1940. Padre Alonso Rodríguez, Ejercicio de Perfección y Virtudes Cristianas, Editorial Testimonio de Autores Catolicos Escogidos S.A., Madrid, 1985. Padre Joseph Tissot, A Arte de Aproveitar as Próprias Faltas, Quadrante, São Paulo, 1995.

[1] (Cfr. Ad. Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, item 949, d., cap V, pág. 598 da 2ª edição portuguesa, Porto, 1932)


Quereríamos que Deus fizesse tudo em nós, e nos desse a vitória sem que isso nos custasse nenhum esforço; erro pernicioso, pretensão injusta, causa comum do desânimo

desanimoDirá uma dessas almas que se queixam de não serem atendidas: Eu ficaria satisfeita se sentisse os efeitos dessa Providência misericordiosa: mas não vejo que Deus me torne mais fiel aos meus deveres.

Para esclarecer esta dificuldade, consultemos os princípios da Religião, que devem dirigir os nossos juízos; andemos à luz da Fé, que deve iluminar-nos; e vereis que, se não sois fiel aos vossos deveres, não é Deus que falta a vós, sois vós que faltais a Deus.

Consoante a Religião, Deus não faz sozinho o bem em nós. Ele vos criou sem vós, mas não quis salvar-vos sem vós. Quis que, pela escolha livre da vossa vontade, o preferísseis a tudo. Pôs, portanto, diante de vós o bem e o mal, a vida e a morte, e disse-vos: Tomai o que quiserdes. Para vos determinar ao bem, dá-vos mil luzes, que vos apresentam os motivos disto: o amor, a gratidão, a recompensa; excita em vós mil sentimentos que vos fazem amar esse bem, que vos afeiçoa a ele. Assim vos previne Ele por Suas graças: apresenta-vos o Seu socorro para vos ajudar na ação. Eis aí o que Deus vos prometeu e o que faz. Para corresponder a isso, bem longe de vos desviardes desses motivos, desses sentimentos (coisa que ordinariamente fazeis para não vos constrangerdes), deveis ocupar-vos deles, compenetrar-vos deles, aprofundá-los, e, dócil à voz do Espírito Santo, fazer-nos violência para seguir as suas inspirações, visto que sem isso não se faz o bem nem se chega ao Céu.

Pergunto-vos: teríeis motivo de vos queixar de um amigo que vos tivesse dado os conselhos mais seguros para vos fazer evitar uma desgraça, se não houvésseis querido escutá-lo pelo fato de vos custar algum incômodo o segui-lo? e não se diria, com razão, que nesse caso a vossa perdição só vem de vós mesmo?

Eis aqui o que vemos todos os dias. Uma alma teme a pena que experimenta em combater as suas inclinações: pede a Deus ser livrada dela; mas com a condição de que Deus faça tudo, e de que isso nada custe a ela. Pretende ela o milagre operado em S. Paulo. Ouvimo-la dizer: Se essa inclinação desagrada a Deus, por que então Ele não ma tira? Ele não é o Senhor? Por que não susta os sentimentos do meu coração? Ele transformou outros de chofre. Enquanto aguarda esse milagre, ela nada faz para seguir a voz de Deus e para se tornar melhor. Compreendeis que semelhante disposição não é própria para atrair sobre essa alma as misericórdias de Deus.

Quem quer servir a Deus sem fazer violência a si mesmo contradiz a palavra de Jesus Cristo. Quem só quer servi-lO sob condição de um milagre, disparata, e não merece ser escutado.

Outras pessoas não incidem nessa ridícula presunção: o que as detém na prática das virtudes é que elas ficam tão fortemente perturbadas com as suas penas, tão fortemente persuadidas de que, nesse estado, nada podem fazer de bem, que só pensam nisto: toda a sua ocupação interior gira em torno disto. Absorta nessa pena, a sua alma não sabe pedir a Deus nenhuma outra coisa senão o ser livrada dela. Elas não ousam apegar-se às luzes e aos bons sentimentos que Deus lhes dá, porque, não achando neles essas graças que elas pretendem a todo custo, que elas pedem com obstinação, receiam ser iludidas. Tornam, assim, inúteis as graças que recebem, ou pela sua desatenção ou pela sua resistência. Se aproveitassem delas, embora elas não sejam o objeto das suas preces, em breve alcançariam o que desejam, e o que não podem lisonjear-se de obter enquanto resistirem a Deus.

Estudemos os desígnios da Providência de Deus e a economia das suas graças, e veremos claramente a armadilha em que a tentação faz cair essas almas a quem o erro, junto à infidelidade, faz incidir no desânimo.

Obra póstuma do Padre J. Michel, S.J.; “Tratado do Desânimo nas vias da Piedade”, Popular de Formação Espiritual, vol XXIX, Editora Vozes, Petrópolis-RJ, 1952. Cap. XIII.

¿Quid est veritas?

Diác. Godofredo Salazar, EP

 Cuéntase que una vez estaba Santo Tomás de Aquino con los religiosos de su comunidad y estos, para gastarle una broma, comienzan a exclamar: Venid a ver un burro volando. Y esperaron con ansia para ver cómo reaccionaría su hermano de hábito. Éste, llevado de su espíritu observador, comenzó a mirar por todas partes sin divisar tal fenómeno, mientras los presentes estallan en carcajadas y le recriminan: Pero hombre de Dios, como puedes ser tan inocente. Tú que pareces conocerlo todo, deberías saber que es imposible que los burros vuelen. A lo que el “buey mudo”[1] respondió en tono serio: Entre que un burro vuele y que unos religiosos mientan, me parece más imposible lo segundo que lo primero[2]

jesus-e-condenadoEsta sencilla anécdota nos abre las puertas para tejer una serie de consideraciones acerca de un tema apasionante: ¿Qué es la verdad? Es la pregunta cargada de ironía que hará Poncio Pilatos, delante de Aquél que afirmó de Sí mismo: Yo doy testimonio de la verdad, y para esto he nacido y he venido al mundo. Todo el que está del lado de la verdad escucha mi voz.[3]

Pues si consideramos con detenimiento, es ese el problema más elemental que todo ser humano se plantea en lo más íntimo de su ser. En todo momento, en todo lo que observa o escucha, en todo lo que piensa o siente, es llevado por un propensión, un deseo o una inclinación de buscar una certeza, una verdad en que fundarse. Es el famoso porqué” de los niños que quieren saberlo todo; y que, en su inocencia aún no mancillada, se llenan de estupor y admiración delante de un mundo nuevo que ofrece a sus mentes ansiosas de conocer, una infinitud de interrogantes. En esta materia nuestros amables lectores, principalmente papás y mamás, pero también tíos, hermanos, abuelos, maestros y tantos otros que se relacionan con estos “pequeños preguntones” han atesorado una vasta experiencia.

  Y ¿qué es, pues, la verdad?  Es la misma pregunta que muchos hoy en día se hacen. Y también son muchos los intentos de respuesta que existen. Se acostumbra decir que la verdad es la conformidad entre lo que se piensa o se cree y la realidad. Así lo ha entendido fundamentalmente la filosofía, desde Aristóteles, para quien la verdad consiste en afirmar lo que es y en negar lo que no es, y la Escolástica que la define como la adecuación entre las cosas y el entendimiento: veritas est adaequatio rei et intellectus.[4]

Por su parte, con su estilo tan característico, Santa Teresa de Jesús define la verdad como unida necesariamente a la humildad. Escuchemos lo que la ella misma escribe en su famoso libro de Las Moradas o Castillo interior[5] acerca de la verdad y su estrecha afinidad con la virtud que sirve de fundamento a todas las demás:

También acaece ansí muy de presto, y de manera que no se puede decir, mostrar Dios en sí mesmo una verdad, que parece deja escurecidas todas las que hay en las criaturas, y muy claro dado a entender, que Él solo es verdad, que no puede mentir; y dase bien a entender lo que dice David en un Salmo, que todo hombre es mentiroso, lo que no se entendiera jamás ansí anque muchas veces se oyera; es verdad que no puede faltar. Acuérdaseme de Pilatos, lo mucho que preguntaba a nuestro Señor, cuando en su Pasión le dijo qué era verdad, y lo poco que entendemos acá de esta suma verdad. Yo quisiera poder dar más a entender en este caso, mas no se puede decir.

Saquemos de aquí, hermanas, que para conformarnos con nuestro Dios y Esposo en algo, será bien que estudiemos siempre mucho de andar en esta verdad. No digo sólo que no digamos mentira, que en eso, gloria a Dios, ya veo que traéis gran cuenta en estas casas con no decirla por ninguna cosa, sino que andemos en verdad adelante de Dios y de las gentes, de cuantas maneras pudiéramos; en especial no quiriendo nos tengan por mejores de lo que somos, y en nuestras obras dando a Dios lo que es suyo, y a nosotras lo que es nuestro, y procurando sacar en todo la verdad, y ansí ternemos en poco este mundo, que es todo mentira y falsedad, y como tal no es durable. Una vez estaba yo considerando por qué razón era nuestro Señor tan amigo de esta virtud de la humildad, y púsoseme delante, a mi parecer sin considerarlo, sino de presto, esto: que es porque Dios es suma verdad, y la humildad es andar en verdad, que lo es muy grande no tener cosa buena de nosotros, sino la miseria y ser nada; y quien esto no entiende, anda en mentira. A quien más lo entiende agrada más a la suma verdad,  porque anda en ella. Plega a Dios, hermanas, nos haga merced de no salir jamás de este propio conocimiento. Amén.

 

Aquí nos enseña la insigne mística de Ávila la actitud que la criatura humana debe asumir delante de su Dios y Creador, reconociendo su soberanía y omnipotencia. Lo que implica, además, reconocer en nosotros –y en los otros– las cualidades, virtudes o dones que el Creador haya otorgado en su infinita misericordia, al tiempo que reconocemos nuestros pecados, defectos y errores, los cuales debemos no solo detestar sino sobre todo enmendar.

Es célebre esta afirmación del Aquinate: Omne verum, a quocumque dicatur, a Spiritu Santo est [6] con la cual nos quiere enseñar que aquellas verdades alcanzadas por la razón -en cuanto sean ontológicamente verdaderas- provienen de Dios, que siendo la Suma Verdad no se contradice a Sí mismo. Este infatigable anhelo por la verdad le mereció al Doctor Angélico el reconocimiento de los Sumos Pontífices, es de destacar el del Papa Pablo VI[7]:

Tal afán de buscar la verdad, entregándose a ella sin escatimar ningún esfuerzo -afán que Santo Tomás consideró misión específica de toda su vida y que cumplió egregiamente con su magisterio y con sus escritos- hace que pueda llamársele con todo derecho “apóstol de la verdad y que pueda proponerse como ejemplo a todos los que desempeñan la función de enseñar. Pero brilla también ante nuestros ojos como modelo admirable de erudito cristiano que, para captar las nuevas inquietudes y responder a las exigencias nuevas del progreso cultural, no siente la necesidad de salir fuera del cauce de la fe, de la tradición y del Magisterio, que le proporcionan las riquezas del pasado y el sello de la verdad divina.


[1] Así apodaron sus compañeros al joven Tomás cuando era estudiante porque  seguía las lecciones con extrema atención y calma, sin pronunciar palabra, además de que se caracterizaba por ser grande y corpulento. Cierta vez, su maestro San Alberto Magno, sabedor de este mote, profetiza al respecto de su alumno: Algún día los mugidos de este buey se escucharán en el mundo entero. (Cfr. Louis de Wohl. La luz apacible. Ediciones Palabra, Madrid: 2001, p. 208)

[2] Cfr. Pablo da Silveira. Historias de filósofos. Buenos Aires: Ed. Alfaguara, 1997, p. 88.

[3] Jn. 18, 37

[4] cf. De Veritate q. 1a. 1; Summa Theologica I, q. 16, a. 2 ad 2

[5] Sexta morada, cap. X

 

[6] Toda verdad, quienquiera que la diga, procede del Espíritu Santo. (Sum. Theol., I-II, q. 109, a. 1 ad 1.)

[7] Carta Apostólica Lumen Ecclesiae N°10 (20 de noviembre de 1974) con motivo del VII centenario de la muerte de Santo Tomás de Aquino